sexta-feira, 18 de novembro de 2011
A SÍRIA E A RÚSSIA
Kirill I, Patriarca de Moscovo e de Todas as Rússias visitou no passado domingo, dia 13, em Damasco, o presidente sírio Bachar Al-Assad.
Conhecendo-se os estreitos laços existentes entre a Igreja Ortodoxa Russa e o poder político, nomeadamente as relações de Kirill com Putin, esta visita não pode ser desligada da actual situação na Síria e do apoio que o governo de Putin tem assegurado ao regime sírio.
Existem várias razões para o apoio russo. A Síria é o último aliado de Moscovo na região e um dos principais compradores de armas; Putin obteve de Assad a renovação da base naval de Tartus, indispensável à marinha russa no Mediterrâneo; os russos estão arrependidos da sua abstenção na Resolução 1973 do Conselho de Segurança da ONU sobre a Líbia, que acabou por derrubar o regime de Tripoli e permitir o assassinato de Qaddafi; a atitude do Quai d'Orsay, visando uma resolução da ONU sobre a Síria, fez perder à França o seu estatuto de protector dos cristãos no Médio Oriente, posição que a Rússia agora reivindica; o governo russo sabe que a maioria da população síria, por umas razões ou por outras, ainda está ao lado de Assad; também não ignora o governo russo que a queda do regime alauíta provocará durante muitos anos uma guerra civil na Síria semelhante à que se verifica no Iraque, desde que Bush e Blair e mais alguns comparsas decidiram invadir o país. Estão, aliás, na Síria, milhares de iraquianos que fugiram da invasão anglo-americana, que provocou, desde 2003 até hoje, cerca de CINCO milhões de vítimas.
Os Estados Unidos, o Reino Unido, a França e Israel e também a Arábia Saudita e os países do Golfo, estão interessados agora na queda de Assad, até por causa da influência do Irão. A miopia política destes países não tem limites. Uma guerra civil na Síria desestabilizaria totalmente o Médio Oriente, com consequências inimagináveis. Nem sei mesmo se, tout compte fait, Israel beneficiaria com essa situação. O Estado judaico, que possui armas nucleares, não poderá usá-las indiscriminadamente, sob pena da sua própria destruição.
É evidente que muita gente, especialmente os fabricantes de armamento, está interessada numa guerra alargada, mesmo numa guerra mundial, já que as guerras locais não são negócios suficientemente rentáveis. Duvido, todavia, que mesmo os interessados acabem por tirar dividendos de uma conflagração internacional, que tanto parecem desejar.
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2 comentários:
A Rússia defende os seus interesses mas também tem a noção de que o caos na Síria provocará o descalabro do Médio oriente, coisa que o Ocidente não vê ou se vê naõ se preocupa. Esta história ainda vai acabar mal, muito mal.
Estamos retornando ao Colonialismo, em que Paises Falidos procuram novos meios de alavancar suas economias sob a capa da ONU em resoluções mal intencionadas.
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