sábado, 24 de maio de 2025

A IMPOSTURA DO JUDAICO-CRISTIANISMO

Foi agora publicado por Sophie Bessis, historiadora franco-tunisina e professora da Sorbonne e do INALCO, o ensaio La Civilisation Judéo-Chrétienne - Anatomie d'une imposture, em que se reflecte sobre a criação desta expressão. Tomei conhecimento da edição do livro pela notável recensão crítica efectuada em "Le Nouvel Obs".

Começa a autora por se interrogar pelo facto do binómio "judaico-cristão", que se encontra generalizado, não suscitar qualquer curiosidade. Dada a sua popularidade, o termo banalizou-se. Mas nem sempre foi assim, embora os homens políticos hoje o utilizem ad nauseam para justificar as suas acções. Todos falam das "raízes judaico-cristãs" da Europa, qualquer que seja o tema de referência, mas, fora das fronteiras que o Ocidente se atribuiu, não há traços desta expressão: nem na América Central e do Sul, nem na África central e austral, onde o cristianismo é dominante. «Même dans les sectes évangélistes africaines qui ont enrôlé des millions de fidèles et pour lesquelles la Bible est un texte divin à prendre á la lettre, le terme n'apparaît guère. L'Occident l'a donc réservé à son usage exclusif.» (p. 11) Este extraordinário achado semântico e ideológico é uma das operações do nosso tempo que se pode incluir na categoria das "verdades alternativas". «C'est pourquoi il est nécessaire de la déconstruire [a expressão], en un temps où elle est devenue une arme redoutable aux mains d'extrêmes droites cherchant à devenir hégémoniques des deux côtés de l'Atlantique, en Europe occidentale comme en Amérique du Nord, et désormais en Israël où un Benyamin Netanyahou s'en est servi pour se poser en défenseur de la civilisation judéo-chrétiennne contre la barbarie musulmane.» (p. 12)

Refere a autora que nos seus tempos de liceu a civilização europeia era greco-latina e estavam esquecidos os que, como Champollion, afirmavam que "as artes começaram na Grécia por uma imitação servil das artes do Egipto". Sophie Bessis recorda o nazismo e o judeocídio que foi perpetrado na Europa com a cumplicidade activa ou a indiferença da maior parte dos Estados. Até esse monstruoso paroxismo do ódio ao judeu, o anti-semitismo não chocava senão uma minoria das opiniões europeias maioritariamente educadas no "habitus" cultural anti-judaico. Traduzo agora da página 16 e seguintes: «Se quiser datar-se - com uma precisão relativa - o começo de um reconhecimento da especificidade do facto genocidário em relação aos judeus, e por consequência o começo da formação de uma culpabilidade ou pelo menos de uma responsabilidade colectiva dos europeus, é ao processo de Adolf Eichmann em 1962 que importa recuar. A partir desse momento, o judeocídio que toda a gente concorda desde então em chamar Shoah, termo imposto desde 1985 pelo filme de Claude Lanzmann, tomou progressivamente um lugar central nas memórias colectivas e nas narrativas públicas ocidentais. Esta omnipresença, seguindo-se ao silêncio, substituiu no Ocidente o anti-semitismo por uma judeofilia oficial que dita em parte aos dirigentes a sua política e que parece ser um espelho inquietante. Foi na viragem dos anos 1980 que o termo judaico-cristão se tornou de uso corrente até tomar as proporções que hoje se conhecem. [...] O facto de os judeus se terem tornado europeus não implicava ainda que o judaísmo e/ou a judeidade fossem erigidos como constituintes centrais da civilização europeia e mais largamente ocidental. [...] A partir da sua integração mais ou menos plena na cidadania dos seus respectivos países, os judeus não só se tornaram europeus de parte inteira, mas contribuíram numa parte essencial para a formação do pensamento europeu moderno. Em consequência, para esquecer o estigma da origem que os marcava, os judeus europeus e os seus intelectuais ignoraram os judeus do Oriente até os reduzirem á inexistência. [...] Vê-se assim a que ponto a viragem operada a partir dos anos 1980 representa uma ruptura no continuum ocidental da percepção do judeu. Se tinha sido progressivamente aceite como ocidental, foi necessária uma conjugação inédita de factores para que a sua contribuição  (cultural, religiosa? A sua natureza nunca foi definida na doxa contemporânea) fosse desde então considerada como fazendo parte integrante, indissolúvel, da civilização do Ocidente.»

