sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

A ENTREVISTA DE PASSOS COELHO


Em recente entrevista à SIC, Passos Coelho admitiu, aprovado que está o Orçamento do Estado para 2012, que no próximo ano possam ser exigidos novos sacrifícios aos portugueses, decorrentes quer da conjuntura internacional, quer devido à recessão económica nacional que se aguarda. Não posso estar mais de acordo com a previsão do primeiro-ministro. Como escrevi aqui, os programas de austeridade que estão a ser aplicados aos países em difícil situação financeira, impondo medidas de excepcional gravidade em nome da "salvação das pátrias" e dos lucros dos "mercados", não conduzirão nem ao equilíbrio das contas, nem a um aumento do produto nacional. Tudo quanto se tem dito e escrito sobre a matéria, em defesa do desmantelamento do Estado Social, do aumento dos impostos, da diminuição dos salários, etc., a bem da "coisa pública", não passa de uma ilusão. A Grécia, o primeiro país a sofrer na carne as exigências de uma troika, afunda-se de dia para dia, económica e financeiramente, em direcção ao abismo. No actual quadro "comunitário" não há salvação possível. Passos Coelho sabe que é assim, e por isso nos adverte a tempo. Pena é que não tente soluções alternativas e siga obedientemente os diktats de Berlim (a França já só é um apêndice) e de quem controla a Alemanha. Porque o primeiro-ministro sabe, eu penso que ele sabe, que estes sacrifícios, que vão destruir as classes médias europeias, são absolutamente inúteis. Ou melhor, inserem-se numa estratégia global que analisaremos oportunamente.

Quero apenas relembrar (como o têm feito alguns bloguistas meus amigos) que há um limite para exigir austeridade, sobretudo quando não existe um horizonte de esperança, sobretudo quando a crise sistematicamente evocada não é da responsabilidade da generalidade dos cidadãos e que os seus eventuais responsáveis permanecem impunes.

Não se pode transpor levianamente a linha que demarca a sobrevivência das populações. Um dos homens que melhor conheceu a alma portuguesa, Salazar, mesmo governando em ditadura, nunca se atreveu a passar essa linha. Impôs sérias restrições, certamente. Mas, no contexto da época, não pisou o traço vermelho. Convém que os actuais governantes retenham tal lição.

1 comentário:

Anónimo disse...

Salazar, qye era mais culto e inteligente do que Passos Coelho sabia até onde podia ir no pedido de sacrifícios. E sabia-se o objectivo. Com este agora só se vê que não há luz ao fundo do túnel.