sábado, 22 de julho de 2023

RECORDANDO O IMPERADOR ADRIANO

Em Roma, nos Museus Capitolinos, junto a Adriano, em 2008

Publius AElius Hadrianus (76-138), o imperador Adriano, foi um dos mais notáveis governantes de Roma e um dos mais enigmáticos dos antigos romanos.

Curiosamente, verificou-se um silêncio sobre a sua vida. Apesar de atrair a atenção dos eruditos, no século passado rarearam as suas biografias. A sua reputação póstuma, por causa da paixão que dedicou ao jovem bitínio Antínoo, causou danos à sua imagem. O grande historiador alemão Theodor Mommsen (1817-1903), Prémio Nobel da Literatura e autor de uma monumental história de Roma (Römische Geschichte) considerou-o "repelente" e "venenoso". Os comentadores vitorianos e dos princípios do século XX ficaram embaraçados com o seu relacionamento homossexual e um deles argumentou, esperançadamente, que Antínoo era um filho ilegítimo do imperador. A bastardia, embora bastante má, era mesmo assim mais respeitável do que um amor que não ousa dizer o nome.

Houve uma autobiografia de Adriano e algumas histórias da sua época, de que apenas conhecemos o nome, porque os livros foram queimados nas fogueiras da Idade das Trevas, a que a Igreja presidiu durante séculos. 

Deve-se à escritora francesa Marguerite Yourcenar (1903-1987) a "ressurreição" do imperador, com a publicação do seu livro Mémoires d'Hadrien (1951), que registou o aplauso universal. Sob a forma de uma carta ao jovem Marcus Annius Verus (o futuro imperador Marco Aurélio), Adriano, aproximando-se da morte, evoca a sua vida para ilustração daquele que lhe sucederá no trono. Não será exagero dizer que, por um período, Madame Yourcenar suplantou os académicos e o seu Adriano foi recebido como uma verdadeira imagem do autêntico. Desde então, muitos anos se passaram, e as suas Mémoires, ainda que uma obra-prima, revelam mais das atitudes literárias francesas do que da Roma do século segundo.

As investigações posteriores a esta "história romanceada" mostram um imperador de carácter diferente do descrito por Marguerite Yourcenar, em nada lhe diminuindo, contudo, a grandeza do seu reinado, que pode ser verificada também na pedra dos teatros, templos, aquedutos e arcos que mandou construir ou nas inscrições que registam as suas decisões, discursos e correspondência oficial. A sua paixão por Antínoo está também largamente documentada.

Antínoo, em Roma, no PalazzoAltemps, em 2008

Voltaremos mais tarde a Adriano e a Antínoo.

Importa dizer que o imperador tinha adoptado (136) Lucius Ceionius Commodus como herdeiro, chamando-lhe Lucius Aelius Caeser. Dizem os críticos que Lucius foi escolhido mais pelo seu aspecto (talvez tivesse sido também amante de Adriano) do que pelas suas qualidades. Todavia, Lucius, que se encontrava doente, morreu prematuramente, o que transtornou os planos do imperador para a sua sucessão. Assim, procedeu a uma segunda adopção (138), a de Titus Aurelius Fulvius Antoninus (o futuro Antonino Pio), e a do jovem Marco Aurélio, para suceder no Império após a morte de Antonino, como viria a verificar-se.

Nas suas muitas grandezas e algumas misérias, Adriano é um dos mais fulgurantes princeps na longa galeria dos imperadores romanos.


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