Escreve a autora que «este "grand remplacement" da helenidade pelo judaico-cristianismo além de significar o advento espectacular do recurso contemporâneo ao registo religioso para qualificar qualquer acto de cultura, é o fruto de uma formidável ocultação, se se quiser considerar que este acasalamento permite lançar um véu sobre cerca de dois milénios de ódio anti-judaico e sobre a longa negação pela Igreja Católica da sua filiação abrahâmica. Todos podem concordar, com efeito, que nenhuma civilização poderia odiar ou rejeitar o que designa com perseverança como uma parte dela mesma. A instauração, e depois a sacralização, de uma identidade "judaico-cristã" permitiu encerrar sem qualquer outra forma de processo a longa sequência de anti-judaísmo cristão e de ocultar o facto de que a primeira alteridade contra a qual se construiu a Europa cristã foi a alteridade judaica.» (pp. 23-24)

No espaço que progressivamente se tornou o da cristandade ocidental e oriental, católica ou ortodoxa, ou mais tarde protestante, as perseguições começaram logo após o triunfo do cristianismo na Antiguidade tardia. Não cessaram durante a Idade Média e prosseguiram nos tempos modernos. Do 4º Concílio de Latrão de 1215  ao Código negro francês de 1685, passando pelo Édito de expulsão dos Reis católicos de 1492, os judeus foram objecto de discriminação: imposição de vestuário, interdição de empregos públicos, atribuição de ofícios "impuros", confinamento em locais fechados (os "ghetos"). A existência, durante este período, de judeus médicos, financeiros ou agentes de impostos, por vezes conselheiros dos príncipes, não faz esquecer a sorte da gente comum. Depois da Segunda Guerra Mundial, após a revelação da máquina de extermínio nazi, a Europa - e de uma maneira geral o Ocidente - teve de restaurar os "valores" que tinha instituído e de que era depositária. Foram implementadas e progressivamente postas em prática duas estratégias complementares: a primeira foi a criação do Estado de Israel e a defesa da sua política expansionista, até à defesa quase incondicional da colonização sistemática do que restava da Palestina depois de 1948. Era, e é ainda, preciso que Israel seja não apenas o herdeiro da vítima mas a própria vítima para toda a eternidade e tornado definitivamente inocente quaisquer que sejam as suas acções. A segunda estratégia consistiu em popularizar o termo judaico-cristão até fazer dele a base de toda a civilização ocidental. Todavia, esta nova identidade colectiva do Ocidente escamoteia o significado da revelação abrahâmica como primeiro enunciador cronológico da revelação monoteísta. Terminada a questão de filiação ou herança, o advento do "judaico-cristão" faz aparecer o Ocidente como o inventor único do universal. Já dizia o filósofo israelita Yeshayahu Leibovitz que "não se pode herdar de alguém que não está morto".

Esta construção identitária permitiu ao Ocidente ocultar uma parcela da sua história, o islão, o terceiro excluído da revelação abrahâmica. Fora de uma audiência limitada, ninguém se lembraria de incluir o islão na formulação judaico-cristã, embora em muitos aspectos ele esteja mais próximo do judaísmo que o próprio cristianismo. Basta recorrer ao Corão e verificar o número de referências à lei mosaica e ao cristianismo. 

Traduzindo: «No plano histórico, os eruditos não deixam de salientar que a Arábia do século VII fez parte integrante do mundo da Antiguidade tardia herdeira de Roma, ritmada pelas guerras entre persas e bizantinos, e terra de eleição das concorrências confessionais entre judeus, zoroastrianos, pagãos e cristãos das diversas igrejas da época. Longe de ser uma nova religião sem qualquer laço com as que a precederam, o islão situa-se numa evidente continuidade com as correntes espirituais do tempo do seu nascimento, enraizada numa cultura comum implicando afinidades profundas com diversas correntes do cristianismo e do judaísmo. Quanto ao Império muçulmano nascente depois da morte de Muhammad em 632, teve de gerir sem muita experiência os povos conquistados. Para isso, os primeiros califas e em seguida os omíadas e os abássidas foram buscar às civilizações que conheciam melhor (o direito bizantino e sassânida e o direito canónico cristão) a legislação que lhes permitiria administrar os seus novos territórios.» (pp. 35-36)

A autora enumera depois as influências da civilização islâmica no Ocidente, começando por citar Averróis (Ibn Ruchd), o grande filósofo andaluz. E todos os contributos do islão nas ciências, nas artes e nas letras. Não muitos escritores ocidentais se referiram  a essa importância, mas Goethe consagrou-a no seu Divan occidental-oriental.«Si l'on considère en effet les trois versions successives du monotéisme, on conviendra que leur premier rameau, le judaïsme, a formulé l'universel moral dont toutes se réclament mais qu'il est demeuré une religion tribale réservée au peuple que Dieu aurait élu. Il a eu un moment entre le 1er et le IIIe siècle mais il a vite été confiné ou s'est autoconfiné dans un habitus communautaire dont il n'est pas vraiment sorti. À l'inverse, le christianisme puis l'islam ont d'emblée affiché une prétension universelle, s'adressant à tous les hommes sans distinction d'appartenance.» (pp. 38-39)

