domingo, 17 de junho de 2012
AS ELEIÇÕES GREGAS
As eleições legislativas de hoje, na Grécia, segundo os dados mais recentes, com uma significativa abstenção de 38% dos eleitores, apesar da situação de crise em que o país se encontra mergulhado (o que traduz a desilusão definitiva de uma parcela importante dos cidadãos relativamente à política), registou os seguintes resultados: Nova Democracia: 29,7%; Syriza: 26,9 %; PASOK: 12,9%. Os outros partidos obtiveram resultados pouco significativos.
Com estes números, a Nova Democracia, de Antonio Samaras não poderá governar sozinha, apesar do bónus de 50 deputados que é atribuído (uma peculiaridade, ou uma excentricidade, grega) ao partido mais votado.
Afirmou o PASOK que deseja um governo de unidade nacional e que aceita uma coligação com a Nova Democracia, desde que o Syriza seja incluído, mas o Syriza já afirmou que permanecerá na oposição.
Havia grandes expectativas quanto a uma vitória do Syriza, pois ela permitiria testar as reacções internacionais, já que o Syriza, embora aceitasse pagar as dívidas contraídas pelo país, rejeitava a aplicação do memorandum da troika, exigindo novas condições para solver os compromissos gregos. Deixaram-no os eleitores 2 pontos abaixo da maioria obtida pela Nova Democracia. Aguardemos as consequências.
Estou certo que, face a estes resultados e à urgência de liquidez de que carece a Grécia, será encontrada uma solução rápida de governação, mesmo que seja uma solução coxa e provisória. Mas também não ignoro que os gregos não esquecem que foram a Nova Democracia e o PASOK que, alternando sucessivamente no governo, durante anos, conduziram o país à situação catastrófica em que se encontra. O Syriza representava, e continuará possivelmente a representar, uma alternativa à classe política que tem desgovernado o país. Mesmo sabendo-se das idiossincrasias da política grega, da influência das "famílias", de todas as famílias possíveis (e suas alianças) e do peso inacreditável que a Igreja Ortodoxa Grega tem no país, parece que o Syriza, classificado de extrema-esquerda mas que nada tem a ver com a extrema-esquerda tradicional que nos habituámos considerar, representaria uma lufada de ar fresco na sociedade helénica. A União Europeia e a Alemanha respiraram de alívio com o resultado das eleições de hoje; um suspiro todavia provisório, pois, como escrevi há dias, tudo continua em aberto.
Entre eleições, repetição de eleições, referendos, repetição de referendos, cimeiras, repetição de cimeiras, mini-cimeiras e encontros a dois, a três e a quatro, a crise permanece, pois já nada tem a ver com os pretextos invocados. Trata-se de uma crise não conjuntural, mas verdadeiramente estrutural, de um problema endémico da Zona Euro e da União Europeia, cujo dissolução será tão mais rápida quanto mais tarde demorar a aplicação de autênticas medidas de salvação continental.
Ouviremos amanhã em Atenas, em Bruxelas, em Berlim, certamente que também em Lisboa, discursos de circunstância. Nada adiantarão. Protelarão as verdadeiras soluções ou, hipótese não descartável, começar-se-ão a fazer as malas para uma viagem cujo destino se desconhece.
Os resultados das eleições de hoje na Grécia mais não fizeram que adiar uma hipótese de repensar o futuro.
Continua, pois, tudo em aberto.
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