quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

TUT-ANKH-AMUN (3)

Prosseguindo na (re)visitação de obras sobre o Egipto Antigo, li agora O Caso Tutankhamon (1995), no original L'Affaire Toutankhamon (1992), de Christian Jacq (n. 1947).

O autor é um conhecido escritor francês, autor de uma cinquentena de livros, dedicados especialmente ao Egipto, situados entre a história e a ficção, uma parte dos quais a Bertrand editou nos anos noventa do século passado.

Retoma esta obra a descoberta do túmulo de Tut-Ankh-Amun, no Vale dos Reis, fazendo todavia recuar a narrativa à infância de Howard Carter, o descobridor, e de Lord Carnarvon, que subsidiou durante anos as pesquisas que conduziram ao achado. 

Importa referir desde já que a tradução é medíocre e mesmo muito má no que toca aos nomes próprios. Em matéria de nomes próprios, quer hieroglíficos, quer árabes, as melhores transliterações são, inegavelmente, as inglesas. Em relação à língua árabe, as traduções francesas são um desastre.

Neste livro, Christian Jacq recria o percurso familiar e afectivo de Carter e Carnarvon até ao encontro destes, e debruça-se depois sobre as nem sempre fáceis relações entre ambos (os dois tinham mau feitio), que não impediram contudo uma colaboração activa que se saldaria pela descoberta do único túmulo faraónico encontrado (quase) intacto até aos nossos dias.

Tem a obra mais de 500 páginas e a parte não respeitante ao encontro da tumba (que todos conhecemos através das muitas centenas de livros já publicados) é predominantemente ficcional, embora alguns aspectos tenham carácter biográfico. A parte propriamente histórica não traz novidades, embora haja algumas imprecisões e até alguns disparates. 

Não pude naturalmente confirmar se Carter durante a permanência no Egipto, teve uma amante local  muçulmana, nem se teve uma paixão pela filha de Lord Carnarvon, e algumas das personagens que aqui circulam em terras do Nilo são obviamente fictícias. Outras são realmente históricas, embora nem todas as verdadeiras figurem no texto, mas como o livro original foi publicado em 1992 (há 30 anos) poderá dar-se o caso das mais recentes investigações na matéria não serem do conhecimento de Christian Jacq.

Também é interessante que o autor mencione, coisa menos bem conhecida, os contactos havidos entre Calouste Gulbenkian e Howard Carter, mencionados no catálogo da recente exposição "Faraós Superstars". De facto, Gulbenkian consultou Carter antes de alguma aquisições de obras egípcias, e até adquiriu outras por seu intermédio. 

As muitas repetições de situações ao longo do texto tornam o livro demasiado extenso. Parece que o autor pretendeu escrever um tão grande número de páginas apenas para editar uma obra volumosa. Uma leitura que se revelara interessante no início torna-se fastidiosa à medida que nos aproximamos do fim.

Termino, notando que os episódios finais relativos à descoberta do sarcófago, dos caixões interiores e da múmia são confusos e não se encontram descritos de acordo com as obras de egiptologia que relatam o acontecimento, a começar pelas próprias "memórias" de Howard Carter.


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