sexta-feira, 4 de novembro de 2011

OS PROTOCOLOS DOS SÁBIOS DE SODOMA


Instalou-se há dias uma polémica na comunicação social a propósito de um artigo de Jorge Messias, no jornal "Avante" que se referia ao livro Os Protocolos dos Sábios de Sião. O escritor judeu Richard Zimler indignou-se publicamente com o facto, clamando tratar-se de um livro anti-semita e exigindo ao PCP um pedido de desculpas aos leitores.

A origem do livro é atribuída à polícia secreta do Tsar e a obra (a sua primeira edição, pois a mesma tem sido sucessivamente editada ao longo dos anos e nos mais diversos idiomas) terá sido inicialmente publicada em 1903, como referimos aqui. Aliás, no seu último livro, O Cemitério de Praga, o escritor Umberto Eco a ela se refere desenvolvidamente.

Insiste sistematicamente a comunidade judaica internacional em classificar essa obra como uma falsificação, destinada a atribuir aos judeus os sinistros propósitos de instaurarem, em proveito próprio, uma governação mundial.

Ora é evidente que não se trata de qualquer falsificação, pois este livro não falsifica alguma obra anterior. Quando muito, poderia falar-se de invenção malévola para culpar os judeus, já acusados de Deicídio, de pretenderem apoderar-se dos destinos do mundo.

Para lá da autoria destes Protocolos (há outros, como veremos), e das responsabilidades atribuídas aos judeus, e agora também, segundo Jorge Messias, à Maçonaria e ao Vaticano, o que realmente me preocupa é o texto do livro. De facto, no decorrer de um século, as teses expendidas vêm sendo confirmadas pelos acontecimentos e, pouco a pouco, vai tomando forma uma governação mundial, à revelia dos cidadãos e dos estados soberanos (cada vez menos soberanos). Eu sei que a evocação deste tema é imediatamente conotada com "teorias da conspiração" e a menor crítica feita às políticas sionistas e ao Estado de Israel, que não aos judeus, é considerada illico anti-semita. Mas adiante.

Curiosamente, há pouco mais de um ano, o escritor e historiador britânico, de origem paquistanesa, Tariq Ali, publicou um livro interessantíssimo, Os Protocolos dos Sábios de Sodoma (Protocols of the Elders of Sodom). Não cabe aqui a descrição exaustiva do tema (e o livro engloba ainda outros ensaios), mas é oportuno registar algumas notas.


Conhecemos todos a velha estória bíblica de Lot e sua família e da destruição das cidades de Sodoma e Gomorra (Génesis, XIX). Dela decorre a condenação dos actos homossexuais, perfilhada pela religião judaica e depois pelas religiões cristã e muçulmana. É claro que a história é diferente da versão da Bíblia e a causa da destruição das cidades, a ter-se-se verificado, decorreria de razões políticas. A única (ou quase) fonte de que dispomos sobre os acontecimentos da época são os textos do judeu romano Flavius Josephus (A.D. 37-c.100) que escreveu As Guerras dos Judeus e As Antiguidades Judaicas. Segundo Josephus, os Sodomitas seriam, de facto, membros da seita dos Essénios, e privilegiariam o celibato, e consequentemente as relações homossexuais. Essa era uma das distinções das seitas dos Fariseus e dos Saduceus, como frisa Josephus nas Antiguidades (18.5.9 e em outras passagens). Distintos seriam também os Ammonitas e os Moabitas, descendentes de Ammon e de Moab, filhos das duas filhas de Lot, que após a mãe ter sido transformada em estátua de sal,  por se ter voltado para trás quando as cidades "malditas" eram destruídas pelo fogo e o enxofre, embebedaram o pai e tiveram relações sexuais com ele, assegurando a descendência. Este incesto é narrado com toda a naturalidade no referido capítulo do Génesis. Aliás, o incesto era frequente na Antiguidade (os faraós, por exemplo, casavam com as irmãs) e continua a sê-lo hoje, apesar dos tabus morais e jurídicos.

Segundo Tariq Ali, o professor Morton Smith, da Universidade de Columbia, descobriu num velho mosteiro perto de Jerusalém um documento (do ano A.D. 200, aproximadamente) de Clemente de Alexandria, um dos mais eruditos Padres da Igreja, que refere uma edição clandestina do Evangelho de S. Marcos (o primeiro bispo de Alexandria) que circulou na seita gnóstica fundada por Carpócrates de Alexandria. O texto em questão, que Clemente óbvia e veementemente critica, tece considerações acerca de Jesus em absoluto desacordo com a "verdade oficial".

Assim, e passo a citar em inglês: « after six days Jesus told him what to do and in the evening the youth came to him, wearing a linen cloth over his naked body. And he remained with him that night, for Jesus taught him the mistery of the Kingdom of God. And thence, arising, he returned to the other side of the Jordan». Ele vivia nuna aldeia não distante da zona governada pelos Essénios, próxima das ruínas da antiga Sodoma. Em outra passagem do texto, os Carpocratianos sugerem que «when the Roman guards came to arrest him, Jesus was naked with another man». Segundo Tariq Ali, esta seita gnóstica não via nisso algum mal e pode ter sido «the first Christian gay liberation group in history».

Muito mais, e historicamente apoiado, nos revela Os Protocolos dos Sábios de Sodoma, mas ficamos por aqui, acrescentando apenas que Jesus pertencia à seita judaica dos Essénios.

2 comentários:

Anónimo disse...

Para além de ficarmos mais informados sobre as "verdades" não oficiais, ainda temos grátis uma bela lição de História.
Claro que estas não as teses vaticanistas! Lol
Marquis

Anónimo disse...

Não conheço a autêntica origem dos Protocolos de Sião, mas que o que lá vem tem estado progressivamente a acontecer no mundo, lá isso é verdade.