domingo, 26 de junho de 2016

AS ELEIÇÕES EM ESPANHA



As eleições legislativas de hoje em Espanha registaram um resultado que contrariou as primeiras sondagens. O PSOE manteve-se como segunda força política, não sendo ultrapassado pelo Podemos, como inicialmente se previu, mas ficando muito próxima. E o Ciudadanos, partido de centro-direita, baixou substancialmente a sua votação, com óbvia transferência de votos para o PP. A abstenção foi de 30%, o que manifesta um paradoxal e preocupante desinteresse da população (mas os cidadãos terão as suas razões).

Dos votos entretanto contados decorre que a Espanha se encontra dividida ao meio: a soma dos votos do PP e do Ciudadanos é sensivelmente igual à dos votos do PSOE e do Podemos. Isto é, temos duas Espanhas, uma de direita, conservadora, monárquica, católica e outra de esquerda, progressista, parcialmente republicana, laica. É por isso que recomendo a revisitação do livro de Fidelino de Figueiredo, As Duas Espanhas (1932), que referi aqui em 2011.


Aliás, esta partição ao meio dos países europeus é cada vez mais notória. O resultado do recente referendo no Reino Unido saldou-se praticamente por 50%/50%, com uma ligeira vantagem para o Brexit. As sondagens em França dão os resultados que se conhecem; na Itália, o Movimento Cinco Estrelas, de Beppe Grillo, não pára de subir e obteve há dias a Câmara de Roma. E por aí fora.

Para além da questão direita/esquerda existe a questão das secessões. A Escócia vai certamente abandonar o Reino Unido, como já foi afirmado publicamente pela sua primeira-ministra. E aguardemos pela Irlanda do Norte. A Catalunha continua a reivindicar a independência (como o País Basco) e acabará por obtê-la, com a consequente desagregação da Espanha. A Flandres quer separar-se da Valónia. Isto para citar apenas os casos mais evidentes. Talvez estas aspirações não se manifestassem  não fora a Guerra da Jugoslávia, que a Alemanha incentivou e o Vaticano apadrinhou, mas agora é tarde.

Aguarda-se com curiosidade como será formado o próximo governo espanhol, já que se exclui, pelo menos em teoria, um terceiro escrutínio. Uma aliança do PP com o Ciudadanos não chega, uma aliança do PP com o PSOE será uma certidão de óbito para o segundo, uma aliança do PSOE com o Podemos implica a aceitação de um referendo na Catalunha, que o PSOE dificilmente aceitará.

À medida que têm lugar eleições na Europa mais periclitante é o destino da União Europeia. Depois do Brexit, da vitória do Syriza na Grécia (com um governo provisoria e tacticamente calado), do governo (apoiado à esquerda) do PS em Portugal, um governo de esquerda em Espanha seria um pesadelo para a União (leia-se, para a Alemanha), isto além do persistente espectro da Frente Nacional, em França, e dos movimentos italianos.

É por isso que os próximos tempos, os próximos meses até ao próximo ano, nos reservarão certamente algumas surpresas.


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