Em 1912, o 5º Conde de Sabugosa, António Maria Vasco de Melo Silva César e Meneses, publicou uma primeira versão de Donas de Tempos Idos, de que possuo uma edição revista pelo autor, no caso a 5ª , de 1974, já póstuma.
Trata o livro de várias figuras femininas da nossa história, mas consagra um capitulo a "El-Rei D. Sebastião e as mulheres". Prosseguindo a minha apreciação sobre as obras dedicadas a D. Sebastião, é agora a altura de falar desta incursão sebastianista do Conde de Sabugosa.
O autor começa por comentar as opiniões daqueles que acham que o rei foi um Capitão de Deus e os que consideram que não passou de um tonto ambicioso. Para Sabugosa, ele será sempre o "Desejado" e o "Encoberto".
Depois, Sabugosa escreve: «Um dos enigmas que mais despertou a atenção dos seus contemporâneos, e tem provocado a curiosidade dos investigadores, foi a sua capacidade de emoção amorosa.» (p. 208). E entende que não é exacto que D. Sebastião recusasse em absoluto o casamento e que tivesse tido mesmo algumas inclinações amorosas. Esta afirmação já é mais temerária.
A seguir, são elencadas as noivas que lhe foram destinadas, e que comentámos em posts anteriores. A primeira foi Margarida de Valois, a quem Filipe II opôs a infanta Isabel de Áustria, segunda filha do imperador Maximiliano. Mais tarde, Filipe veio a propor o casamento anteriormente contrariado mas D. Sebastião recusou.
«Contava-se, até, que, havia anos, D. Leonor Coutinho e D. Francisca de Aragão, damas da Rainha D. Catarina, estranhando ao bisonho reizinho o seu afastamento da convivência com esta, ele, com ingenuidade de criança, confessara que o seu mestre lhe tinha aconselhado: "que não fosse ao quarto de sua avó, por amor das damas, que eram umas donas sinfainas que faziam perder os homens."» (p. 213)
Mas o casamento com aquela que viria a ser a Rainha Margot (mulher de Henrique de Navarra) não se concretizou. Escreve o autor: «Não deixa de ser curioso pensar como a mão do Destino esteve prestes a conduzir ao leito do casto Capitão de Deus, que fazia arco com os braços para que as damas o não abraçassem por modo de carinhoso agrado; que não consentia que alguém lhe vestisse a roupa branca, com receio de o verem nu; que não deixava entrar em casa os chocarreiros, porque cantavam chistes e cantigas pouco honestas; que mandara soltar das galés o marido de uma mulher moça que um dia, na rua, lhe pediu a liberdade do seu homem, porque, com a demora, corria perigo a sua honra: que (no dizer de D. João da Silva) cosa es averiguada no haver hecho El Rey prueva de si, ni intentarlo jamais, que si una dama le da la copa, busca como tomarla sin tocarle las manos: é curioso, repetimos, imaginar como o caso esteve para ligar este Rei à licenciosa Margot, de libertina e romanesca memória.» (pp. 215-216)
Das duas filhas do imperador Maximiliano, Ana viria a casar com o tio, entretanto viúvo, Filipe II e Isabel, a destinada a D. Sebastião, casaria afinal com Carlos IX, de França.
Sabugosa imagina depois o que teria sido a vida de D. Sebastião caso tivesse casado ou com Margarida de Valois ou com Isabel de Áustria.
A derradeira tentativa, que o próprio D. Sebastião protagonizou, foi sua prima a infanta Isabel Clara Eugénia, filha de Filipe II. Mesmo assim, era, de certo modo, um negócio. O nosso rei casava, mas obtinha em troca, do tio, apoio par a jornada de África. A infanta andava pelos dez anos e Filipe adiou o casamento. Presumo que D. Sebastião não estava mesmo nada interessado e adorou a protelação. Depois foi, como sabemos, Alcácer Quibir. E Isabel Clara, muito estimada pelo pai, acabou por casar com o primo, o ex-Cardeal Arquiduque Alberto de Áustria, governador dos Países Baixos e que fora Vice-Rei de Portugal.
«Se às mulheres impressionava a figura do Rei, parece que também ele próprio sentiu, por vezes, a perturbante influência da mulher e que, se os sentidos o não dominavam, algumas inclinações amorosas, puramente cerebrais, indicam que não era indiferente à graça feminina.» (pp. 226-227)
Tenho pessoalmente as maiores dúvidas sobre esta afirmação do Conde de Sabugosa, que prossegue contando o episódio supostamente havido com D. Joana de Castro, filha de D. Diogo Forjaz Pereira, 4º Conde da Feira, que já referi em posts anteriores sobre D. Sebastião.
Também se falou de uma paixão por uma princesa moura, filha do Xerife, amores que datariam da primeira expedição a Tânger. O rei iria clandestinamente à Trafaria, num batel, para se encontrar com ela.
Há ainda o caso de um hipotético enleio com D. Juliana de Lencastre, filha do Duque de Aveiro, que favoreceria a aproximação, não julgando impossível (ele que era descendente de D. João II) colocar a filha no trono. Mas a Rainha D. Catarina contrariou frontalmente esses supostos amores e o Duque acabou por casar a filha com D. Álvaro de Lencastre, seu primo, irmão de D. Jorge, que esteve destinado a esse casamento.
Termina o Conde de Sabugosa com uma alusão interessante. Das aventura amorosas de D. Sebastião só uma teve seguimento. Aquela de que foi heroína D. Ana de Áustria, filha de D. João de Áustria. Só que neste caso o D. Sebastião não era verdadeiro, era um dos falsos D. Sebastião, Gabriel Espinosa, o famoso Pasteleiro do Madrigal, que acabou enforcado e que também referimos em posts anteriores.
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