segunda-feira, 19 de abril de 2021

SALOME

 «The mystery of love is greater than the mystery of death» - Oscar Wilde, Salome

 

Prosseguindo a colecção de DVD's de Salome, de Richard Strauss (1864-1949), recebi a gravação do Felsenreitschule (Salzburg Festival) de Julho de 2018. Interpretação da Wiener Philharmoniker, dirigida por Franz Welser-Möst e encenação de Romeo Castellucci.

O libretto da ópera é baseado na peça homónima de Oscar Wilde, traduzida para alemão por Hedwig Lachmann e adaptada pelo próprio Richard Strauss. O texto de Wilde está impregnado de profunda sensualidade, que Strauss nos consegue transmitir pela sua música. Algumas encenações conseguem realçar esse clima, tornando-o ainda mais evidente, como no caso presente ou, por exemplo, na concepção de David McVicar, no Covent Garden. A ópera foi estreada em Dresden, em 9 de Dezembro de 1905.

Nesta produção, a protagonista foi a soprano armeno-lituana Asmik Grigorian, que emprestou ao papel a carga erótica indispensável, quer pela prestação cénica, quer pela prestação vocal. As personagens deste espectáculo aparecem todas com uma máscara vermelha pintada na cara (premonição?), à excepção de Herodíade, com máscara verde, de Jochanaan, com toda a cara pintada de preto, e de Salomé, sem a cara pintada. O facto de Jochanaan surgir como preto é uma profunda ironia, já que Salomé lhe gaba a pele branca como marfim, mas contribui para acentuar a sensualidade da circunstância, dado que aos negros é atribuída poderosa carga erótica. 

Curiosamente, a Dança dos Sete Véus não é executada cenicamente, permanecendo Salomé acocorada sobre um plinto onde está inscrita a palavra SAXA (Uma palavra da inscrição TE SAXA LOQUUNTUR - As pedras falam de ti -, que se encontra sobre uma das duas portas do túnel de Mönchsberg, em Salzburg). O encenador faz apelo a todos os meios que concorram para evidenciar a atmosfera sexual do espectáculo, não só heterossexual mas igualmente homossexual. Importa não esquecer que o assédio de Salomé a Jochanaan  consubstancia o assédio que o próprio Wilde (que se oculta na personagem de Salomé) faria a um belo rapaz como é suposto ser João Baptista. A cena em que Salomé, que enverga um vestido branco manchado de sangue menstrual, acaricia o corpo decapitado de Jochanaan (um modelo muito bem construído) e beija a cabeça decapitada de um cavalo (também de superior confecção), idêntica à do cavalo autêntico que já surgira no palco, é de uma sexualidade mórbida, de acordo com a conclusão da ópera, quando Herodes clama: "Matem essa mulher".

 

2 comentários:

Anónimo disse...

Fiquei curioso, a única vez que vi esta ópera ao vivo foi em 2009, no TNSC, uma merda como nunca vista.
Rui Gonçalves.

Blogue de Júlio de Magalhães disse...

Em 2009 já não frequentava o Teatro. Recordo-me de lá ter visto umas duas boas "Salomé". Tenho algumas excelentes gravações em DVD e estou à espera de mais.