No mês passado publicámos um post sobre o Cemitério do Père Lachaise. Voltamos hoje ao "reino dos mortos" discreteando sobre o Panthéon.
Templo cívico da França, o Panthéon começou por ser uma igreja dedicada a Santa Genoveva, em cumprimento de uma promessa de Luís XV, que atribuiu à santa a cura de uma doença grave. O projecto desta basílica foi confiado ao arquitecto Soufflot em 1755, tendo como ambição rivalizar com a basílica de São Pedro, em Roma. O edifício foi concluído em 1790, já sob a direcção de Jean-Baptiste Rondelet.
No mesmo local, fora erigida uma igreja real, por ordem de Clovis (ou Clodoveu), rei dos francos, em 496, dedicada à mesma Santa Genoveva, padroeira de Paris, cujo corpo foi inumado na cripta. Saqueada pelos normandos em 857, foi reconstruída no século XII mas com o passar dos anos o edifício foi-se degradando, encontrando-se no século XVII em perigo de ruir.
Todavia, em 1790, a França encontrava-se em ebulição revolucionária e o templo não chegou a ser consagrado. Surgiu então a ideia, devida ao marquês Charles de Villette, de transformar a igreja em "panteão" dos homens ilustres. Em 1791 são colocados no Panteão Mirabeau (que será retirado mais tarde) e Voltaire e em 1794, Marat, que será também posteriormente retirado. Em 1795 o edifício apresenta fissuras e a comissão nomeada para resolver a situação não chega a um acordo. A solução acabará por vir de Napoleão Bonaparte. A concordata de 1801, celebrada com o papa Pio VII, previa a reabertura dos lugares de culto. Em 1806, o imperador visita o templo, desbloqueia a verba necessária para o restauro e devolve o Panteão ao culto religioso (de Santa Genoveva), reservando todavia a cripta para a sua vocação cívica de túmulo dos homens ilustres, como se lê no frontão: "Aux grands hommes la patrie reconnaissante". Em 1816, Luís XVIII coloca a basílica sob a autoridade do arcebispo de Paris e assiste à cerimónia de consagração em 1822, após a realização de diversas obras.
Em 1830, Luís-Filipe restabelece o culto cívico e o clero abandona o templo. Em 1848, a II República, que sucedeu á monarquia de Julho, pretende fazer do Panteão o "Templo da Humanidade". Durante alguns meses, o físico Léon Foucault utiliza a cúpula para demonstrar a existência do movimento da Terra, suspendendo o pêndulo que o tornou célebre. O clero volta a regressar sob Napoleão III, em 1851, e o edifício volta a ser basílica nacional sob a invocação de Santa Genoveva. Estas voltas e reviravoltas levam Edgar Quinet a escrever: «Monument de Janus au double visage, l'un tourné vers le passé, l'autre vers l'avenir, il change de nom suivant la différence des temps.»
Com a queda do Segundo Império, em 1870 é proclamada a III República, mas as forças prussianas que cercam Paris disparam sobre a basílica, provocando significativos estragos. Em 1871, uma facção revolucionária insurge-se contra as condições da paz de Versalhes e constitui a Comuna de Paris, que pretende substituir-se ao Estado centralizado. Os "communards" ocupam a basílica mas são desalojados, num banho de sangue, pelas tropas regulares de Mac-Mahon. Esta III República, cuja assembleia nacional é maioritariamente católica e monárquica, repara os estragos e mantém o culto religioso.
Com a morte de Victor Hugo, em 22 de Maio de 1885, o governo pode já, sem protestos, decretar o regresso do edifício ao seu destino cívico. Os funerais do escritor têm lugar a 1 de Junho, e o cortejo leva nove horas a desfilar. O Panteão será desde então, com sucessivas redecorações, o lugar dos túmulos dos grandes homens que mereceram o reconhecimento nacional. Aí estão sepultadas figuras que todos conhecemos, e muitas que, notáveis no seu tempo, são hoje praticamente desconhecidas não só dos estrangeiros como dos próprios franceses.
Já na V República, em 1964, o general De Gaulle preside à trasladação das cinzas de Jean Moulin, e em 1981 François Mitterrand entra sozinho no Panteão para depor uma uma rosa vermelha nos túmulos de Jean Jaurés, Victor Schoelcher e Jean Moulin, três defensores dos direitos do homem.
Em 1987 é inumado René Cassin, prémio Nobel da Paz, em 1989, Jean Monnet, fundador da comunidade europeia e em 1989, bicentenário da Revolução, o matemático Gaspar Monge, o Abbé Grégoire e o filósofo Condorcet. Em 1995 é a vez dos físicos Pierre e Marie Curie. Sob a presidência de Jacques Chirac, André Malraux entra em 1996 e com a maior pompa e circunstância, em 2002, Alexandre Dumas.
Registámos algumas imagens:
O pêndulo de Foucault |
A Convenção Nacional |
O coração de Léon Gambetta |
Voltaire |
Soufflot, o arquitecto do Panteão |
Jean Moulin, André Malraux, René Cassin, Jean Monnet |
Marie Curie |
Pierre Curie |
Alexandre Dumas |
Victor Hugo |
Jean Jaurés |
Rousseau |
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