domingo, 26 de agosto de 2012

OS PURITANOS



 Vincenzo Bellini (1801-1835), natural de Catania (Sicília), autor imortal de Norma,  morreu em Paris, presumivelmente envenenado, nove meses depois da estreia da sua última ópera, I Puritani. Esta obra, cujo libretto o compositor encomendara ao conde Carlo Pepoli, a partir da peça Têtes rondes et cavaliers, de Jacques Ancelot e Xavier Boniface, tem por tema um caso passional ocorrido em Inglaterra no tempo de Cromwell, durante as lutas entre os chamados "puritanos", as outras seitas protestantes e os católicos. Recorde-se que Cromwell foi um dos signatários da ordem para matar o rei Carlos I e pretendeu também mandar executar a rainha viúva, Henriqueta de França, aliás umas das personagens da ópera.

O puritanismo, em sentido geral, é uma das maiores tragédias da Humanidade, responsável por milhões de mortos ao longo de milénios. Está infelizmente consagrado em muitos preceitos das três religiões monoteístas, as religiões do Livro, ou dos Livros (Torah, Bíblia e Corão), mas já existia, ainda que noutra perspectiva, em civilizações anteriores.

O puritanismo, em sentido restrito, refere-se à dissidência do anglicanismo, no tempo da Reforma em Inglaterra, durante o reinado de Isabel I. Provocou uma horrível guerra civil, mas Cromwell, um dos seus arautos, que hoje seria acusado de genocídio, acabou por morrer, em 1658, de morte natural. Sepultado na Abadia de Westminster, com o restabelecimento da monarquia, em 1660, o seu corpo foi desenterrado, pendurado por correntes e decapitado.

Durante a sua curta existência,  Bellini, que era homossexual, segundo o seu biógrafo Herbert Weinstock [a relação central da sua vida foi Francesco Florimo (1800-1888), de uma aldeia próxima de Catania, também compositor e considerado seu herdeiro espiritual e com o qual existe uma correspondência íntima], escreveu 11 óperas, além de outras peças musicais, em que aborda especialmente os amores contrariados ou impossíveis, pelo menos para a época.
  
O clip acima reproduz a cena da loucura de Elvira, de I Puritani, no 2º acto, numa interpretação magistral de Anna Netrebko, com a Orquestra do Metropolitan de Nova Iorque, dirigida por Patrick Summers, e registada em 6 de Janeiro de 2007.

2 comentários:

Anónimo disse...

O puritanismo tem sido uma tragédia em todos os tempos. Foi exacerbado pelas religiões monoteístas. Hoje o puritanismo evangélico dos Estados Unidos e o puritanismo dos fundamentalistas islâmicos constituem a maior ameaça à paz mundial. Decorre daí que os seus arautos deveriam ser exterminados

Anónimo disse...

Apoiado quanto à genial Netrebko,que embora não seja exactamente um Soprano coloratura,compõe um desempenho notável de expressão e representação.Esplendorosa,e só é pena não estar acompanhada ao mesmo nível.
Quanto ao Puritanismo,de acordo em quase tudo.Salvaguardemo-nos,como sempre,das generalizações apressadas. Um dos Livros de uma das religiões citadas é o Novo Testamento,e nos Evangelhos pouco ou nada encontra de puritanismo,bem antes pelo contrário.