sábado, 27 de fevereiro de 2021

KRÓL ROGER

Vi hoje, em DVD, a ópera de Karol Szymanowski (1882-1937), Król Roger, na produção estreada em 2015 no Covent Garden e que foi apresentada pela primeira vez, em 19 de Junho de 1926, no Wielki Theatre de Varsóvia.

Compositor polaco, nascido na Ucrânia quando esta fazia parte do Império Russo, a sua obra musical é considerável e foi executada pelos mais notáveis intérpretes. Destaca-se nela a ópera Król Roger (Rei Rogério), inspirada n’As Bacantes, de Eurípides, da qual escreveu o libretto em conjunto com seu primo Jaroslaw Iwaszkiewicz.

Apaixonado pelo mundo árabe, e depois de uma estada no Maghreb, Szymanowski escolheu para tema a corte de Rogério II (1095-1154), rei da Sicília, onde coexistia uma forte presença cultural católica, bizantina e muçulmana. Aliás, foi exactamente na Sicília que passou a maior parte do seu tempo Frederico II (1194-1250), Santo Imperador Romano-Germânico, homem de leituras, protector das artes, interessado na cultura islâmica e que se rodeou de conselheiros árabes. Note-se que Frederico II era neto de Rogério II.

A intenção de Szymanowski, ao escrever esta ópera, foi estabelecer uma ponte musical, religiosa e filosófica entre o Oriente e o Ocidente, o que é mais ou menos evidenciado consoante as encenações.

A ópera foi baptizada com dois títulos alternativos, Rei Rogério ou O Pastor, tendo prevalecido o primeiro. De facto, há verdadeiramente dois protagonistas, o Rei, senhor todo-poderoso na Corte de Palermo, e o Pastor, que chega inesperadamente, qual o Visitante, no Teorema, de Pasolini, e que provoca a desordem sentimental da família.

Deve dizer-se que tanto Szymanovski como seu primo Iwaszkiewicz eram homossexuais, orientação que se reflecte nos seus escritos. O romance Efebos, do primeiro, perdeu-se num incêndio em 1939, mas o capítulo central fora traduzido para russo e oferecido pelo compositor, em 1919, a Boris Kochno, um bailarino então com 15 anos, seu amante durante algum tempo.

Nesta produção de Król Roger são intérpretes principais dois jovens cantores: o barítono polaco Mariusz Kwiecien, no papel de Rei e o tenor albanês Saimir Pirgu, no papel de Pastor. A orquestra da Royal Opera House Covent Garden foi dirigida por Antonio Pappano e o espectáculo foi encenado por Kasper Holten, numa perspectiva actualizada mas convincente, a que a dança orgíaca de nus masculinos no II Acto empresta um clima adequado às intenções do autor.

Fiz referência, há semanas, da outra gravação desta ópera em DVD, com a designação King Roger, apresentada no Festival de Bregenz, em 2009, com execução musical da Wiener Symphoniker, dirigida por Sir Mark Elder e encenação de David Pountney.

 

1 comentário:

breve encontro disse...

Adorei o texto sobre o compositor de cuja música (também para piano) gosto muito. Inclusive, o "Stabat Mater".
Apenas discutirá o termo "orientação"... Óbvia e quase mera questão semântica, eu sei😎