Revi ontem e hoje a Primeira Jornada de "Der Ring": "Die Walküre", na versão que já comentei a propósito do Prólogo.
Richard Wagner foi homem de grandes paixões e acumulou muito próximas, ou íntimas, relações femininas e masculinas: Wilhelmine Planer (Minna), Mathilde Wesendonck, Cosima Liszt ou Luís II da Baviera, por exemplo.
A sua vida caracterizou-se pela excentricidade e por uma fractura dos costumes, que a sua obra também revela. Em "Die Walküre", Wagner proporciona o encontro dos dois gémeos, Siegmund e Sieglinde, que procriam Siegfried, o qual, por sua vez, fará descobrir o amor a sua tia, a valquíria Brünhilde, filha de Wotan.
O incesto é tão antigo como a Humanidade, mas ao longo dos tempos tem constituído o tabu cultural por excelência, ainda que largamente praticado apesar da repressão social (e penal). No Antigo Egipto era comum e bem aceite (na Família Real era frequentemente usado). Também se verificava na velha Grécia (Sófocles encena o casamento de Édipo com sua mãe Jocasta, nas circunstâncias conhecidas) e igualmente em Roma, embora aqui menos tolerado.
Shakespeare revela-nos a paixão incestuosa de Hamlet por sua mãe Gertrude. Nos impérios Inca e Azteca foi comportamento utilizado, bem como em África (antes da chegada dos europeus) e em muitas regiões do Extremo-Oriente e da Oceânia. Freud analisou-o com pormenor em "Totem e Tabu" e Claude Lévi-Strauss debruçou-se sobre ele em toda a sua obra. A ele dedicou Yvan Simonis o livro "Claude Lévi-Strauss ou 'La Passion de l'Inceste'".
li dei" (Os Malditos), coloca na cama o jovem Martin von Essenbeck e sua mãe a baronesa Ingrid. E Bernardo Bertolucci, em "La luna", não hesita em mostrar Caterina Silveri a afagar seu filho, o adolescente Joe.
No seu último livro, "As Núpcias", Natália Correia ficciona também a relação entre um casal de irmãos incestuosos, reinterpretando o mito de Osíris e Isis.
Breves apontamentos registados de memória. Seria interessante revisitar a História.
(Publicado no Facebook em 18 de Fevereiro de 2021)
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