«The mystery of love is greater than the mystery of death» - Oscar Wilde, Salome
Prosseguindo a colecção de DVD's de Salome, de Richard Strauss (1864-1949), recebi a gravação do Felsenreitschule (Salzburg Festival) de Julho de 2018. Interpretação da Wiener Philharmoniker, dirigida por Franz Welser-Möst e encenação de Romeo Castellucci.
O libretto da ópera é baseado na peça homónima de Oscar Wilde, traduzida para alemão por Hedwig Lachmann e adaptada pelo próprio Richard Strauss. O texto de Wilde está impregnado de profunda sensualidade, que Strauss nos consegue transmitir pela sua música. Algumas encenações conseguem realçar esse clima, tornando-o ainda mais evidente, como no caso presente ou, por exemplo, na concepção de David McVicar, no Covent Garden. A ópera foi estreada em Dresden, em 9 de Dezembro de 1905.
Nesta produção, a protagonista foi a soprano armeno-lituana Asmik Grigorian, que emprestou ao papel a carga erótica indispensável, quer pela prestação cénica, quer pela prestação vocal. As personagens deste espectáculo aparecem todas com uma máscara vermelha pintada na cara (premonição?), à excepção de Herodíade, com máscara verde, de Jochanaan, com toda a cara pintada de preto, e de Salomé, sem a cara pintada. O facto de Jochanaan surgir como preto é uma profunda ironia, já que Salomé lhe gaba a pele branca como marfim, mas contribui para acentuar a sensualidade da circunstância, dado que aos negros é atribuída poderosa carga erótica.
Curiosamente, a Dança dos Sete Véus não é executada cenicamente, permanecendo Salomé acocorada sobre um plinto onde está inscrita a palavra SAXA (Uma palavra da inscrição TE SAXA LOQUUNTUR - As pedras falam de ti -, que se encontra sobre uma das duas portas do túnel de Mönchsberg, em Salzburg). O encenador faz apelo a todos os meios que concorram para evidenciar a atmosfera sexual do espectáculo, não só heterossexual mas igualmente homossexual. Importa não esquecer que o assédio de Salomé a Jochanaan consubstancia o assédio que o próprio Wilde (que se oculta na personagem de Salomé) faria a um belo rapaz como é suposto ser João Baptista. A cena em que Salomé, que enverga um vestido branco manchado de sangue menstrual, acaricia o corpo decapitado de Jochanaan (um modelo muito bem construído) e beija a cabeça decapitada de um cavalo (também de superior confecção), idêntica à do cavalo autêntico que já surgira no palco, é de uma sexualidade mórbida, de acordo com a conclusão da ópera, quando Herodes clama: "Matem essa mulher".
2 comentários:
Fiquei curioso, a única vez que vi esta ópera ao vivo foi em 2009, no TNSC, uma merda como nunca vista.
Rui Gonçalves.
Em 2009 já não frequentava o Teatro. Recordo-me de lá ter visto umas duas boas "Salomé". Tenho algumas excelentes gravações em DVD e estou à espera de mais.
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