segunda-feira, 4 de setembro de 2023

O PALÁCIO DO INQUISIDOR, EM MALTA

O Palácio do Inquisidor, situado na Vittoriosa, nome actual de Birgu, que foi capital de Malta depois de Mdina e antes de Valetta, foi construído, na versão actual, em 1660.

O edifício original, o Palazzo del Sant'Officio, foi erigido cerca de 1530, após a chegada dos Hospitalários a Malta, e foi inicialmente destinado a receber a Magna Curia Castellania e os tribunais civis. Estes transitaram para Valetta em 1571, quando o Grão-Mestre Pietro Del Monte mudou o centro administrativo da Ordem para a nova capital e o edifício ficou vazio durante anos. Em 1574, chegou a Malta, como representante do Papa, Monsenhor Pietro Dusina, com a missão de resolver a disputa entre o Bispo Martino Royas e o Grão-Mestre La Cassière. Foi Dusina o primeiro inquisidor-geral e delegado apostólico na ilha e o Grão-Mestre ofereceu-lhe o palácio como residência oficial do inquisidor pro tempore.

Palácio do Inquisidor

Antes da chegada de Dusina, o Bispo de Malta estava investido nos poderes de inquisidor e a audição dos casos realizava-se no palácio. Como este não estava preparado para as novas funções inquisitoriais, Dusina procurou acomodação alternativa no Forte de Sant'Elmo e depois no convento dominicano da Vittoriosa. Só mais tarde o edifício passou a Palácio do Inquisidor, tendo sido a residência oficial dos 61 sucessores de Dusina até 1798.

Ao longo dos anos os diversos inquisidores introduziram sucessivas modificações no edifício, construindo ou demolindo várias parcelas, razão pela qual o Palácio apresenta hoje uma configuração muito complexa. O mais antigo plano do edifício que é conhecido data de cerca de 1600.

Quando, em 1798, a Inquisição foi abolida em Malta por Napoleão, o palácio já era radicalmente diferente do edifício existente no fim do século XVI.

A Inquisição em Malta debateu-se sempre com problemas financeiros, especialmente no que se refere a obras e modificações no Palazzo Apostolico, tendo de recorrer várias vezes à Santa Sé. Os pontífices mais compreensivos foram Alexande VII (1655-1667) e Inocêncio XII (1691-1700) que tinham sido inquisidores em Malta. O primeiro, enquanto Fabio Chigi (1634-1639) e o segundo, como Antonio Pignatelli (1646-1649). As maiores transformações ocorreram nos anos 30 do século XVII com o Grande Inquisidor Fabio Chigi e, depois, com o seu sucessor Giovanni Battista Gori Pannellini. 

Não cabe aqui a descrição do sucessivo alargamento das instalações e dos melhoramentos introduzidos, mas uma das grandes preocupações foi a construção das celas dos presos, situadas no plano térreo e também no piano nobile, ao lado do tribunal e da sala de audiências. As últimas grandes transformações foram realizadas pelo inquisidor Giovanni Francesco Stoppani na década de 1730. Dotou o Palácio da entrada majestosa e da biblioteca e procurou transmitir, pelo simbolismo do edifício, uma imagem poderosa de si mesmo e da Inquisição em geral. Era uma forma de se distinguir dos outros, fossem iguais (e portanto rivais) ou inferiores. A mensagem destinava-se em primeiro lugar ao bispo de Malta e ao grão-mestre, mais ao último do que ao primeiro. 

Aspecto das celas

O último inquisidor, Giulio Carpegna, abandonou a ilha um mês antes da Inquisição ter sido extinta em Malta, por Napoleão Bonaparte, em Junho de 1798.

Durante a ocupação francesa as propriedades da Inquisição passaram para a governação civil e o Palácio foi utilizado como quartel-general do Comandante Noblet.

Durante a colonização britânica o Palácio foi utilizado inicialmente como hospital militar. Na década de 1830 foi transformado em messe dos oficiais que prestavam serviço na guarnição britânica do Forte de São Miguel, em Senglea. O exército ocupou o palácio a título perpétuo e sem pagamento, enquanto fosse necessário para uso militar. Durante a ocupação as forças britânicas procederam a grandes modificações, donde resultaram numerosos danos no edifício, que foi descaracterizado. O Palácio foi finalmente trocado pelos militares por três outros locais em Valetta. A transferência para o poder civil originou larga controvérsia porque o exército não pretendia abandonar o edifício devoluto pretextando outras utilizações. Houve mesmo planos para demolir o edifício e construir no lugar um bloco de apartamentos governamentais. 

Em 1924, a Comissão de Antiguidades considerou o imóvel de interesse histórico e que devia ser reparado e preservado e que não poderiam ser feitas alterações estruturais sem o seu prévio consentimento. Em 1926, o Palácio passou para o Departamento de Museus, integrado na secção de Belas Artes, sendo o curador Vincenzo Bonello. Este e o seu sucessor Antonio Sciortino procederam a consideráveis obras, que foram interrompidas pela Segunda Guerra Mundial. Sendo a Igreja da Anunciação e o Convento dos Dominicanos destruídos por um bombardeamento em 1941, os frades, para poderem continuar a sua actividade apostólica, foram transferidos para o Palácio em 18 de Dezembro de 1942. Os Dominicanos transformaram os dois grandes espaços do piano nobile em capela e a sala do tribunal em sacristia. Quando o seu Convento foi reconstruído, a ele regressaram em 1954, mas a capela permaneceu em actividade até 1960, altura em que se completou o restauro da Igreja da Anunciação. 

O Palácio reabriu finalmente ao público, em 21 de Fevereiro de 1966 e foi novamente reaberto oficialmente em 5 de Dezembro de 1981 como Museu de Folclore. Em 1992 foi instalado o Museu de Etnografia, procedendo-se à reconstrução do Palácio de acordo com a documentação pertencente aos Arquivos da Ordem de Malta existentes no Vaticano.

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