domingo, 18 de março de 2012

A MORTE DO PAPA COPTA


O Papa Shenuda III, Patriarca Copta de Alexandria, morreu ontem aos 88 anos. Figura carismática, mas igualmente controversa, da Igreja Cristã Copta (Egípcia), a morte de Shenuda III ocorre num momento de grande tensão no país, política e religiosa, especialmente desde o ataque à igreja de Al-Qiddissine, em Alexandria, em 1 de Janeiro de 2011, que referimos aqui. A partir dessa data têm sido frequentes, e mortíferos, os conflitos entre cristãos (coptas) e muçulmanos, que eram relativamente raros no passado, vivendo ambas as comunidades em pacífica coexistência, como por várias vezes tive ocasião de verificar.

A recente maioria dos partidos islâmicos na assembleia constituinte do Egipto (os Irmãos Muçulmanos e o partido salafista Al-Nur obtiveram em conjunto 70% dos votos) constitui motivo de preocupação agravada para os coptas, que representam entre 10 % a 15 % da população egípcia.

O Egipto era um país cristão até à invasão árabe no século VII. Na ocasião, e ao longo dos séculos seguintes, muitos egípcios converteram-se ao islão, pressionados ou de livre vontade. Mas perdura ainda uma significativa percentagem que, num país com mais de 80 milhões de habitantes, deverá atingir os 10 milhões.

Os coptas (que na linguagem antiga significa egípcios) são muito ciosos dos seus (reduzidos) direitos políticos e sociais, que procuram defender intransigentemente. No tempo de Mubarak foram de algum modo protegidos pelo poder, mas no presente momento, em que o fundamentalismo islâmico surge á luz do dia, compete às Forças Armadas, que ainda detêm o poder de facto, garantir não só a liberdade (ameaçada) de culto, mas a segurança dos não-muçulmanos, em todos os seus aspectos.

No tempo de Nasser, tinha-se registado, já, um significativo êxodo de coptas para o estrangeiro. Mas Nasser era um muçulmano socialista mais ou menos laico. A situação agora é radicalmente diferente. Aguardemos, pois, pelo seu desenvolvimento.

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