No decorrer dos tempos existiu uma rivalidade entre os dois grandes messianismos, o cristão e o muçulmano, mas sobretudo no interior do campo religioso, nas duas margens do Mediterrâneo. Politicamente era diferente e nada impediu Francisco I de considerar (e de se aliar a) Carlos Quinto mais perigoso de que o sultão Solimão. Todavia, na margem sul a situação foi diferente. Apesar do secularismo de alguns pensadores do fim do século XIX, uma parte desse movimento, a Nahdha (renascimento, em árabe) defendeu o regresso às fontes do islão para se proteger do imperialismo europeu então em plena expansão. Abriu-se, assim, o abismo entre as sociedades do Norte, tornadas seculares, e as suas correspondentes do Sul, governadas pela lei divina, isto é, pelo direito positivo muçulmano. E tal fosso nunca foi negado, apesar do fascínio exercido pelo islão em numerosos literatos e mesmo homens políticos europeus. Esta expulsão do islão, acantonado numa inalterável alteridade, serviu também os propósitos colonialistas europeus, a que convinha considerá-lo inferior e sujeitá--lo a uma "tutela moral" do cristianismo, e entretanto expulso da vida política da Europa.

Encerrado o episódio colonial, abre-se uma outra relação islão-Ocidente a partir dos anos 1970. Traduzo: «A reconstrução da Europa ocidental depois de 1945 necessitava de braços. Foram importados das colónias ou dos países sob influência. A maioria desses imigrantes eram muçulmanos mas não tinham à chegada vocação para ficar. Mas ficaram, fizeram família e tiveram filhos. O islão tornou-se desde há quarenta anos uma religião europeia ou melhor, e é esse o problema, uma religião instalada na Europa mas considerada por uma parte da sua população como ontologicamente estrangeira. País de imigração, os Estados Unidos não se preocuparam muito com o islão até ao fim do século XX, negociando mesmo, até à queda da União Soviética, alianças com os movimentos fundamentalistas aos quais os ligava uma comum cruzada anti-comunista. O espectacular atentado jihadista de 11 de Setembro de 2001 evidentemente mudou tudo. Os muçulmanos - de onde quer que viessem e qualquer que fosse a diversidade do seu percurso - seriam pois, dos dois lados do Atlântico, demasiado diferentes para se tornarem ocidentais, e  não poderiam, por isso, ser integrados, de alguma maneira, no habitus judaico-cristão que permanece específico do Ocidente.» (pp. 48-49)

«Au contraire du musulman, le communautarisme juif ne met pas la République em danger, arguent ses défenseurs. Il est indéniable que ni la violence physique ni les attentats ne font partie de la panoplie communautaire du judaïsme français - et occidental de façon générale - dont les segments les plus rigoristes composent avec leur environnement séculier. Mais ce communautarisme suppose dans bien des cas une double allégeance, à la France bien sûr, mais aussi à l'État d'Israël que ses institutions soutiennent inconditionnellement. Les pouvoirs publics ne voient à cela rien à redire, bien au contraire. Ainsi, en 2017, le président français a cru bom inviter le Premier ministre israélien à venir commémorer ave lui le 75e anniversaire de la rafle du Vel d'Hiv. Ce faisant, M. Macron a commis une erreur et une faute. En associant à un évènement purement français Benyamin Netanyahou, il a en effet signifié qu'Israël a vocation à intervenir dans toute question concernant les juifs et en a fait leur représantant légitime. Par la même, il a dénié aux juifs français leur qualité de Français à part entière en les assignant à une double identité. C'est là un vieil invariant de l'antisémitisme: un juif n'est jamais vraiment un Français ou un ressortissant de n'importe quelle nationalité, il est d'abord et parfois seulement un juif.» (pp. 52-53)

Escreve Sophie Bessis e eu traduzo: «A utilização sistemática da expressão, por necessidade da argumentação nacionalista na luta contra Israel pelo mundo árabe e mais largamente pelo arco árabe-turco-iraniano, contribuiu grandemente para alargar o seu uso. A conspiração judaico-cristã, de que a criação do Estado hebraico - corpo estranho instalado à força no coração do Dar al-Islam - seria a ilustração mais escandalosa, tornou-se um elemento central do discurso anti-ocidental da região.» (pp. 57-58)

