terça-feira, 12 de junho de 2012

ANTES LEVASSEM HOMENS

Valérie Trierweiler


Um tweet de Valérie Trierweiler, companheira do novo presidente, François Hollande, rebentou como uma bomba na cena política francesa. Nele manifestou Valérie o seu apoio a Olivier Falorni, um socialista dissidente que foi o segundo classificado, em La Rochelle, na primeira volta das eleições legislativas do passado domingo. Acontece que a posição oficial do Partido Socialista, aliás expressa pelo próprio presidente da República, é a de apoiar naquele círculo Ségolène Royal, candidata derrotada nas anteriores eleições presidenciais e anterior companheira (durante 30 anos) e mãe dos quatro filhos de François Hollande. A partir da sua eleição em La Rochelle, Ségolène aspira ser eleita para a presidência da Assembleia Nacional.

Esta atitude de Valérie está a provocar a maior perplexidade e incómodo no Partido Socialista, ao ponto da própria secretária-geral, Martine Aubry, ter pensado inicialmente que o tweet era falso. O facto da nova "primeira-dama" ser jornalista e ter declarado não desejar abdicar da sua carreira havia já levantado sérias interrogações quanto à promiscuidade entre a política e o jornalismo. O acontecimento de hoje configura um ajuste de contas entre duas mulheres, a antiga e a actual, o que nada contribui para o prestígio das instituições.

Durante a V República, as "esposas" sempre se comportaram com a adequada reserva no campo político. Yvonne De Gaulle nunca se pronunciou publicamente, embora se possa admitir que, em privado, aconselharia o general. Claude Pompidou manteve uma discrição impecável ao longo do mandato do marido. Anne-Aymone Giscard D'Estaing, uma aristocrata, foi uma presença digna ao lado de Valéry. O próprio François Mitterrand, pródigo em aventuras, conservou Danièle sempre a seu lado,  em cerimónias oficiais, e não consta que tivesse levado alguma vez a sua amante Anne Pingeot para o Eliseu. De Chirac, ainda que dado a aventuras, sempre viveu, e vive, com a sua esposa Bernadette.

A confusão começou, obviamente, com Nicolas Sarkozy. Os sucessivos desentendimentos e reconciliações com Cécilia Ciganer-Albéniz, até à ruptura final, já depois de instalados no Eliseu, alimentou durante meses a crónica social e a coscuvilhice doméstica. E o casamento (de encomenda) com Carla Bruni, dias depois da separação, em nada prestigiou quer os envolvidos, quer a função presidencial.

Removido que foi Sarkozy, surge agora o caso Hollande. O seu "divórcio" de Ségòlene data das anteriores eleições presidenciais, em que esta perdeu a favor de Sarkozy. François Hollande nunca aceitou bem a candidatura da mulher á presidência e a separação consumou-se. Refez a vida com Valérie Trierweiler, que é hoje a "primeira-dama" de França, "the first girl-friend" na expressão americana.

A presente atitude de Valérie causou profundo desagrado no PS francês e arrisca-se a ter repercussões na segunda volta das legislativas do próximo domingo. Tanto mais que parece não desejar esta senhora abandonar a profissão de jornalista, apesar de instalada no Eliseu.

Naturalmente que a direita tende a aproveitar-se desta situação, e um conselheiro regional UMP já declarou: « c'est 'Dallas' à l'Elysée!".

Considero que a atitude de Valérie Trierweiler prejudica gravemente a imagem que Hollande se pretendia dar de um "presidente normal" e que o seu "ataque" a Ségolène Royal (e sou insuspeito porque nunca apreciei Ségolène) é do mais duvidoso gosto.

Com a confusão começada com Sarkozy e agora continuada por Hollande das sucessivas entradas no Eliseu de mulheres pouco recomendáveis para a função, apetece dizer:  "Antes levassem homens".

3 comentários:

Anónimo disse...

Tocou na ferida meu caro bloger, não posso estar mais de acordo. O Eliseu virou um bordel de primeira classe. Não se esperava isso dos franceses, sempre tão exigentes em matéria de aparências.
Marquis

manel disse...

Franceses e socialistas!

Nuno Castelo-Branco disse...

Pois é, pagam pela língua, mas não se ralem, pois continuarão a ser "camaradas, companheiras e amigas". As "amantes, concubinas, odaliscas e as putas", essas são apanágio da direita.
Mesmo assim prefiro a classificação de "amantes, concubinas, odaliscas ou putas" (desculpe-me esta última palavra, mas é disso mesmo que nalguns casos se trata). Pois então, que viva a Monarquia e para sempre vivam as Du Barry, as Pompadour, as Castiglione, as Montespan, as Petronilhasas Madres Paulas e as Távoras. A verdade sempre é mais decente.