sábado, 24 de janeiro de 2015
FRANÇOIS HOLLANDE - RETRATO DE UM CANALHA
O último livro de Jean-Luc Mélenchon, L'ère du peuple, que tem sido um best-seller em França, procede a uma análise impiedosa da situação actual no seu país e no mundo. Nem sempre escrito no melhor estilo, como o próprio autor reconhece, a obra debruça-se sobre questões sociais, económicas, financeiras, ecológicas e políticas (que obviamente incluem as anteriores).
Entende Mélenchon que é indispensável a convocação de uma assembleia constituinte com vista a instaurar a VI República, considerando definitivamente gasto o modelo actual, desenhado segundo o perfil do general De Gaulle e que foi sucessivamente adulterado pelos seus sucessores.
Não podendo descrever aqui as teses do autor, não deixarei de registar as apreciações que faz em relação à Esquerda, ao Partido Socialista francês e a François Hollande. Nunca os ideais de esquerda foram tão renegados em França como nos dois anos e meio do mandato de Hollande, que se apresentou ao eleitorado como uma consistente alternativa aos delírios de Nicolas Sarkozy. Verdadeiramente, o voto em Hollande foi um voto pela negativa. Os franceses votaram Hollande para correr com Sarkozy. Esperavam, pelo menos, uma inversão de rumo, uma atitude de firmeza face a Angela Merkel, a anunciada renegociação do tratado orçamental, uma travagem na destruição do Estado social, a revisão da carga fiscal, um não alongamento da idade da reforma, uma politica de firmeza face a Israel, etc.,etc. Mas só colheram desilusões. Hollande sacrificou no altar do mais desabusado liberalismo e da maior subserviência face à Alemanha e aos Estados Unidos. A interdição do sobrevoo da França pelo avião do presidente boliviano Evo Morales devido à simples injunção de um funcionário da CIA, o silêncio perante a declarada espionagem americana de milhões de franceses e das embaixadas francesas no mundo, o apoio a Netanyahu no momento dos crimes de guerra contra a população de Gaza, o abandono da siderurgia, da Alstom, da indústria aeronáutica, da química farmacêutica ou do cabo submarino para a internet são apenas algumas das manchas do seu mandato. Hollande que dizia antes das eleições: «Mon enemmi, c'est la finance !». E que, com inaudito desplante, fez, após eleito, exactamente o contrário do que prometera. Hollande que nomeou primeiro-ministro o ambicioso, inculto e pouco escrupuloso Manuel Valls que afirmou «la gauche peut mourir» e que propôs que o Partido Socialista francês deixasse de chamar-se "socialista".
Trancrevo algumas linhas: «François Hollande a amplement et cruellement dépouillé les gens do commun de tout ce qui compte pour eux. Salaires, santé, retraites, services publics, protections du droit de travail, organisation républicaine de l'État, indépendance nationale et combien d'autres choses essentielles ont été davantage dévastés par Hollande que par aucun de ses prédécesseurs de droite. C'est pire que Sarkozy, la honte en plus pour nous car nous l'avons élu.» (p. 18)
Não é necessário alongarmo-nos na descrição das turpitudes referidas por Mélenchon, a maioria das quais é do conhecimento público mesmo entre nós. Nem sequer tecer quaisquer considerações à risível vida privada de Hollande, que por ser privada não cabe nesta apreciação, salvo quando interfere com a esfera pública.
Mas não podemos deixar de registar que o retrato que Jean-Luc Mélechon traça de François Hollande nas páginas do seu livro é o retrato de um verdadeiro canalha.
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