sexta-feira, 19 de março de 2021

BENVENUTO CELLINI

Dizia-me, há muitos anos, um erudito francês já falecido, que Berlioz era o Beethoven que os franceses puderam arranjar. Já nessa ocasião ouvira a afirmação com reservas e considero hoje que Hector Berlioz (1803-1869) é um grande compositor romântico, embora nem sempre apreciado no seu tempo, especialmente na sua terra natal. Autor de uma vasta obra, em que se destacam óperas como Benvenuto Cellini, Les Troyens ou La Damnation de Faust ou sinfonias como a Symphonie Fantastique ou Roméo et Juliette, ou ainda música religiosa como a Messe Solennelle, o Te Deum e o Requiem (Grande Messe des Morts), Berlioz é uma figura incontornável no panorama musical francês.

A ópera Benvenuto Cellini, com libretto de Léon de Wailly e Henri Auguste Barbier, estreou-se na Opéra de Paris em 1838, e foi mal recebida pelo público, também devido a uma cabala organizada pelos adversários do compositor. Foi apresentada mais tarde por Liszt, em Weimar, e no Covent Garden, obtendo assinalável êxito e passou a integrar, ainda que não assiduamente, o repertório dos teatros líricos. 

Perseu

A acção desenrola-se em Roma, durante o pontificado de Clemente VII, entre a véspera de Terça-feira de Carnaval e Quarta-feira de Cinzas e está em questão a fundição da célebre estátua de Cellini "Perseu com a cabeça de Medusa", e também a paixão do escultor pela filha do tesoureiro do Papa. Algumas personagens são reais, mas a estátua não foi encomendada pelo pontífice romano mas pelo duque Cosme de Médici, e o lugar em questão não foi Roma mas Florença.

A famosa obra de bronze encontra-se na Loggia dei Lanzi, na Piazza della Signoria, em Florença, perto donde estivera o "David", de Miguel Ângelo, hoje na Galleria dell'Accademia, substituído no lugar original por uma cópia.

A presente versão em DVD foi gravada em Maio de 2015, na Ópera Nacional dos Países Baixos, em Amesterdão, com interpretação da Orquestra Filarmónica de Roterdão, dirigida por Sir Mark Elder, e de um naipe de excelentes cantores, ainda que não conhecidos internacionalmente do grande público.

Tratando-se de uma ópera semi-cómica, a encenação de Terry Gilliam (uma co-produção com a English National Opera e o Teatro dell'Opera di Roma) satisfaz aos requisitos, surgindo semi-moderna, por vezes circense (estamos no Carnaval), sexualmente ousada e até algo irreverente em relação aos cânones estabelecidos. 

Possuo também uma versão em LP (1972), com a BBC Symphony Orchestra, dirigida por Sir Colin Davis, e Nicolai Gedda no protagonista.

Nos anos 1960, o maestro Sir Colin Davis (1927-2013) iniciou a gravação da obra integral sinfónica, operática e religiosa do compositor, comemorando o centenário da sua morte e depois o bicentenário do seu nascimento, tornando-se assim um dos seus mais famosos intérpretes.


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