quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

BENTO XVI

Realizaram-se hoje, na Praça de São Pedro, as cerimónias fúnebres do sepultamento do Papa Emérito.

Bento XVI foi uma figura controversa. Considerado como teólogo progressista aquando do Concílio Ecuménico Vaticano II, foi, depois de elevado ao sólio pontifício, acusado de ser integrista, reaccionário e até nazi. Nem uma coisa, nem outra.

Não tenho eu competência para me pronunciar sobre o magistério de Bento XVI, mas penso que tinha uma certa ideia do seu múnus não compatível com o materialismo contemporâneo. 

A Igreja Católica Apostólica Romana sofreu grandes modificações com o Concílio Vaticano II, as maiores desde o Concílio de Trento. A própria designação do Concílio foi objecto de polémica. Como é conhecido, decorria em Roma o I Concílio do Vaticano, convocado por Pio IX, quando, em 1870, Roma foi tomada pelo exército de Vítor Manuel II, já então intitulado rei de Itália. O Concílio foi então suspenso mas não encerrado. Quando, em 1962, o papa João XXIII convocou um novo concílio ecuménico, colocou-se a questão se saber se era um segundo concílio do Vaticano ou a segunda parte do I Concílio do Vaticano. Os peritos, sempre hábeis em encontrar fórmulas, entenderam denominá-lo Concílio Ecuménico Vaticano II, o que satisfez ambas as opiniões.

Com o Concílio Vaticano II, João XXIII pretendia um certo aggiornamento da Igreja. Houve prolongadas discussões sobre os mais variados aspectos eclesiais, no sentido mais amplo. Tão longas, que o Concílio só seria encerrado pelo papa Paulo VI. Desde então, muita coisa mudou na Igreja, na Igreja e no mundo. João XXIII e Paulo VI eram homens de bem, mas talvez não tenham sabido, ou podido, encontrar a justa medida das transformações da Igreja. O pontificado seguinte, de João Paulo I, foi tão breve que não permitiu qualquer intervenção no seio da comunidade. E o pontificado posterior, de João Paulo II, muito comprometido com um certo "ocidentalismo" que haveria de produzir as mais trágicas consequências, não foi de molde a resgatar a Igreja de alguns "erros" do passado recente.

Coube a Bento XVI a tarefa de re-orientar, num mundo globalizado, para o bem e para o mal, a presença da Igreja, enquanto organização multissecular e comunidade de fiéis. A História julgará o seu pontificado.


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