«À ocidentalização do "judaico-cristianismo" respondeu a sua diabolização por um islão acorrentado nas suas especificidades, recusando reconhecer-se em um universal no qual poderia contudo reivindicar legitimamente a sua filiação. Os nacionalistas árabes e os islamistas viram nesta expressão um instrumento de que poderiam servir-se para se insurgir contra as intervenções imperialistas numa região que suscitou, desde pelos menos o fim do século XVIII, os apetites ocidentais. É verdade que a existência de longa data na Europa como nos Estados Unidos de um sionismo cristão, cujo poder não cessou de de se afirmar desde o último terço do século XX, forneceu argumentos aos defensores da existência de uma conspiração judaico-cristã destinada a enfraquecer o mundo árabo-muçulmano. Contrariamente ao que habitualmente se crê, este sionismo particular é muito anterior ao sionismo judaico nascido no fim do século XIX na sequência do processo Dreyfus e dos pogroms anti-judaicos perpetrados na Zona de residência. Desde o século XVII, os emigrantes britânicos que acostaram - com a Bíblia numa mão e a espingarda na outra - às margens da América do Norte, identificaram-se com o povo de Israel fugindo do Faraó, já que deixavam a Inglaterra onde as seitas protestantes a que pertenciam eram energicamente reprimidas. Esta proximidade mítica deu lugar à corrente dos partidários da "restauração" do povo judaico na terra de Israel que desempenhou um papel político activo no século XIX na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, até ocupar postos eminentes no seio dos aparelhos dirigentes desses Estados. Lord Balfour, autor da famosa declaração de 1917, abrindo a porta à criação de um lar judaico na Palestina, declarava ser "sionista"» (pp. 58-59-60)

Os defensores do "regresso a Sião" não podem ser considerados anti-semitas pois faziam uma interpretação literal das Escrituras segundo a qual só a reinstalação dos judeus na Terra Santa e a sua conversão ao cristianismo permitiria a segunda vinda de Jesus à terra. Mais prosaicamente, a vontade de Balfour em facilitar a colonização judaica da Palestina devia-se ao facto de tentar limitar a imigração judaica no seu próprio país. Segundo Theodor Herzl, os anti-semitas eram os melhores aliados da empresa sionista. 

«La désignation du judéo-chrétien comme fait de culture exclusivement occidental a permis d'y ensevelir le judéo-arabe et le judéo-musulman, de censurer l'existence historique du judaïsme oriental et de tenter d'en effacer les traces de mémoires colectives. Pourtant, et jusqu'à l'époque coloniale, juifs et musulmans ont cohabité en terre d'islam de façon autrement moins violente que dans la chrétienté. Certes, de même que les chrétiens, Ahl al-Kitab (as gentes do Livro) tous les deux, les juifs y furent soumis à des législations discriminatoires en des temps où les notions de citoyenneté et d'égalité n'existaient nulle part sur la planète et où l'inégalité des statuts était partout la règle. Et dans la vaste Dar al-Islam les épisodes de violence antijuive sont loin d'avoir été inexistants.» (pp. 62-63)

«Ainsi, puisque l'Occident est judéo-chrétien, l'Orient arabo-turco-iranien se doit d'être son inverse. Certes le christianisme n'a pas disparu du monde arabe. Car, contrairement au faible poids démographique des juifs, les minorités chrétiennes étaient numériquement trop importantes pour être traitées de la même manière.» (p. 67) Muitos intelectuais cristãos foram dos mais emblemáticos ideólogos do nacionalismo árabe, considerado mais inclusivo para eles do que a Umma muçulmana à qual não podiam, evidentemente, pertencer. O mundo judaico manteve-se à parte e a partir do século XIX ingressou na modernidade europeia e repudiou a sua parte oriental. «Déjà, Theodor Herzl insistait dans L'État des Juifs sur le caractère exclusivement européen de l'entreprise sioniste qu'il qualifiait d'ailleurs sans réserve de projet colonial, écrivant entre autres dans son ouvrage: "Si Sa Majesté le Sultan consentait à nous donner la Palestine, nous pourrions nous charger de mettre en ordre les finances de la Turquie. Pour l'Europe, nous formerions là-bas un élément du mur contre l'Asie ainsi que l'avant-poste de la civilisation contre la barbarie.» (p. 69)

«À quelques rares exceptions près, le Yichouv d'abord puis, à partir de 1948, l'État d'Israël, se sont définis comme un fragment d'Occident implanté en Orient. La revendication sioniste du retour supposé des juifs sur leur terre ancestrale située au coeur de cette partie du monde n'a pas empêché ses théoriciens de récuser toute parenté avec les civilisations dont elle était porteuse.» (p. 70) 

Mas os imigrantes judeus, provenientes de Marrocos, do Yémen, do Iraque ou doutros lugares do Oriente não foram bem recebidos. «Ils furent ensuite parqués, le plus souvent contre leur gré, dans les villes nouvelles du Néguev que Ben Gourion fit bâtir par ces nouveaux arrivants pour sécuriser démographiquement les frontières de l'Ètat. Discriminés en matière d'enseignement où on les orientait vers les formations professionelles, relégués dans les emplois les moins valorisants, désignés péjorativement comme le "second Israël", ils étaient également perçus comme une menace car on les accusait de "levantiniser" Israël, danger pratiquement existenciel pour des élites se réclamant exclusivement de leur appartenance à l'Occident.» (p. 72)

