sexta-feira, 3 de agosto de 2012

A TRAIÇÃO DE OBAMA



Segundo informações internacionais, entre as quais a BBC, o presidente Barack Obama assinou uma ordem secreta que autoriza o apoio dos Estados Unidos aos rebeldes sírios. Já era sabido que a CIA se encontrava no terreno prestando assistência à oposição ao presidente Bashar Al-Assad. Agora temos a confirmação oficial dessa ajuda, a juntar-se à dos  turcos, sauditas, qataris, Al-Qaida, e também  ingleses e franceses e uns tantos outros que se unem tacticamente para derrubar o regime sírio.

Depois do criminoso consulado de George W. Bush, com as invasões do Afeganistão e do Iraque e o adiamento sine die da solução do conflito israelo-palestiniano, a eleição de Obama foi saudada com alguma esperança. Não que ela viesse alterar significativamente a política dos Estados Unidos, que não depende apenas do presidente, mas do Congresso e de toda uma administração, enleada nos mais obscuros interesses económicos. Mas que se registasse uma correcção na trajectória da política externa americana e se assumisse um módico de vergonha nas relações internacionais.

A intervenção declarada no conflito sírio, na sequência de outras acções ou omissões do presidente, acaba de provar que a campanha eleitoral de Obama e as suas declarações de paz não passaram de uma miragem para consumo interno e externo. Os Estados Unidos da América continuam fiéis à sua vocação imperial e assim se manterão até à destruição final. Nada aprenderam com o passado e prosseguirão irresistivelmente a sua marcha até que alguém lhes tolha definitivamente o passo.

A chamada "Primavera Árabe", cuja eclosão começa a suscitar muitas dúvidas, entusiasmou os nativos e mesmo muitos estrangeiros que, no início, lhe deram senão o entusiástico apoio, pelo menos o benefício da dúvida. Caíram sucessivamente os regimes da Tunísia, do Egipto e da Líbia, mas permaneceram  incólumes os regimes monárquicos do Golfo. Certamente muito mais ditatoriais e totalitários que os que foram derrubados.

Não sei se as primeiras manifestações anti-regime na Síria foram espontâneas ou comandadas do exterior. Concedo que a repressão das mesmas terá sido desproporcionadamente violenta. E também não ignoro que o regime de Bashar Al-Assad é uma ditadura, ainda que mais suave do que a mantida por seu pai. Mas sei, também, que, nos ultimos anos,  se registou uma significativa melhoria das condições económicas e sociais da população. A Síria, ainda que sem as liberdades democráticas formais, encontrava-se em pleno desenvolvimento, facilmente verificável pelo mais distraído observador. A escalada do conflito, agora já convertido em guerra civil, só foi possível com o apoio estrangeiro. A maioria dos sírios apoiava o presidente, embora hoje, com tantos mortos de permeio, possa existir já uma contestação maioritária do regime.

Como os vetos da Rússia e da China nas Nações Unidas têm impedido uma intervenção militar a descoberto, como aconteceu na Líbia, verifica-se uma intervenção militar encapotada, mas já muito mal disfarçada, com pretensos fins humanitários. Só os parvos poderão julgar que a queda do regime de Assad trará a paz e a felicidade aos sírios. Uma nação com a diversidade étnica e religiosa como a que se verifica na Síria, carece de um equilíbrio de poderes que o conflito em curso está progressivamente a destruir e que levará muitos anos a ser restabelecido, se alguma vez o for.

A chamada "comunidade internacional", com a sua vocação para "exportar a democracia", está empenhada no derrube do actual regime sírio, nem que para isso tenha de destruir o país e matar todos os seus habitantes. É claro que a sua finalidade, a única, é instalar no território um "governo às ordens" para depois invadir mais facilmente o Irão.A tragédia do povo sírio é um pormenor de somenos na contabilidade sinistra dos que se julgam os senhores do mundo e dos seus aliados permanentes ou circunstanciais.

Depois da tragédia do Iraque, temos agora a tragédia da Síria, e tantas mais quantas forem necessárias aos interesses geoestratégicos ocidentais e ao acesso ao petróleo. Até ao dia em que os cálculos dos invasores se revelem errados.

Os Estado Unidos têm 200 anos de história. O território hoje correspondente à República da Síria, onde existiram grandes impérios no decorrer dos séculos,  é continuadamente habitado há 10.000 anos.

Não sei se Obama será reeleito nas próximas eleições. Ou se o seu adversário Mitt Romney ganhará a partida. Entre ambos, prefiro Mefistófeles.

4 comentários:

Anónimo disse...

100% apoiado!!!!!!!

Anónimo disse...

Quando deixará a América de se intrometer na vida dos outros países?????

Anónimo disse...

Apenas conjecturas...o texto está bem elaborado e sem dúvida que há fortes interesses internacionais em jogo que estão a pressionar o regime ditatorial sírio. Mas só apenas dando voz ao povo sírio é que se saberá qual o governo possível para o País. Temo que com tanta repressão exercida, tantos mortos, a abertura já não seja possível e que a guerra civil seja uma inevitabilidade como parece já estar a acontecer.
José Amador

Blogue de Júlio de Magalhães disse...

PARA JOSÉ AMADOR:

Como escrevi, a repressão foi desproporcionada em relação às primeiras manifestações. Mas tenho dúvidas que uma repressão "light" resolvesse o problema.

Concordo que atendendo ao número de vítimas a reconciliação seja já problemática. O que será uma tragédia. A Síria vivia numa paz possível e com um razoável desenvolvimento económico e social. Toas as confissões religiosas (cerca de 20) e as várias etnias conviviam sem problemas no país. Havia certamente corrupção mas onde não a há? Será que não existe nos EUA e na UE?

O futuro será a desagregação em vários estados confessionais, como se escreve no post anterior, com transferências maciças de população e todas as desgraças inerentes (vide Stalin na URSS ou Lord Mountbatten ao dividir a Índia em três estados: dois Paquistões (hoje, um, Bangla Desh) e a União Indiana.

Ou então uma guerra civil de incalculáveis consequências, com a desagregação de todo o Médio Oriente.

Que venha o Diabo e escolha.