quinta-feira, 15 de março de 2012

OTELO E A REVOLUÇÃO


Conforme se lê aqui, o coronel Otelo Saraiva de Carvalho afirmou ontem em Coimbra, numa palestra proferida no Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra, sobre o tema "As Forças Armadas na Defesa da República e da Democracia Portuguesa", que o problema da perda de soberania de Portugal, como a que actualmente se verifica, poderá passar por «uma operação militar que derrube o Governo que está» em funções.

Já em Novembro passado, como referimos neste post, Otelo aludira à necessidade de uma operação militar para derrubar o Governo,  caso fossem ultrapassados certos limites.

Não me parece que, neste momento, existam condições para levar a cabo em Portugal um golpe militar como o que ocorreu em 25 de Abril de 1974, embora se verifique uma discreta turbulência nas Forças Armadas. Antes julgo que a possibilidade de uma intervenção castrense dependerá mais da evolução da situação política e económica internacional do que propriamente da nossa situação económica e financeira, embora tal hipótese não deva ser descartada em absoluto.

Um golpe militar em Portugal terá mais probabilidades de acontecer caso se verifiquem alguns precedentes, designadamente no Mediterrâneo. Excluindo os países mediterrânicos árabes, onde a situação é ou instável, ou de incógnita, ou de confrontação aberta, temos dois países onde o primeiro-ministro demitiu há pouco tempo os altos comandos militares: a Turquia, primeiro e a Grécia, depois. Na Turquia, em Julho, Erdogan, apoiado numa maioria do seu Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), pretendeu pôr termo à influência "kemalista" das Forças Armadas; as chefias foram forçadas a demitir-se e muitos oficiais generais estão presos, o que não quer dizer exactamente uma diminuição do poder militar. Além disso, Erdogan está doente, e a sua eventual saída a curto prazo da cena política poderá significar uma alteração do actual percurso pró-islâmico do país e um regresso ao laicismo perfilhado por Atatürk. Também em Novembro, Papandreu, num dos momentos cruciais da crise que afecta a Grécia, demitiu o chefe do Estado-Maior General e os chefes dos três ramos das Forças Armadas.

Um agravar da situação nestes países, que conheceram na sua história recente vários golpes militares, poderá levar à tentação de uma nova assunção do poder político pela instituição castrense.

Governos militares em Ancara e Atenas e uma profunda crise em Espanha e Itália, constituiria uma sedução para as Forças Armadas destes países, que, também num passado recente, intervieram na vida política.

Caso se verificasse a hipótese, não tão absurda como à primeira vista poderá parecer, de governos militares em Espanha, Itália, Grécia e Turquia, ou só em alguns destes países, Portugal seguir-se-ia por arrastamento.

Como reagiriam então os outros estados europeus a esta eventualidade? Impossível de prever, até porque a evolução da situação nos países do norte de África e do Médio Oriente condicionará as opções.

Assim, creio que, neste campo, tudo está em aberto. O futuro próximo permitirá lançar algumas pistas. Portanto, aguardemos.

1 comentário:

Anónimo disse...

A hipótese colocada pelo autor pode muito bem verificar-se. Os turcos urbanos estão a ficar assustados com a influência do partido islâmico. Nomeadamente os turcos mais ocidentalizados de Istambul. Lembrem-se da questão do véu nas universidades. É certo que o partido de Erdogan tem uma confortável maioria, mas isso é sobretudo na província. Entre uma ditadura religiosa e uma militar os turcos mais evoluídos optarão por uma militar, já que os militares turcos são laicos, por definição. Disto não restem dúvidas.