quarta-feira, 18 de março de 2015

O ATENTADO NO MUSEU DO BARDO




O atentado desta manhã no Museu do Bardo, em Tunis, já amplamente noticiado pela comunicação social nacional e estrangeira, é um acto de intenções bem determinadas, ignorando-se a identidade dos mandantes, uma vez que o mesmo ainda não foi reivindicado.

Não restam, porém, dúvidas, que se tratou de uma acção de terroristas islâmicos com o propósito de desestabilizar o país e provocar um golpe fatal no turismo, uma das receitas substanciais da Tunísia (representa cerca de 10% do PIB e emprega à volta de 15% da população activa), que recebe anualmente uma média de seis milhões de visitantes.

O ataque no Bardo provocou 19 (ou 22 conforme as fontes) mortos e 42 feridos, na quase totalidade turistas estrangeiros que visitavam o famoso Museu, que alberga uma das mais preciosas colecções de mosaicos romanos do Norte de África, incluindo os que foram retirados, com intenção de preservá-los, dos seus locais originais em Cartago.

Visitei diversas vezes o Museu do Bardo, nas 29 deslocações que, durante anos e a vários títulos, efectuei à Tunísia. Fotografei (e fotografei-me junto a) algumas das suas peças, apesar de dispor do respectivo catálogo, e mostrei mesmo o Museu a jovens tunisinos que nunca o tinham visto. Sendo um sítio que se me tornou familiar sinto-me, também eu, intimamente agredido por tão inqualificável acto.

Conservo da Tunísia e dos tunisinos em geral a melhor das impressões e acompanho-os neste momento de luto nacional. As acções pretensamente cometidas em nome do islão por indivíduos que, muitos deles, nem acreditam possivelmente em deus, é uma fatalidade dos nossos dias. Conheço a maior parte dos países árabes e, naturalmente, tenho convivido com os seus habitantes, por definição muçulmanos (à excepção dos coptas no Egipto) e sei que a religião que praticam nada tem a ver com a violência que se vem registando não só sobre europeus, cristãos ou ateus, mas igualmente sobre árabes e muçulmanos.



Os atentados islamistas não são de hoje, basta recordar os actos violentos praticados desde há décadas, nomeadamente no Egipto. Mas a sua expressão actual agudizou-se nos últimos tempos com a evocação de ressentimentos milenares, de factos de que já ninguém se lembra, mas também de ressentimentos mais próximos, como a eternização do conflito israelo-palestiniano ou a inconcebível invasão do Iraque. O Ocidente, em geral, e os Estados Unidos, em particular, e também os ingleses, têm usado de uma hipocrisia afrontosa no seu relacionamento com o Mundo Árabe.

É claro que nada justifica o terrorismo, que acaba, quase sempre, por vitimar inocentes. Mas seria bom que os dirigentes mundiais meditassem sobre as consequências dos seus actos.


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