«Ils parlaient en effet l'arabe et non le yiddish et, ignorant Chopin et Mahler, jouaient les mêmes musiques avec les mêmes instruments que ceux de l'ennemi arabe. [...] Haïssant ces Ashkénazes  socialistes et vertueux qui les accablaient de leur condescendence, ils votérent de plus en plus pour les droites identitaires et religieuses et, depuis la fin des années 1970, ils constituent le socle électoral d'une extrême droite qui n'a cessé de gagner en puissance.» (p. 72-73)

Com a chegada ao poder da extrema-direita supremacista, cujo ódio aos palestinianos e aos árabes em geral é o principal carburante, os dirigentes israelitas apropriaram-se sem reservas do judaico-cristianismo, de que se instituíram os defensores de primeira linha. «"Nous faisons partie de la culture européenne... L'Europe se termine en Israël", avait déjà affirmé en 2017 Benyamin Netanyahou à l'attention des dirigeants européens afin d'installer Israël en poste avancé de la civilisation judéo-chrétienne. Depuis le déclenchement de la guerre contre Gaza en Octobre 2023 et pour solliciter l'appui inconditionnel des états occidentaux dans son entreprise de destruction totale de l'enclave, il a érigé Israël en rempart de l'Occident: "Notre victoire c'est votre victoire! C'est la victoire de la civilisation judéo-chrétienne contre la barbarie. C'est la victoire de la France!", proclamait-il ainsi le 30 mai 2024 sur la chaine d'information française LCI dont il était invité.» (pp. 76-77) 

O texto já vai longo, por isso resumo alguns trechos do último capítulo.

A apropriação do conceito "judaico-cristianismo" é uma manifestação, sob outras formas, da crença absoluta na excepcionalidade do judeu. Durante séculos, a sua singularidade fomentou um anti-judaísmo alimentado pela construção cristã do povo deicida, e depois um anti-semitismo moderno que o delírio nazi tornou vergonhoso mas não fez desaparecer. O judeu serviu assim, para causas diversas, de eterno culpado cuja natureza dos crimes não cessou de evoluir mas cuja gravidade permaneceu intacta. «À partir du dernier quart du XXe siècle, cette culpabilité a progressivement cédé place à un philosémitisme qui a atteint son apogée après le massacre commis par le Hamas le 7 Octobre 2023 et que l'effroyable riposte du pouvoir israélien n'a pas entamé.» (p. 80) A defesa quase incondicional pela Europa e pela América do Norte de um poder israelita desde agora culpado das piores atrocidades em relação aos palestinianos, tem razões diversas, mas que se fundam na culpabilidade do Ocidente em relação ao judeocídio e na restauração da inocência ocidental. 

Mas muita gente recusa a confusão politicamente mantida entre o judeu e o israelita. Porque se Israel representa todos os judeus, estes tornam-se culpados dos crimes cometidos em seu nome. O facto de Israel deixar o papel de representante da vítima para desempenhar o de carrasco, apesar das tentativas dos seus dirigentes e dos seus apoios de assimilar toda a crítica à sua política de ódio anti-semita, pode considerar-se um verdadeiro um sismo. Deve ler-se o livro L'État d'Israël contre les juifs, du judeu francês Sylvain Cypel.

E a autora conclui: «Au fond, cet objet judéo-chrétien dont le contenu n'a jamais été exactement défini se caractérise par une plasticité autorisant toutes les utilisations. Trop commode pour trop de monde pour disparaïtre du paysage, servant depuis quelues décennies à occulter, à posséder et à exclure, il a certainement encore de beaux jours devant lui. Il servira à brouiller les pistes de réconciliation possibles et à empêcher de lire l'histoire, toute l'histoire, sans oeillères ni constructions idéologiques n'ayant pour but que de rendre inguérissables les fractures d'aujourd'hui. Cet essai de déconstruction que j'ai tenté d'entreprendre a l'inverse pour objectif, celui de retisser les liens rompus de toutes parts et de rêbatir du vivant et du réel à la place des exclusions mortifères que proposent à leurs peuples tous les entrepreneurs identitaires du Nord et du Sud réunis dans leur refus de l'autre, du complexe et du divers, c'est-à-dire dans le refus de toute paix possible.» (pp. 89-90)

quarta-feira, 21 de maio de 2025

AS CAUSAS DA DECADÊNCIA DOS POVOS PENINSULARES

A conferência "Causas da Decadência dos Povos Peninsulares nos Últimos Três Séculos", feita por Antero de Quental no Casino Lisbonense, situado no Largo da Abegoaria (hoje Largo Rafael Bordalo Pinheiro), em Lisboa, em 27 de Maio de 1871, é um dos textos sócio-políticos mais importantes do século XIX. Antero, de quem Eça de Queiroz disse ser um génio que era um santo, elaborou uma teoria famosa, ainda que certamente discutível, sobre a decadência ibérica, depois de um período brilhante que, em Portugal, ficou conhecido como a Época dos Descobrimentos.

