domingo, 12 de agosto de 2012

NELSON ÉVORA, O GRANDE AUSENTE


A medíocre prestação portuguesa nos Jogos Olímpicos de Londres (angariados por Tony Blair com o recurso a processos venais, segundo o maire de Paris, Bertrand Delanoë), levanta uma vez mais a questão da nossa participação nesta competição internacional. Valerá  a pena o investimento efectuado em tantas modalidades para sermos desqualificados em todas elas, ou quase? Digamos que a medalha de prata obtida resgatou a honra da Pátria. É evidente que constitui uma obrigação, diria que política, a presença portuguesa na competição olímpica, mas, especialmente em épocas de crise, talvez fosse mais avisado aplicar os recursos disponíveis nos atletas potencialmente mais aptos e nas modalidades mais gratificantes. Uma sugestão que não agradará a muita gente, cuja aplicação não será fácil, mas sobre a qual importaria reflectir. Uma melhor repartição das bolsas por atletas de créditos minimamente firmados e uma redução das estruturas burocráticas que funcionam todo o ano para jogos quadrienais permitiria uma especialização mais adequada aos fins em vista. Há muitos interesses em jogo, que não exclusivamente desportivos, mas impõe-se alguma moderação na utilização dos recursos. E também na selecção dos participantes. Em nome do prestígio de Portugal.


É um facto que o grande ausente desta competição é o atleta Nelson Évora, que, já muita galardoado em provas anteriores, obteve a medalha de ouro no triplo salto dos Jogos Olímpicos de Pequim, de 2008.


Nelson Évora nasceu na Costa do Marfim em 20 de Abril de 1984, filho de pais cabo-verdianos, adquiriu em 2002 a nacionalidade portuguesa e é dotado de indiscutíveis capacidades que o têm habilitado a notáveis desempenhos nos mais variados palcos. Além disso, é uma daquelas pessoas que irradia simpatia, qualidade não despicienda num atleta de alta competição. A sua ausência da cena londrina, devido a lesão, constituiu uma menos valia para a representação portuguesa

Estádio

Os Jogos Olímpicos eram os mais importantes dos Jogos Pan-Helénicos. Celebravam-se de quatro em quatro anos em Olímpia,  remontam a 776 A.C. e eram celebrados em honra de Zeus (e também de Hércules e de Pélops). Terminaram em 393 D.C., por ordem do imperador Teodósio I (ou 426 D.C., por ordem do imperador Teodósio II),  por terem sido considerados pagãos. A diferença de datas tem a ver com as disposições do Teodósio I , reputando tais celebrações de pagãs ou de seu neto Teodósio II, mandando encerrar os templos. Os outros jogos, que convocavam igualmente toda a Grécia, eram os Jogos Píticos, que se realizavam em Delfos, em honra de Apolo, também em Agosto e de quatro em quatro anos, alternando com os Olímpicos e iniciados em 582 A.C. Havia ainda os Jogos Nemeus, celebrados em Nemeia, em honra de Zeus, desde 573 A.C. e os Jogos Ístmicos, celebrados em Corinto, junto ao Istmo, em honra de Poséidon, desde 581 A.C.

No tempo de Píndaro, os Jogos Olímpicos incluíam as seguintes provas:

- Corrida: estádio (200 m), para homens
                estádio, para rapazes
                "diaulos" (400 m)
                "dolichos" (2.400 m)
                corrida revestido de armas
- Luta: para homens
           para rapazes
- Pugilato: para homens
                para rapazes
- Pancrácio (luta e pugilato combinados)
- Pentatlo: salto, corrida, disco, dardo, luta

O comprimento das provas ainda está sujeito a controvérsia e variou com o tempo, tendo sido também incluídas posteriormente outras modalidades, como as corridas de cavalos.

Não existia a prova, hoje famosa, da maratona, que tem a ver com um acontecimento histórico da Grécia Antiga.

Ruínas do Templo de Zeus

Durante o período dos Jogos eram suspensas guerras, vinganças ou rixas pessoais. As mulheres estavam excluídas das competições e os atletas disputavam as provas completamente nus. Não existiam prémios pecuniários, lutando-se unicamente pela honra (coisa que hoje seria incompreensível e perturbaria seriamente os espíritos). A recompensa era uma coroa de folhas de oliveira brava.

Um lutador

Os Jogos Olímpicos foram ressuscitados em 1859, em Atenas, por iniciativa de Evangelis Zappas. Entusiasmado com a ideia, o Barão Pierre de Coubertin criou o Comité Olímpico Internacional, que promoveu, em Atenas,  os primeiros Jogos da era moderna em 1896.

Zeus e Ganimedes

Como a maioria das competições desportivas, os Jogos Olímpicos são hoje um negócio à escala internacional. Tão importante como a vitória nas provas é, nos nossos dias, o dinheiro que circula pelas mais variadas e inesperadas mãos. O ideal olímpico, que vigorava na Antiga Grécia, mesmo com as entorses sofridas ao longo dos séculos, nada tinha a ver com as celebrações actuais. Os jogos, sendo competições desportivas, realçavam também o aspecto estético, e muitos dos vencedores foram imortalizados no mármore das estátuas que os representaram. Uma vertente que os romanos, quando já cristianizados, consideraram pagã e que hoje suscitaria, sem dúvida, as mais sérias reservas aos guardiães da moral pública.

Hermes (de Praxíteles)


2 comentários:

ZÉ DOS ANZÓIS disse...

Três notas:

1) A participação portuguesa nos Jogos de Londres foi uma vergonha nacional;
2) Os verdadeiros Jogos Olímpicos (os da Grécia Antiga) pouco tinham a ver com as actuais competições que são mais negócio do que Arte, e era esta que interessava aos Helénicos. Aliás o actual conceito de desporto não existia na Velha Grécia;
3) Nelson Évora é, por todas as razões, o nosso menino de ouro. Deve ser dos poucos que ainda alimenta em si o verdadeiro ideal olímpico. Que Deus o conserve.

Anónimo disse...

A presença de Nelson teria encorajado os demais atletas já que ele é uma espécie de guia natural.