sábado, 22 de maio de 2021

O ANJO DE FOGO

Devo ao Nuno Vieira de Almeida a referência à ópera O Anjo de Fogo, de Prokofiev, que nunca tinha ouvido. Optei pelo DVD da versão de 1993, do Teatro Maryinsky, de São Petersburgo, que adquiri já usado, mas em estado impecável, uma vez que não existem na Amazon exemplares novos. 

Este espectáculo, com a orquestra do Teatro, dirigida por Valery Gergiev, e encenado por David Freeman, tem por intérpretes principais Galina Gorchakova (em Renata) e Sergei Leiferkus (em Ruprecht), com desempenhos notáveis.

O argumento desta ópera for escrito pelo próprio Prokofiev, a partir do romance homónimo (1908) de Valery Bryusov (1873-1924), e conta a história de uma possessão diabólica na Alemanha, na época da Reforma. 

O compositor introduziu algumas modificações no texto original, para que o libretto (dez vezes menos longo do que o romance) satisfizesse as exigências da partitura que escrevia, embora conservando escrupulosamente o sentido, o lugar e os protagonistas. Renata pretende ter sido visitada na infância por um anjo de fogo, Madiel, por quem se apaixonou, e que lhe prometeu regressar mais tarde sob a forma humana, na pessoa do conde Heinrich. Quando Ruprecht, após uma longa viagem, a encontra num albergue, ela apresenta sinais de demência, pretendendo ter sido amante do conde. Vivendo mais tarde em Colónia, Renata acaba por reencontrar o conde e incita Ruprecht a desafiá-lo em duelo. Ferido por Heinrich, que tomou as formas do anjo, entra em delírio e pensa que Renata é o diabo. Considerando o seu amor pelo conde como um pecado, Renata entra num convento, enquanto Ruprecht, sozinho, encontra numa taberna Mefistófeles e o Doutor Fausto, também convocados pelo autor para o diabólico final. No convento, Renata tem visões demoníacas e também as outras freiras dão sinais de demência. A Abadessa e o Inquisidor constatam que Renata está possuída pelo diabo e que só um exorcismo a pode salvar, mas é tarde e acaba por ser condenada pela Inquisição.

Assim, em traços muito largos, o enredo da ópera, onde o grupo de acrobatas do Maryinsky interpreta as tentações dos espíritos malignos, responsáveis pelas grandes alucinações demoníacas.

A música de Prokofiev exprime notavelmente o clima fantástico mas também realista do tema e a encenação de Freeman confere ao espectáculo uma atmosfera que oscila entre a narração meticulosa e o caos histérico.


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