quarta-feira, 8 de agosto de 2012

O CORPO DESCOBERTO



Foi prolongada até ao próximo dia 26 a notável exposição que o Institut du Monde Arabe (IMA) apresenta em Paris: "Le Corps Découvert".

Abrangendo cerca de 200 obras, de mais de 70 artistas, esta exposição, única no género, revela a existência de uma cena artística árabe, que ousa transgredir os tabus do conservadorismo social, desafiando o fanatismo religioso e enfrentando os preconceitos.

Inaugurada em Abril passado, a exposição,  que regista um número excepcional de visitantes, apresenta obras de artistas argelinos, egípcios, iraquianos, kuwaitianos, libaneses, marroquinos, palestinianos, sauditas, sírios, sudaneses, tunisinos e  turcos, muitos deles vivendo na diáspora.

Como diz Renaud Muselier, presidente do Haut Conseil do IMA, no excelente catálogo, «Le parcours de l'exposition, organisé autour de thématiques variées, montre un corps qui se revèle divers, contradictoire et jamais unifié: figure de gloire pour les uns qui sanctifient sa beauté, figure de souffrance pour d'autres, ou figure propice, pour certains, aux mises en abyme de la sexualité ou à d'inquiétantes mutations...».

Alguns artistas preferem pôr em cena não o corpo, mas o seu desaparecimento ou a sua evocação. Apesar de os nus dominarem, os modelos vestidos não os desautorizam, porque, como dizia Lucien Freud, «Quando pinto vestuário, pinto realmente pessoas nuas cobertas por vestuário».

A exposição terá sido, julgo, encorajada pela chamada "Primavera Árabe", mas, pelo desenrolar dos acontecimentos, não sei se merecerá o aplauso dos dirigentes religiosos que substituíram os dirigentes mais ou menos laicos derrubados pelas revoluções. As obras expostas, que  vão do final do século XIX aos nossos dias,  mostram que, apesar da censura social, e também da legislação penal, os árabes, que sempre prezaram o corpo (o seu e o alheio), não ficaram indiferentes, durante um século, à  representação artística desse corpo.

1 comentário:

Anónimo disse...

Sempre os árabes defenderam o corpo.Ao longo da história. Interpretações religiosas redutoras, incluindo a proibição da representação da figura humana reduziram ou quase anularam a exibição do corpo, com grave prejuízo para a arte e a civilização. Mas sempre houve resistentes, poucos, nos dois últimos séculos, que o retrataram quase sempre às escondidas.

Esta exposição, que será apenas uma modesta mostra, tem o mérito de desmistificar o tabu, ainda que a maior parte dos artistas expostos não viva no mundo árabe, circunstância facilmente compreensível, para não os expor às represálias de poderes religiosos arcaicos.