terça-feira, 18 de julho de 2017
O 18 DE BRUMÁRIO DE EMMANUEL MACRON
Em 7 de Maio passado, Emmanuel Macron foi eleito presidente da República por pouco mais de 60% dos votos expressos, tendo-se registado uma inusitada abstenção de mais de metade dos eleitores franceses. Sinal preocupante dos tempos. Com um programa ambíguo, o movimento "En Marche!", capitalizou os votos dos descontentes com os partidos tradicionais e alienou a maior parte do eleitorado francês que não se revê nem nem em Macron, nem nos outros líderes concorrentes.
A irrupção de Macron na cena política francesa, depois de uma curta passagem pelo governo (donde prudentemente se afastou) durante a presidência de François Hollande, é um fenómeno que merece estudo, pelo que tem de insólito na história da V República. A sua ascensão à suprema magistratura da Nação, tal como que se processou, mutatis mutandis, é uma espécie de 18 de Brumário de Emmanuel Macron. Com todas as incertezas que a situação comporta. Julgo, porém, que Macron se considera já 1º Cônsul.
Em 1852, Karl Marx escreveu no jornal "Die Revolution", um trabalho mais tarde editado em livro milhares de vezes, O 18 de Brumário de Luís Bonaparte. A propósito da proclamação do presidente Luís Bonaparte, sobrinho de Napoleão I, como imperador dos franceses, Marx, desenvolvendo naquela obra a teoria da luta de classes e da revolução proletária, afirma, citando Hegel, que todos os grandes acontecimentos e personagens históricas se repetem uma segunda vez. E acrescenta, por seu turno: «a primeira vez, como tragédia, a segunda, como farsa.»
Macron julga sentir um certo apelo dos franceses à existência na chefia do Estado de uma personagem revestida de uma autoridade, não direi divina (o monarca já não é o ungido do Senhor), mas de características monárquicas. Na sua opinião há que preencher o vazio verificado no cume do Estado, por figuras tão grosseiras e incapazes como Nicolas Sarkozy e François Hollande. A V República, especialmente concebida para o general De Gaulle, viu passar Claude Pompidou, Valéry Giscard d'Estaing, François Mitterrand, que se comportou como um soberano, e mesmo Jacques Chirac, que sem a envergadura dos seus predecessores, ainda conseguiu manter a ideia de "une certaine grandeur de la France". Depois, foi a débâcle.
Todavia, nem Macron é Luís Bonaparte (mesmo assim filho de rei e sobrinho de imperador), nem os tempos que vivemos são os do século XIX. É verdade que se assistiu em França, nos últimos dez anos, a uma "normalização" da figura presidencial, quando os franceses pretendem exactamente o contrário. É esse retorno à versão monárquica do chefe do Estado que Macron pretende encarnar. O trono está vazio e importa ocupá-lo. Mas, sob a capa da democracia, o que se vislumbra desde a primeira hora é um gosto imoderado pelo totalitarismo.
A França possui instituições sólidas. Mas elas não impediram o Segundo Império ou o Regime de Vichy. Até onde conseguirá chegar Emmanuel Macron. Esta é a questão. Não é crível que a História se repita uma terceira vez.
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4 comentários:
Sem entrar na substância politica,que talvez comente oportunamente,venho agora
concordar que a V República viu efectivamente,e com agrado,passar a Claude
Pompidou,Senhora simpática e culta, mulher do presidente Georges Pompidou...
Tem toda a razão. Troquei (sabe Deus porquê ?) o nome do presidente Pompidou que era Georges e não Claude, nome de sua esposa. Aliás, Claude em francês é um nome equívoco (como mais alguns outros), pois tanto dá para o feminino como para o masculino.
Quanto à simpatia e cultura da Senhora, para sermos justos, há que citar igualmente Danielle Mitterrand. Mais nenhuma outra na V República.
A Anne-Aymone era simpática e elegante,não sei se culta, pois não tive ocasião
de a entrevistar. Mas suponho que a análise e hierarquização das Mulheres dos
presidentes franceses não faça parte das prioridades da investigação do autor
do blog,pelo que me fico por aqui.
Para o anterior comentador:
REALMENTE NÃO FAZ!
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