sexta-feira, 12 de março de 2021

LE FATE IGNORANTI

Descobri, por mero acaso, o filme Le fate ignoranti (2001), do realizador turco Ferzan Özpetek (n. 1959), de quem conhecia Hamam (Il bagno turco), de 1997, o primeiro filme do cineasta, cujo DVD comprei pouco tempo depois da sua edição, e a que já me referi neste blogue.

Trata-se de um dos filmes mais interessantes que vi nos últimos tempos.

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Um rápido resumo do argumento: Antonia, médica, mulher atraente da boa sociedade italiana, com uns 40 anos, fica subitamente viúva quando seu marido, Massimo, homem da mesma idade, também muito interessante, é atropelado mortalmente por uma viatura ao atravessar uma rua (lembrei-me, inevitavelmente, de Roland Barthes, também atropelado mortalmente em Paris, na rua des Écoles, quando regressava de um almoço com François Mitterrand). Ao recolher os objectos do escritório do marido, Antonia observa um quadro com o título "Le fate ignoranti", com uma misteriosa dedicatória no verso, evocando um amor que já dura há sete anos. Tendo ambos constituído um casal exemplar, Antonia fica estupefacta ao descobrir que o marido possuía afinal uma amante. E empreende as pesquisas necessárias para averiguar de quem se tratava. É, porém, confrontada com uma inesperada realidade. O marido não conservava uma amante mas um amante: Michele, um rapaz empregado num lugar de fruta de um mercado. Refeita da surpresa, tenta compreender essa relação, descobrindo que o rapaz, que nutria uma verdadeira paixão pelo seu marido, vivia numa espécie de comunidade, uma família grande (obviamente sem qualquer relação com a recente "família grande" descrita por essa gaja, filha do Bernard Kouchner e enteada do Olivier Duhamel), constituída por rapazes e homens gays, por lésbicas, travestis, etc. Antonia começa a afeiçoar-se a tão original família e como médica acaba mesmo por tratar Ernesto, um belíssimo jovem gay, recentemente infectado de sida e que se vê numa fotografia fardado dos carabinieri, de guarda à Presidência da República, no Palácio do Quirinal.

É evidente que esta situação não é tão original como parece e foi, e ainda é, uma situação muito normal nos nossos dias, e em todos os países, mesmo com o coming out de origem americana que pretende implantar urbi et orbi os movimentos LGBTQI+++++, desnudando as relações que só podem ser cultivadas numa atmosfera de alguma ambiguidade e mistério.

* * * * *

Verifico que este filme, largamente premiado, foi reconhecido como de interesse cultural pelo Ministério da Cultura italiano e que Ferzan Özpetek é autor de mais de uma dezena de películas que desconheço. Procurarei informar-me da sua filmografia numa próxima oportunidade.


1 comentário:

Anónimo disse...

Será com certeza um filme muito interessante.

Vou tentar comprar.

Obrigado pela notícia.