Neste ensaio, o escritor apresenta três factores principais para o declínio dos povos peninsulares: a Contra-Reforma, a Centralização do Poder Político e a Estagnação Económica após as Descobertas.

Analisando o Concílio de Trento, Antero de Quental considera que o mesmo foi dominado pelos Jesuítas e reforçou o absolutismo do Papa, consagrando a estrita obediência a Roma - Perinde ac cadaver - em detrimento das igrejas nacionais; introduziu a obrigatoriedade da Confissão; confirmou com precisão o dogma da Eucaristia; tornou as ordens regulares independentes dos bispos diocesanos (colocando-as na dependência do Papa) e contribuiu para que em nome da expansão da Cristandade (citando que D. Sebastião vai morrer nos areais de África pela fé católica, que não pela nação portuguesa) se empreendessem guerras de conquista. Conclui Antero que os povos emergentes da Reforma, livres destes constrangimentos religiosos, adquiriram um desenvolvimento muito superior aos católicos latinos. 

Também a centralização do poder nas mãos do soberano absoluto, uma governação pela nobreza e para a nobreza, a alienação da burguesia ("a quem estava destinado o futuro", sic), a decadência da agricultura, o decréscimo da população, foram causas de decadência. Escreve Antero: «Mas a centralização do absolutismo, prostrando o povo, corrompia ao mesmo tempo o rei. D. João III, esse rei fanático e de ruim condição, Filipe II, o demónio do Meio-Dia, inquisidor e verdugo das nações, Filipe III, Carlos IV, João V, Afonso VI, devassos uns, outros desordeiros, outros ignorantes e vis, são bons exemplos da realeza absoluta, enfatuada até ao vício, até ao crime, do orgulho do próprio poder, possessa daquela loucura cesariana, com que a natureza faz expiar aos déspotas a desigualdade monstruosa, que os põe como que fora da humanidade.» (p. 284)

A estas razões acrescenta Antero como causa da nossa decadência as Conquistas, um poema brilhante do ponto de vista heróico, ninguém o duvida, mas um facto economicamente desastroso, que tornou a metrópole dependente das riquezas das colónias. A indústria e a agricultura estagnaram, só o comércio se manteve, travando-se assim o desenvolvimento nacional.

Antero não poupa D. João de Castro, e escreve: «A tradição, que nos apresenta D. João de Castro, depois duma campanha em África, retirando-se à sua quinta de Sintra, aonde se dava àquela estranha e nova agricultura de cortar as árvores de fruto, e plantar em lugar delas árvores silvestres, essa tradição deu-nos um perfeito símbolo do espírito guerreiro no seu desprezo pela indústria. Portugal, o Portugal das conquistas, é esse guerreiro altivo, nobre e fantástico, que voluntariamente arruína as suas propriedades, para maior glória do seu absurdo idealismo. E já que falei em D. João de Castro, direi que poucos livros têm feito tanto mal ao espírito português, como aquela biografia do herói escrita por Jacinto Freire. J. Freire, que era padre, que nunca vira a Índia, e que ignorava tão profundamente a política como a economia política, fez da vida e feitos de D. J. de Castro, não um estudo de ciência social, mas um discurso académico, literário e muito eloquente, seguramente, mas enfático, sem crítica, e animado por um falso ideal de glória à antiga, glória clássica, através do qual nos faz ver continuamente as acções do seu herói.» (pp. 290-291)

E mais adiante: «Como era possível, com as mãos cheias de sangue, e os corações cheios de orgulho, iniciar na civilização aqueles povos atrasados, unir por interesses e sentimentos os vencedores e os vencidos, cruzar as raças, e fundar assim, depois do domínio momentâneo da violência, o domínio verdadeiro e justo da superioridade moral e do progresso? As conquistas sobre as nações atrasadas, por via de regra, não são justas nem injustas. Justificam-nas ou condenam-nas os resultados, o uso que mais tarde se faz do domínio estabelecido pela força. As conquistas romanas são hoje justificadas pela filosofia da história, porque criaram uma civilização superior àquela de que viviam os povos conquistados. A conquista da Índia pelos Ingleses é justa, porque é civilizadora. [Seja-me permitido observar que, aqui, Antero estava completamente enganado] A conquista da Índia pelos Portugueses, da América pelos Espanhóis, foi injusta, porque não civilizou.» (p. 291)

«A ferocidade dos espanhóis na América é uma coisa sem nome, sem paralelo nos anais da bestialidade humana. Dois impérios florescentes desapareceram em menos de 60 anos! em menos de 60 anos são destruídos dez milhões de homens!» (p. 292)

