segunda-feira, 21 de novembro de 2011

AS DUAS ESPANHAS


Como se esperava, o Partido Popular (PP) venceu as eleições legislativas em Espanha. Verifica-se semelhante tendência em outros países da Europa, onde governos de direita substituem governos (ditos) de esquerda e vice-versa. A mudança tem-se verificado mais no sentido esquerda » direita, já que eram de esquerda a maior parte dos governos em funções. A pseudo-mudança de orientação ideológica dos executivos (é quase ridículo falar-se em ideologia, já que a prática dos governos de direita e de esquerda é quase idêntica, devido aos constrangimentos internacionais) dever-se-á, por isso, principalmente a uma vontade de changement, seja em que sentido for, já que, para a maioria dos cidadãos, o resultado é o mesmo. O que os europeus pretendem, acima de tudo, é correr com os governantes em funções e substituí-los por outros. Já nem falo das falsas promessas pré-eleitorais em que hoje pouca gente acredita. O que os europeus pensam ser necessário é mudar o que está para ver o que dá, embora sem grande convicção, numa era em que começam a surgir os comissários políticos da União Europeia,  que não prenunciam  um bom futuro.

No caso particular da Espanha e tendo em vista as eleições de hoje, é oportuno revisitar o livro de Fidelino de Figueiredo, As Duas Espanhas, publicado em 1932 e reeditado três vezes. A imagem é da 4ª edição (1959). De facto, existem duas Espanhas. E não me refiro ao aspecto geográfico, em que existiriam várias. A linha divisória é de mentalidades e não de territórios, embora em algumas zonas possam prevalecer umas ideias mais do que outras. Não está em causa ser de Castela ou da Catalunha, da Andaluzia ou do País Basco, da Galiza ou de Navarra. O que verdadeiramente separa os espanhóis são convicções e não regiões. Há dois tipos de espanhóis: uns são religiosos, católicos, conservadores, monárquicos; outros são laicos, ateus, progressistas, republicanos. E poderíamos acrescentar mais rótulos. Foi esta divisão dos espanhóis que levou à sangrenta Guerra Civil de 1936-1939, que provocou um milhão de mortos.

Nas eleições de hoje, com os votos já contados, a linha divisória esquerda/direita continua a cortar a Espanha ao meio, ainda que a direita obtenha uma maioria de lugares no parlamento, decorrente do sistema eleitoral. Os espanhóis, para viverem em paz, estão, pois, condenados a um compromisso: o do equilíbrio da governação. Não poderá o governo de Rajoy afastar-se muito, na essência, da política de Zapatero, como este não se afastou substancialmente da política de Aznar. E como Aznar não se demarcara profundamente da política de Gonzalez. Especialmente em questões internas, salvo alguns aspectos mais simbólicos. Na política externa, Aznar aproximara-se demasiado dos Estados Unidos da América, o que foi um erro e contribuiu, juntamente com o "equívoco" da autoria dos atentados de Madrid, para que o PP perdesse as eleições.

Aguardemos agora o programa do novo governo do Partido Popular.

3 comentários:

Asclépio disse...

Parece que Aznar agora está mais afastado dos EUA. Recentemente veio a público criticar a guerra contra a Líbia.

Anónimo disse...

A Espanha, mesmo com Rajoy, continua a ser penalizada pelos mercados. E continuará. Estes já não querem políticos eleitos mas comissários encarregados de aplicar as medidas que lhes convenham. O futuro confirmará estas previsões.

Asclépio disse...

Claro que continuará a ser penalizada. E sei que o autor deste blogue sabe a verdade sobre o que se está a passar, e sobre o que aí vem. Pena que não tenhamos elites com elevação para preparar os próximos anos. Estamos tramados.