quinta-feira, 13 de julho de 2023

A CIDADE DOS ANJOS CAÍDOS

Reli A Cidade dos Anjos Caídos, de John Berendt (2006), edição inglesa original The City of Falling Angels (2005), sobre a cidade de Veneza. É sempre um prazer regressar à capital da Sereníssima República, onde já estive, embora não o tempo suficiente para ver tudo o que é essencial, e especialmente para sentir o pulsar da velha metrópole, só permitido com o passar do tempo.

O livro descreve a cidade, seus principais palácios e igrejas, a maneira de ser dos venezianos e as intrigas e costumes da aristocracia, dos estrangeiros imigrados, do povo em geral. O ponto de partida, e que constitui o leitmotiv da obra, é o grande incêndio do Teatro La Fenice, ocorrido em 29 de Janeiro de 1996, um dia depois de o autor chegar a Veneza. As circunstâncias em que decorreu o incêndio do célebre teatro de ópera, um dos mais famosos do mundo, a procura de culpados (fogo posto ou negligência) e o interminável processo para os descobrir, o processo de reconstrução do edifício com todas as peripécias inerentes, tudo nos é descrito pelo autor, baseado nos factos e também na sua efabulação. Releve-se que a reconstituição da sala de espectáculos deveu bastante ao filme Senso, de Luchino Visconti, que começa exactamente com uma récita da ópera Il Trovatore, de Verdi, naquele teatro.

Uma noite, à porta do Teatro La Fenice, alguns anos atrás

Há abundantes referências às famílias nobres de Veneza e à sua rivalidade, a propósito do projecto Salvar Veneza, e também aos estrangeiros que se radicaram na cidade ou lá permaneceram largo tempo, hóspedes famosos, como o escritor Henry James e o poeta Ezra Pound, que viveu cinquenta anos na Calle Querini, nº 252 (o Ninho Secreto), com sua mulher Olga Rudge, e se encontra sepultado no cemitério da ilha de San Michele. 

É também largamente referida a morte do poeta homossexual Mario Stefani, que apareceu enforcado na cozinha da sua residência, e descrita a averiguação para determinar se teria sido suicídio ou crime. O poeta recebia amiúde em casa rapazes a quem pagava para ter sexo e deixou em testamento (um dos vários testamentos que sucessivamente modificava) uma vultosa quantia a um vendedor de fruta do bairro. Mas não se comprovou a intervenção do beneficiário na morte do poeta, que se encontrava deprimido, por solidão, que aliás proclamara ostensivamente nas ruas de Veneza, pouco tempo antes do desfecho fatal.

Também uma referência especial à arte do vidro, uma das especialidades de Veneza, alimentada por sucessivas gerações de conhecedores profundos do fabrico de verdadeiras obras de arte.

O título do livro refere-se a um aviso que esteve colocado em tempos ao lado da Igreja de Santa Maria della Salute, de cujo parapeito frontal caíra um anjo de mármore.


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