Recebi esta semana a gravação de Die Zauberflöte, de Mozart, espectáculo realizado em 21 de Setembro de 2016, no Teatro alla Scala, de Milão.
Encenação justa e perfeita de Peter Stein, concebida com sabedoria, força e beleza e traduzida num clima pleno de alegria e vivacidade.
A interpretação coube aos Solistas, Coro e Orquestra da Accademia Teatro alla Scala, na maioria gente jovem, o que conferiu à representação uma alegria contagiante. Excelente direcção musical de Ádám Fischer.
De realçar a óptima prestação, cénica e musical, de Martin Piskorski, em Tamino e também de Till von Orlowsky, em Papageno e de Yasmin Özkan, na Rainha da Noite.
Estreou-se A Flauta Mágica em 1791, no Freihaus-Theater auf der Wieden, de Viena, mas o imenso sucesso desta ópera revelou-se já depois da morte do compositor. Devido ao génio de Mozart e ao denodado empenho do seu libretista e director do teatro, Emanuel Schikaneder, ambos franco-maçons, o que seria à partida uma zauberoper transformou-se numa extraordinária utopia moral, política e social, de que alguns aspectos permanecem ainda ignorados.
Obra iniciática, inscrita na época do Iluminismo, apresenta-nos, e esta encenação enfatiza-o, uma rápida reversão das forças do bem e do mal, encarnadas pela Rainha da Noite e por Sarastro, tendo por conclusão o triunfo do amor.
Esta encenação de Peter Stein, particularmente fiel ao libretto, foi considerada politicamente incorrecta, porque apresentou os escravos caracterizados como pretos, o que viola o pensamento único perfilhado por alguns loucos, em maior número que o desejável, do nosso tempo. Não me recordo de, há cinco anos, ter havido especiais protestos, mas estou certo que as aves "pretensamente anti-racistas" emitiriam hoje os seus gorjeios agoirentos, como se os negros tivessem deixado de existir. Felizmente, são cada vez mais numerosos. E não se pode/não se deve reescrever levianamente a História.
A gravação em LP desta ópera, com a Berliner Philharmoniker, dirigida por Herbert von Karajan, é uma obra de referência.
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