General Loureiro dos Santos |
A propósito do seu novo livro Forças Armadas em Portugal, o general Loureiro dos Santos, que foi ministro da Defesa Nacional e chefe do Estado-Maior do Exército, concedeu duas importantes entrevistas à "Visão" e ao PÚBLICO.
Entre as muitas considerações que teceu, e cuja leitura se torna imperativa, afirma o general que o nosso grande objectivo estratégico é criar condições para sairmos da União Europeia quando isso nos for possível. Sem pretender fazer processos de intenção, julgo que Loureiro dos Santos pensa que a União é um cadáver adiado (que não procria) e que está destinada a uma próxima desagregação, como referi aqui. Considera ainda o general que a Alemanha não possui "espaço" para ter fronteiras defensáveis «e procura fazer com que as suas fronteiras sejam nas costas marítimas da Europa. Tentou isso duas vezes pelas armas sem o conseguir. Não digo que seja uma intenção deliberada, mas a crise das dívidas soberanas dá-lhe essa oportunidade. Se encontrar uma solução em que junte num bloco económico todos os países europeus (como é o país mais poderoso será sempre a voz mais importante) conseguiu salvaguardar o tal interesse permanente. Não pelas armas, mas em termos económicos. Não sei é se a maneira como está a agir lhe permitirá fazer isso. Sente-se que, em termos políticos, certos países europeus, os que lhe garantem as praias, estão a ficar zangados.»
Sobre a actuação do Governo, designadamente na pasta da Defesa, o general dá-lhe 10 (em 20), o que, convenhamos, é uma nota muito baixa após um ano de funções. Critica também severamente o ministro das Finanças, dizendo que os ministros são uma "caixa de correio" para Vítor Gaspar. «Para se fazer alguma coisa no Exército, o chefe de Estado (dos Estados Maiores, entenda-se) tem de propor ao ministro. Mas o ministro também não tem autonomia. Tem de pedir ao ministro das Finanças. O que é que acontece? Claro que não é o ministro das Finanças, é um funcionário de quinta ordem nas Finanças que vai decidir se uma determinada questão, que está autorizada e orçamentada, vai ser posta em execução pelo ministro da Defesa! É uma coisa que não lembra... Enfim, não digo mais nada para não dizer uma asneira! O ministro das Finanças não confia nos outros ministros...».
Conhecendo-se a ligação muito próxima entre o general Loureiro dos Santos e o general Ramalho Eanes, pode admitir-se que o primeiro, sem prejuízo da sua autonomia de pensamento, dê voz a algumas preocupações que Eanes não quer, não pode ou não deve agora manifestar.
É evidente o mal-estar que reina nas Forças Armadas, e isto não só por questões salariais. As Forças Armadas que são, por definição, a reserva moral da Nação, têm assistido com a maior perplexidade às decisões tomadas pelos gestores políticos nos últimos anos. Este clima não é exclusivo de Portugal, antes é uma constante na maior parte dos países europeus. Mas há que reconhecer que não sendo todos os militares um exemplo de cultura, inteligência e honestidade, é ainda na instituição castrense que se encontram os padrões mais elevados de sentido cívico, numa altura em que a Europa é governada por um bando de sicários, gente medíocre, ambiciosa, venal, que não hesita na adopção das mais torpes decisões, desde que elas satisfaçam os seus interesses imediatos.
Carece, assim, o país, e a Europa, de uma Regeneração, que será tanto mais dolorosa quanto mais tardar.
Concluiria com Fernando Pessoa, na Mensagem:
Ninguem sabe que coisa quere,
Ninguem conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ancia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
É a Hora!
Valete, Fratres.
2 comentários:
Um general sem papas na língua. Portugueses, apenas mais um esforço...
Aqui está um português de coluna vertical e sem os ademanes e mais servilismos dos apaniguados do poder.
Diz o que lhe vai na alma sem papas na língua. Numa altura em que nos debatemos com uma situação do mais crítico que temos vivido nos últimos tempos, sabe bem ouvir uma voz de alerta para toda esta situação podre.
Como diz e muito bem o autor do "post", somos governados pela gentalha mais reles, baixa, corrupta e ordinária que existe à face da Terra. Não podia estar mais de acordo, pois tenho a certeza que esse é também o sentimento de muitos, outros, milhares de portugueses.
Marquis
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