terça-feira, 15 de novembro de 2011

OA SÁBIOS, SEMPRE



Por considerar tratar-se de serviço público, transcrevo o texto do jornalista José Manuel Rosendo, publicado no Facebook:

 

O protocolo dos sábios do serviço público

por José Manuel Rosendo a Terça-feira, 15 de Novembro de 2011 às 23:06

Sou um simples jornalista. Gosto tanto deste ofício, e não querendo fazer outra coisa, penso trabalhar enquanto tiver saúde para isso.
Habituei-me a gostar de pessoas com ideias e pensamento sustentado. Pensamento profundo de preferência, mesmo que sejam utopias e ainda que os pensamentos dominantes as considerem marginais. Sendo que nos dias que correm ser marginal ao sistema é quase uma honra, tal é a podridão.
Estou farto de ouvir figurões repetirem-se à exaustão, justificando a situação a que o país chegou. São os mesmos, ou os descendentes directos, dos que nos iniciaram nesta longa marcha. Repetem, repetem, até que as memórias registem a mensagem. Desses, peço desculpa, não gosto! E tenho pena que a rádio não encontre tempo para as boas conversas. Daquelas que nos iluminam o caminho e os dias. Mesmo que eu não concorde com as ideias daqueles com quem converso e a quem me atrevo a fazer algumas perguntas. Mas isso da rádio já não ter tempo para as boas conversas, pensando bem, talvez seja apenas uma etapa dessa longa marcha. Afinal, conversar para quê? Provavelmente apenas teríamos como resultado algum informação subjectiva.
Longa introdução para chegar às recomendações do chamado Grupo de Trabalho que quis definir o conceito de serviço público de rádio e televisão. Li as 32 páginas. Trabalho árduo. Esperava muito mais, mesmo que não concordasse com o resultado. De gente da Academia, directores de órgãos de comunicação, gente com passado nas bancadas parlamentares, esperava muito mais. Não me vou perder em minudências (como as diferenças entre o verbo haver e “a ver”), mas esperava tudo menos a fé como base de um argumento.
Deste grupo de pessoas eu esperava respostas e a orientação para um caminho; esperava argumentos sustentados em estatísticas sérias, em dados confirmados, em estudos académicos, em perspectivas de evolução dos media; esperava uma definição de “serviço público” a pensar no público.
Deste grupo de pessoas eu não esperava um arrazoado de informação contraditória; não esperava que quisessem mexer em algo tão importante como a RTP (Rádio e Televisão) sem apresentarem uma solução satisfatória; não esperava que considerassem dispensável aquele (Informação) que é o principal (para mim) pilar do serviço público; não esperava que tentassem ofender-me enquanto jornalista; não esperava que quisessem, entre tantas asneiras, transformar a RTP Internacional num canal do MNE (será parte da nova Diplomacia Económica?).
Deste grupo de pessoas, adversários com provas dadas em relação ao serviço público de rádio e televisão, eu não esperava descortinar essas raivinhas de estimação.
Peço desculpa, mas por ser jornalista a Informação é o que mais me preocupa. Todos sabemos que uma sociedade bem informada decide melhor, participa mais, não se deixa enganar facilmente e vota mais. Em suma, a Democracia tem mais qualidade. Mas este grupo de pessoas, nem verdades acabadas como a que referi consegue produzir no relatório, apenas tem fé. Tem fé que a aniquilação da RTP evite a manipulação que diz existir na Informação da RTP. Reduzi-la (a Informação) ao mínimo, é a solução. Os privados que façam Informação, mesmo que apenas o façam quando isso dê o lucro que legitimamente procuram. Que se lixe a Democracia.
Este relatório recordou-me “Os Protocolos dos Sábios de Sião”, que é uma falsificação anti-semita do final do século XIX, quando surgia o movimento sionista e que terá sido feita pela polícia secreta do CZAR. Há outras teorias, mas enfim. Aí se escrevia que os judeus tinham planos para dominar o mundo através da economia e da infiltração no poder. Hitler utilizou-o para propaganda do nazismo.
Este relatório dos “sábios” do serviço público demonstra-nos várias coisas: em primeiro lugar não são sábios; depois querem alguma coisa que nós não conseguimos descortinar o que é (mas querem…); e, sem sombra de dúvida, querem acabar com a RTP, mas não sabem como; foram de uma total inépcia. Este relatório é uma falsificação de qualquer coisa que não consigo perceber o que é. E tal como “Os Protocolos dos Sábios de Sião” presta-se a todas as especulações e a todas as teorias da conspiração.
Depois de me terem tentado atingir na minha dignidade, tentando ofender-me e desconsiderando as minhas competências profissionais com afirmações gratuitas, reivindico o direito de lhes dizer o que bem me apetecer. Mas não o vou fazer. Apenas uma dica: deviam ter vergonha do mau serviço que prestaram ao País, à Democracia e ao Serviço Público de rádio e televisão.

José Manuel Rosendo

Lx, 15 de Novembro de 2011

Adenda 1: Entre os membros do grupo de trabalho que produziu este "protocolo", e excluindo os que entretanto  se demitiram, certamente por vergonha, figuram um desprezível economista e um desprezível jornalista.

Adenda 2: Mota Amaral manifestou-se frontalmente contra o relatório.

2 comentários:

Anónimo disse...

Os protocolos são sempre para nos deixarem de pé a trás. Esta história do serviço publico está muito mal contada, e ainda vai haver muita volta.

Anónimo disse...

presume-se que o economista seja o João Duque, essa nódoa e o jornalista o José Manuel Fernandes, um entusiasta defensor da guerra no Iraque, ou o Cintra Torres, mas inclino-me mais para o primeiro.

Faltou dizer que também estava na comissão o Manuel Vilaverde Cabral, que costumava ser uma pessoa de juízo, mas se calhar ficou tonto.