«Há, com efeito,  nos actos condenáveis dos povos peninsulares, nos erros da sua política, e na decadência que os colheu, alguma coisa de fatal: é a lei da evolução histórica, que inflexível e impassivelmente tira as consequências dos princípios uma vez introduzidos na sociedade. Dado o catolicismo absoluto, era impossível que se lhe não seguisse, deduzindo-se dele, o absolutismo monárquico, com o seu cortejo de privilégios, de injustiças, com o predomínio das tendências guerreiras sobre as industriais. Os erros políticos e económicos saíam daqui naturalmente; e de tudo isto, pela transgressão das leis da vida social, saía naturalmente também a decadência sob todas as formas.» (pp. 292-293)

«E essas falsas condições sociais não produziram somente os efeitos que apontei. Produziram um outro, que por ser invisível e insensível, nem por isso deixa de ser o mais fatal. É o abatimento, a prostração do espírito nacional, pervertido e atrofiado por uns poucos de séculos da mais nociva educação.» (p. 293)

«Fomos os portugueses intolerantes e fanáticos dos séculos XVI, XVII e XVIII: somos agora os portugueses indiferentes do século XIX. Por outro lado, se o poder absoluto da monarquia acabou, persiste a inércia política das populações, a necessidade (e o gosto talvez) de que as governem, persiste a centralização e o militarismo, que anulam, que reduzem ao absurdo as liberdades constitucionais. Entre o senhor rei de então, e os senhores influentes de hoje, não há tão grande diferença: para o povo é sempre a mesma servidão. Éramos mandados, somos agora governados, os dois termos quase que se equivalem. (p. 293)

«Que é pois necessário para readquirirmos o nosso lugar na civilização? para entrarmos outra vez na comunhão da Europa culta? É necessário um esforço viril, um esforço supremo: quebrar resolutamente com o passado. Respeitemos a memória dos nossos avós: memoremos piedosamente os actos deles: mas não os imitemos.» (p. 294)

«Somos uma raça decaída por ter rejeitado o espírito moderno: regenerar-nos-emos abraçando francamente esse espírito. O seu nome é Revolução: revolução não quer dizer guerra, mas sim paz: não quer dizer licença, mas sim ordem, ordem verdadeira pela verdadeira liberdade.» (p. 295)

«Meus senhores: há 1800 anos apresentava o mundo romano um singular espectáculo. Uma sociedade gasta, que se aluía, mas que, no seu aluir-se, se debatia, lutava, perseguia, para conservar os seus privilégios, os seus preconceitos, os seus vícios, a sua podridão: ao lado dela, no meio dela, uma sociedade nova, embrionária, só rica de ideias, aspirações e justos sentimentos, sofrendo, padecendo, mas crescendo por entre os padecimentos. A ideia desse mundo novo impõe-se gradualmente ao mundo velho, converte-o, transforma-o: chega um dia em que o elimina. e a humanidade conta mais uma grande civilização. Chamou-se a isto o Cristianismo. Pois bem, meus senhores: o Cristianismo foi a Revolução do mundo antigo: a Revolução não é mais do que o Cristianismo do  mundo moderno.»  (pp. 295-296)

Esta análise pertinente de Antero resulta, é certo, um pouco enviesada, fruto das circunstâncias e de alguns preconceitos do autor, mas importa não ignorar a matéria de fundo. No século XIX Portugal era um país pobre... e continua a sê-lo. Com os Descobrimentos obteve-se riqueza, muita riqueza, que foi desperdiçada. Além de que a distância dos territórios conquistados e a sua manutenção significaram também para a Coroa um vultoso dispêndio.  

E os Portugueses continuam à espera, século e meio passados!

Esta Conferência de Antero de Quental é uma referência nas letras portuguesas.

Do ponto de vista histórico, o texto contém alguns erros e imprecisões que não alteram, todavia, a mensagem que o escritor nos pretendeu transmitir. 

 

sábado, 10 de maio de 2025

O D. SEBASTIÃO, DO CONDE DE SABUGOSA



Em 1912, o 5º Conde de Sabugosa,  António Maria Vasco de Melo Silva César e Meneses, publicou uma primeira versão de Donas de Tempos Idos, de que possuo uma edição revista pelo autor, no caso a 5ª , de 1974, já póstuma.

Trata o livro de várias figuras femininas da nossa história, mas consagra um capitulo a "El-Rei D. Sebastião e as mulheres". Prosseguindo a minha apreciação sobre as obras dedicadas a D. Sebastião, é agora a altura de falar desta incursão sebastianista do Conde de Sabugosa. 

O autor começa por comentar as opiniões daqueles que acham que o rei foi um Capitão de Deus e os que consideram que não passou de um tonto ambicioso. Para Sabugosa, ele será sempre o "Desejado" e o "Encoberto". 

