terça-feira, 27 de dezembro de 2011

A MALDIÇÃO DOS "MERCADOS"


 Transcrevemos três parágrafos de O Chalet da Memória, de Tony Judt:

«Tal como o infeliz chanceler trabalhista britânico  entre 1929-1931, Philip Snowden, desistiu perante a depressão e declarou que não valia a pena contrariar as leis inelutáveis do capitalismo, assim os dirigentes da Europa de hoje se refugiam à pressa em medidas de austeridade orçamental para acalmar os "mercados".

Mas "o mercado" - tal como o materialismo dialéctico - é apenas uma abstracção: simultaneamente ultrarracional (a  sua argumentação supera tudo) e o apogeu do absurdo (nada pode ser questionado). Tem os seus verdadeiros crentes - pensadores medíocres quando comparados com os pais fundadores, mas ainda assim influentes; e os seus compagnons de route - que em privado podem duvidar dos princípios do dogma, mas não veem alternativa a pregá-lo; e as suas vítimas, muitas das quais nos EUA, em especial, engoliram pressurosamente o seu comprimido e proclamam aos quatro ventos as virtudes de uma doutrina cujos benefícios nunca verão.

Acoma de tudo, a servidão em que uma ideologia mantém a sua gente mede-se melhor pela sua incapacidade coletiva parta imaginar alternativas. Sabemos muito bem que a fé ilimitada nos mercados desregulados mata: a aplicação estrita do que até há pouco tempo, em países em desenvolvimento vulneráveis, se chamava "o consenso de Washington" - que punha a tónica numa política fiscal rigorosa, privatizações, tarifas baixas e desregulamentação - destruiu milhões de meios de subsistência. Entretanto, os "termos comerciais" rígidos em que estes remédios são disponibilizados reduziram drasticamente a esperança de vida em muitos locais. Mas, na expressão letal de Margaret Thatcher, "não há alternativa".»

In Tony Judt, O Chalet da Memória, 2011

Transcreveu-se segundo a ortografia da edição portuguesa, que respeita o sinistro Acordo Ortográfico.

1 comentário:

José Gonçalves Cravinho disse...

Mercador segundo o Dicionário de sinónimos pode significar,vendedor comerciante,comprador,mercante,
negociante,traficante mas também chatim,tratante com mais ou menos velhacaria ou ratice ou ciganice mas não são só os ciganos que fazem ciganices.