domingo, 20 de novembro de 2011

SOBERANIA LIMITADA


Em 1968, para justificar a intervenção militar soviética na Checoslováquia, Leonid Brejnev criou a doutrina da "soberania limitada": os países do Pacto de Varsóvia deveriam manter-se alinhados com a União Soviética. Já em 1956, ainda antes da elaboração da tese intervencionista, mas com a mesma intenção, as tropas soviéticas tinham invadido a Hungria e esmagado a revolta naquele país.Consistia a tese em sustentar que os países governados por partidos socialistas (leia-se, comunistas) tinham a obrigação de apoiar os seus "irmãos", quando se verificasse uma revolução contra o poder instituído. Segundo a doutrina de Moscovo, as contestações aos governos socialistas, no poder, eram obra de instigação estrangeira e contrárias aos interesses dos trabalhadores. Em parte sê-lo-iam, mas existia igualmente uma animosidade crescente contra a "tutela" soviética. Caído o Muro de Berlim e desintegrada a União Soviética, os países seus satélites recuperaram a sua autonomia ou, mais concretamente, julgaram recuperá-la, na medida em que ficaram reféns de poderes mais subtis: a economia de mercado já no começo da sua fase neo-liberal, a NATO, por fim a UE, etc. Mas salvaram-se as aparências.

Por ironia da história, surge agora um novo conceito de soberania limitada, desta vez em nome não da União Soviética e do comunismo internacional, mas da União Europeia (leia-se, da Alemanha) e dos mercados internacionais. As intromissões do neo-liberalismo económico já se faziam sentir, e o facto de muitos países (quase todos) terem aderido à União Europeia, e a maioria dos ditos à Zona Euro, retirara-lhes uma parcela da sua soberania. Todavia, mantinha-se, por decoro, a ilusão da independência nacional e realizavam-se eleições para designar os governos (ainda que a escolha, devido aos constrangimentos comunitários, se fizesse num reduzidíssimo leque).

Mas, agora, perdeu-se a vergonha. Estão a ser catapultados para dirigir governos, em nome da necessidade de novas políticas económicas e financeiras, indivíduos sem qualquer legitimidade democrática, se é que a palavra ainda tem algum sentido. Papademos na Grécia e Monti na Itália, surgiram da banca e alcandoraram-se ao lugar de chefes de governo. Legalmente. A prática estender-se-á rapidamente a Portugal, a Espanha, à Bélgica, à Áustria, à Irlanda, quiçá à França. Ou não, se os governos em funções se encarregarem, eles mesmos, de desempenhar o papel de comissários políticos do poder financeiro internacional e dos interesses do Reich. Angela Merkel percorre entusiasticamente e com determinação esse caminho, com o apoio dos seus pares germânicos. Porém, não tenho a certeza que seja essa a via que mais convenha à Alemanha e à banca internacional. Vivemos numa floresta de enganos, os melhores e mais bem informados analistas equivocam-se com inusitada frequência e tomam a nuvem por Juno. A eventual queda do euro será a queda da União Europeia, logo da Europa. Quem aposta nesta solução ignora os desígnios da História.

Mais vale renunciar a Satanás e às suas pompas e às suas obras. Enquanto é tempo!

1 comentário:

Anónimo disse...

A soberania é limitada ou ilimitada conforme as conveniências.