terça-feira, 11 de julho de 2017

O "RIGOLETTO" EM BUDAPESTE




A Ópera do Estado Húngaro apresentou há dias, no último espectáculo da temporada, o Rigoletto, de Verdi, servido por um notável elenco nacional, que aviva as saudades da Companhia Portuguesa de Ópera, da ex-FNAT, criada pelo dr. Serra Formigal, no tempo de Salazar, e extinta depois da Revolução de Abril.


Excelentemente preparada, a Orquestra da Ópera Húngara foi dirigida pelo maestro Halász Péter e a responsabilidade da encenação coube a Szinetár Miklós e Harangi Mária.


Os cantores, que indicaremos a seguir, tiveram um notável desempenho, especialmente para as personagens de Rigoletto e de Gilda, mas o conjunto revelou-se equilibrado e digno dos melhores palcos internacionais.



O espectáculo seguiu uma encenação mais ou menos convencional, quer em termos de cenários e de figurinos, quer quanto à marcação, embora esta com alguns pormenores pretensamente inovadores mas provavelmente dispensáveis. A cena do conde de Monterone pecou por exagero e o regresso de Gilda dos braços do Duque para os do pai, depositada em cima da mesa do banquete, embrulhada num lençol, que depois se desenrolou, afigurou-se desnecessária, roçando mesmo o mau gosto.


Mas o que realmente importa salientar é a variedade e a frequência dos espectáculos operáticos de Budapeste, com lotações normalmente esgotadas, e um público social e etariamente diversificado.


Velhas tradições do Santo Império Romano-Germânico e da Europa Central e de Leste.




Sem esquecer que os imperadores Habsburg do Santo Império eram também reis da Hungria.


3 comentários:

Anónimo disse...

Suponho que teve o privilégio de ver um óptimo espectáculo, num óptimo teatro. Parabéns.

Anónimo disse...

Ouvir o Rigoletto na Hungria quando os deve haver frequentemente na abençoada

terra natal (do Rigoletto)é uma das originalidades do autor do blog,que evi-

dentemente se aceita. Agora só lembrar em comparação portuguesa,as produções

de um tal Formigal,quando a uns metros de distância tivemos o Gobbi (o máxi-

mo) e salvo erro o Capuccili,é menos compreensivel...

Blogue de Júlio de Magalhães disse...

Vi o "Rigoletto" em Budapeste, como poderia ter visto qualquer outra ópera. Acontece que era a última récita da "saison" e pretendia ouvir uma ópera naquela sala que, aliás, já conhecia de uma visita guiada efectuada aquando de anterior viagem.

Tal não invalida uma palavra de louvor ao dr. Serra Formigal pelo seu empenho em criar uma companhia portuguesa de ópera, que formou muito bons cantores (alguns que vierem a obter sucesso no estrangeiro) e que durante anos levou ao Teatro da Trindade milhares de melómanos. Experiência única efectuada em Portugal.

A extinção dessa companhia mais do que um crime, como diria Talleyrand, foi um erro. Os preços eram modestos e os espectáculos, sem alcançarem o nível internacional, eram na generalidade muito aceitáveis.

Ainda me recordo de ter visto na mesma temporada "O Barbeiro de Sevilha" no Trindade e no São Carlos, neste com elenco internacional. A nossa produção, com a orquestra dirigida pelo maestro Silva Pereira foi francamente melhor.

Nunca vi, que me lembre, o Gobbi no "Rigoletto", embora o tenha visto mais do que uma vez na "Tosca".

E Também o Becchi era muito bom no papel. Mas nem todos podiam ir ao São Carlos, quer pelos preços, quer pela lotação.

Nos últimos anos o São Carlos definhou. Era importante uma companhia portuguesa com repertório, onde se pudessem formar e afirmar novos valores portugueses.

Proponho que se restaure a antiga Companhia Portuguesa de Ópera e que volte a acontecer ópera no Trindade. O tempo dos Gigli, Caniglia, Stignani, Tajo, Callas, Cossotto, Capuccilli, Bruson, Christoff, Ghiaurov, etc., já passou. Há agora outros nomes. Porque não também portugueses?