segunda-feira, 3 de julho de 2023

AUGUSTO E O IMPÉRIO

 

Lucius Munatius Plancus, que fora um dos mais próximos conselheiros de Marco António, começou a afastar-se deste acabando por sair do Egipto (31 AC) e regressar a Roma, desagradado, entre outras coisas, pela atitude de António ao divorciar-se de Octávia (irmã de Octávio).
 
Chegado a Roma, Plancus informou Octávio (César Augusto) de alguns dos segredos de Marco António, entre os quais que poucos anos antes este depositara o seu testamento no Templo de Vesta.
Octávio, vendo aqui uma oportunidade de descobrir algo que politicamente lhe conviesse, pediu às Virgens Vestais que lhe entregassem o documento, o que estas naturalmente recusaram. Então, decidiu ir pessoalmente ao Templo de Vesta e apoderou-se do documento pela força.
 
Depois, dirigiu-se ao Senado e leu as passagens que lhe interessavam para denegrir António. Este expressara o desejo de ser sepultado em Alexandria, deixava parte da herança aos seus filhos nascidos da ligação com Cleópatra e garantia que Ptolomeu Cesarion era filho biológico de Júlio César. Este último ponto era insuportável para Octávio, filho adoptivo de Júlio César e que se considerava o único herdeiro do Divino Júlio.
 
A leitura do testamento teve um duplo efeito nos senadores. Por um lado, consideraram um acto absolutamente extraordinário e intolerável o facto de Octávio se ter apoderado do testamento de Marco António, o que consubstanciava uma violação do sagrado. Mas, por outro lado, apreendiam sem margem de dúvida a "orientalização" de Marco António e a sua profunda ligação a Cleópatra, que era detestada em Roma. E a ideia de verem um dia António instalar-se em Roma com Cleópatra era-lhes insuportável.
Tendo chegado ao fim o prazo do Segundo Triunvirato, já não dispondo de protecção legal, apenas a do seu real poder na Itália, e estando Lépido, o terceiro triúnviro afastado, Octávio decidiu que era o momento de agir contra o seu colega. Dirigiu-se ao Campus Martius e procedeu ao sacrifício ritual no Templo de Bellona. Roma declarava oficialmente guerra ao Egipto.
 
Depois, ocorreu a controversa batalha de Actium, terrestre e marítima, que Octávio acabaria por vencer graças à estratégia de Agrippa, um grande comandante (que Octávio nunca fora) e à precipitada fuga de Marco António no encalço de Cleópatra, cuja frota abandonara o teatro de operações e regressara ao Egipto. 
 
Em 30 AC, Octávio conquistava Alexandria e Marco António e Cleópatra suicidavam-se. Caio (ou Gaio) Octávio (já então Octaviano) César, seria proclamado Augusto, o "princeps" (em 27 AC) e finalmente "imperium proconsulare maius" e "tribunicia potestas" (em 23 AC) e Pontifex Maximus (em 12 AC).
 
Gaius Octavianus Caeser Augustus passou a ser considerado pelos historiadores o primeiro imperador de Roma. Teoricamente, a República Romana mantinha-se!
 
 
Em 13 (os Idos) de Janeiro de 27 AC, Octávio proferiu no Senado um discurso que releva da mais sofisticada encenação teatral. Renunciou aos seus poderes anteriores para os devolver ao Senado e ao Povo Romano. Anthony Everitt transcreve a citação feita por Dion Cassius e que deve corresponder, aproximadamente, ao que Octávio declarou:
 
«I lay down my office in its entirely and return to you all authority absolutely - authority over the army, the laws and the provinces - not only those territories which you entrusted to me, but those which I later secured for you.»
 
itou algumas honras simbólicas conferidas pelos senadores e também o governo (que faria através de pro-cônsules), por dez anos, de uma grande "província": Espanha, Gália e Síria, o que correspondia ao comando de vinte (leais) legiões.
 
Recusando sempre qualquer ideia de restauração da Monarquia ou de governo ditatorial, aceitou ainda, notável inovação, um "cognomen", pelo que seria conhecido no futuro. Pretenderem atribuir-lhe, como segundo fundador de Roma, o nome do fundador original e primeiro rei de Roma, Romulus. Mas como isso faria dele um rei, declinou. Mas aceitou a designação de Augustus (aquele que é venerado), com um título mais modesto para o quotidiano: "princeps".

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