sábado, 5 de março de 2011

ANTIGUIDADES EM CRISE


A revolução que eclodiu em 25 de Janeiro no Egipto não poupou o sector das Antiguidades. O arqueólogo Zahi Hawass, figura muito conhecida, e controversa, da egiptologia, que desde 2002 exercia as funções de secretário-geral do Supremo Conselho das Antiguidades Egípcias (com a categoria de vice-ministro da Cultura desde 2009)  e que na efémera remodelação ministerial de 31 de Janeiro, efectuada por Mubarak, quando nomeou Ahmed Shafiq como chefe do governo, fora promovido a ministro de Estado para as Antiguidades, declarou ontem que não integraria o governo do novo primeiro-ministro Essam Sharaf.

Shafiq, que era publicamente muito contestado por ter sido designado pelo ex-presidente Mubarak nas vésperas da sua queda, apresentou a sua resignação ao Conselho Supremo das Forças Armadas, que nomeou Sharaf em sua substituição.

Os actos de vandalismo e roubo que se verificaram no Museu do Cairo nos primeiros dias da revolução, e que se estenderam a diversos sítios arqueológicos egípcios, e cuja avaliação actual revela serem muito mais importantes e graves do que inicialmente anunciado, terão levado Hawass (figura, aliás, muito próxima da família Mubarak) a afastar-se do cargo. O polémico egiptólogo, em declarações à imprensa, afirmou não ter possibilidades de evitar a continuação da pilhagem de antiguidades no país, divulgando uma lista das peças roubadas ou danificadas e dos locais pilhados desde a queda de Hosni Mubarak. Acrescentou ainda que a polícia não tinha capacidade para impedir os ataques armados dos criminosos.

O presidente da Associação dos Comités Nacionais Blue Shield, Karl von Habsburg, cuja missão é a protecção das heranças culturais em zonas de conflito, manifestou-se hoje aterrado com a ideia de que a partida de Zawass signifique uma escalada de roubos sem precedente, quer de objectos do Egipto faraónico, quer das outras civilizações que floresceram no vale do Nilo. Entre as zonas atingidas pelos ladrões encontram-se as salas de depósito das escavações levadas a cabo junto à pirâmide de Dahshur, pelo Metropolitan Museum of Art, de Nova Iorque.

Zahi Hawass era muito crítico em relação ao Estado de Israel e declarou à televisão egípcia, em Abril de 2009, que «os judeus ainda que poucos controlam o mundo inteiro». Mais tarde esclareceu a sua posição, afirmando que não acreditava numa «conspiração judaica para o controle do mundo».

A preocupação demonstrada por Karl von Habsburg quanto à protecção e segurança das antiguidades egípcias está a provocar a maior inquietação entre os arqueólogos e homens de cultura de todo o mundo.

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