sábado, 17 de abril de 2021

OS TROIANOS

Recebi (e vi e ouvi) o DVD de Les Troyens, grande (em todos os aspectos, neste disco 4 horas, para cinco actos) ópera de Hector Berlioz (1803-1869), gravada no Palau de les Arts "Reina Sofía", em Valência, em 9 de Novembro de 2009.

Notável naipe de cantores, entre os quais a portuguesa Elisabete Matos, no papel de Cassandra. Bailarinos do Teatro Mariinsky, de São Petersburgo. Coro da Generalitat Valenciana. Música de palco da Fundacion Desarroya. Orquestra da Comunitat Valenciana. Direcção musical de Valery Gergiev.

Encenação espectacular e espacial (o Cavalo de Troia é um OVNI incrustado de diamantes e os intérpretes sugerem astronautas) de La Fura dels Baus, com direcção de Carlos Padrissa.

O libretto é do próprio Berlioz, a partir da Eneida, de Virgílio. A ópera compõe-se de duas partes: "A Tomada de Troia" (actos I e II) e "Os Troianos em Cartago" (actos III, IV e V). Foi assim que assisti à ópera apresentada em dois espectáculos no Teatro Nacional de São Carlos, em data que agora não lembro.

A apresentação de "Os Troianos em Cartago" teve lugar em 1863, no Théâtre-Lyrique de Paris. "A Tomada de Troia" só aconteceu em 1879, já depois da morte de Berlioz, no Théâtre du Châtelet, e em versão de concerto. A primeira versão cénica completa, ainda que em duas partes, em dias consecutivos, ocorreu em 1890, no Hoftheater, de Karlsruhe. A primeira representação integral só ocorreu em 17 de Setembro de 1969, em Londres.

A 1ª parte evoca o cerco e destruição de Troia, as profecias de Cassandra, a entrada na cidade do célebre Cavalo e a fuga de Eneias para Itália com o tesouro de Príamo. A 2ª parte relata a chegada de Eneias a Cartago, onde reina a poderosa Dido, o amor entre ambos, a sua decisão de permanecer com ela, que é abandonada quando as sombras dos mortos o exortam a rumar finalmente a Itália. Abandonada, Dido queima todas as recordações de Eneias e apunhala-se, vendo nesse momento a irresistível ascensão de Roma, o que provoca a hostilidade eterna dos cartagineses ao futuro império.

A encenação, ao transportar o mundo antigo para a época moderna, evoca os vírus informáticos (um deles se chamou "cavalo de Troia") e a sociedade tecnológica dos nossos dias, não faltando um acelerador de partículas, computadores portáteis e toda a parafernália electrónica contemporânea. Vivemos numa sociedade digital que mina e destrói a nossa civilização, cega e surda aos "avanços científicos" que concorrem para a sua perda, como outrora os avisos de Cassandra foram ignorados pelos troianos.

Grande, e apocalíptico, espectáculo, que mereceu os aplausos do público, mas que, na sua modernidade, não consegue porventura reproduzir todo o clima da obra de Virgílio. Mesmo assim, talvez Berlioz tivesse gostado! 

Possuo uma antiga gravação em LP, a primeira gravação (de referência) desta ópera (Setembro a Outubro de 1969), realizada no Walthamstow Town Hall, com o mesmo elenco da estreia em Londres nessa data, sendo o Coro e a Orquestra da Royal Opera House Covent Garden, dirigidos por Sir Colin Davis.

Comprei há anos uma outra gravação em DVD, realizada em Outubro de 2003, no Théâtre du Châtelet, em Paris, com um elenco de prestigiados cantores e a Orchestre Révolutionnaire et Romantique, com direcção musical de Sir John Eliot Gardiner e encenação de Yannis Kokkos.

 

Walthamstow Town Hal <i><font style="vertical-align: inherit;"></font></i>Discografia de <i><font style="vertical-align: inherit;">Les Troyens</font></i><font style="vertical-align: inherit;"> - https://pt.qaz.wiki/wiki/Les_Troyens_discography
Walthamstow Town Hal <i><font style="vertical-align: inherit;"></font></i>Discografia de <i><font style="vertical-align: inherit;">Les Troyens</font></i><font style="vertical-align: inherit;"> - https://pt.qaz.wiki/wiki/Les_Troyens_discography

2 comentários:

Anónimo disse...

Quem apresentou uma versão no TNSC muito interessante foi o Paulo Ferreira de Castro. Outro tempo.
Rui Gonçalves

Blogue de Júlio de Magalhães disse...

Vi a ópera no TNSC, há bastantes anos, em dois dias. Ainda devo possuir os programas mas encontram-se em sítio de difícil acesso. Depois de frequentar o TNSC assiduamente durante mais de 4o anos, o abaixamento de nível (e até o encerramento provisório do Teatro) determinou a a cessação das minhas idas. Nesse período de retiro, ainda lá fui uma vez com um amigo para lhe mostrar o "Fausto", mas a encenação era tão ridícula que fiquei arrependido.