Depois, Sabugosa escreve: «Um dos enigmas que mais despertou a atenção dos seus contemporâneos, e tem provocado a curiosidade dos investigadores, foi a sua capacidade de emoção amorosa.» (p. 208). E entende que não é exacto que D. Sebastião recusasse em absoluto o casamento e que tivesse tido mesmo algumas inclinações amorosas. Esta afirmação já é mais temerária.

A seguir, são elencadas as noivas que lhe foram destinadas, e que comentámos em posts anteriores. A primeira foi Margarida de Valois, a quem Filipe II opôs a infanta Isabel de Áustria, segunda filha do imperador Maximiliano. Mais tarde, Filipe veio a propor o casamento anteriormente contrariado mas D. Sebastião recusou. 

«Contava-se, até, que, havia anos, D. Leonor Coutinho e D. Francisca de Aragão, damas da Rainha D. Catarina, estranhando ao bisonho reizinho o seu afastamento da convivência com esta, ele, com ingenuidade de criança, confessara que o seu mestre lhe tinha aconselhado: "que não fosse ao quarto de sua avó, por amor das damas, que eram umas donas sinfainas que faziam perder os homens."» (p. 213)

Mas o casamento com aquela que viria a ser a Rainha Margot (mulher de Henrique de Navarra) não se concretizou. Escreve o autor: «Não deixa de ser curioso pensar como a mão do Destino esteve prestes a conduzir ao leito do casto Capitão de Deus, que fazia arco com os braços para que as damas o não abraçassem por modo de carinhoso agrado; que não consentia que alguém lhe vestisse a roupa branca, com receio de o verem nu; que não deixava entrar em casa os chocarreiros, porque cantavam chistes e cantigas pouco honestas; que mandara soltar das galés o marido de uma mulher moça que um dia, na rua, lhe pediu a liberdade do seu homem, porque, com a demora, corria perigo a sua honra: que (no dizer de D. João da Silva) cosa es averiguada no haver hecho El Rey prueva de si, ni intentarlo jamais, que si una dama le da la copa, busca como tomarla sin tocarle las manos: é curioso, repetimos, imaginar como o caso esteve para ligar este Rei à licenciosa Margot, de libertina e romanesca memória.» (pp. 215-216)

Das duas filhas do imperador Maximiliano, Ana viria a casar com o tio, entretanto viúvo, Filipe II e Isabel, a destinada a D. Sebastião, casaria afinal com Carlos IX, de França.

Sabugosa imagina depois o que teria sido a vida de D. Sebastião caso tivesse casado ou com Margarida de Valois ou com Isabel de Áustria. 

A derradeira tentativa, que o próprio D. Sebastião protagonizou, foi sua prima a infanta Isabel Clara Eugénia, filha de Filipe II. Mesmo assim, era, de certo modo, um negócio. O nosso rei casava, mas obtinha em troca, do tio, apoio par a jornada de África. A infanta andava pelos dez anos e Filipe adiou o casamento. Presumo que D. Sebastião não estava mesmo nada interessado e adorou a protelação. Depois foi, como sabemos, Alcácer Quibir. E Isabel Clara, muito estimada pelo pai, acabou por casar com o primo, o ex-Cardeal Arquiduque Alberto de Áustria, governador dos Países Baixos e que fora Vice-Rei de Portugal.

«Se às mulheres impressionava a figura do Rei, parece que também ele próprio sentiu, por vezes, a perturbante influência da mulher e que, se os sentidos o não dominavam, algumas inclinações amorosas, puramente cerebrais, indicam que não era indiferente à graça feminina.» (pp. 226-227)

Tenho pessoalmente as maiores dúvidas sobre esta afirmação do Conde de Sabugosa, que prossegue contando o episódio supostamente havido com D. Joana de Castro, filha de D. Diogo Forjaz Pereira, 4º Conde da Feira, que já referi em posts anteriores sobre D. Sebastião.

Também se falou de uma paixão por uma princesa moura, filha do Xerife, amores que datariam da primeira expedição a Tânger. O rei iria clandestinamente à Trafaria, num batel, para se encontrar com ela.

Há ainda o caso de um hipotético enleio com D. Juliana de Lencastre, filha do Duque de Aveiro, que favoreceria a aproximação, não julgando impossível (ele que era descendente de D. João II) colocar a filha no trono. Mas a Rainha D. Catarina contrariou frontalmente esses supostos amores e o Duque acabou por casar a filha com D. Álvaro de Lencastre, seu primo, irmão de D. Jorge, que esteve destinado a esse casamento. 

Termina o Conde de Sabugosa com uma alusão interessante. Das aventura amorosas de D. Sebastião só uma teve seguimento. Aquela de que foi heroína D. Ana de Áustria, filha de D. João de Áustria. Só que neste caso o D. Sebastião não era verdadeiro, era um dos falsos D. Sebastião, Gabriel Espinosa, o famoso Pasteleiro do Madrigal, que acabou enforcado e que também referimos em posts anteriores.