quinta-feira, 19 de setembro de 2019
ZINE EL ABIDINE BEN ALI
Morreu hoje em Djiddah (Arábia Saudita), o segundo presidente da República da Tunísia, Zine el Abidine Ben Ali.
Nascido em Hammam-Sousse (3 de Setembro de 1936), Ben Ali seguiu a carreira militar, atingindo o posto de general. Nomeado ministro da Segurança Nacional depois dos motins sangrentos de Janeiro de 1984, o presidente Bourguiba designou-o para a pasta do Interior em 1986 e em 2 de Outubro de 1987 escolheu-o como primeiro-ministro.
Tendo-se agudizado as lutas palacianas pela sucessão de Bourguiba, que manifestava evidentes sinais de senilidade, Ben Ali, mediante um relatório médico atestando a incapacidade do presidente, accionou o artigo 57º da Constituição de 1959, tornando-se, nos termos legais, presidente da República, em 7 de Novembro de 1987.
Eleito por sufrágio universal em 2 de Abril de 1989, foi sucessivamente reeleito em 1994, 1999 e 2009.
Na sequência das manifestações de Janeiro de 2011 (o começo da chamada "Primavera Árabe") e tendo perdido o apoio do exército, Ben Ali abandonou o país em 14 de Janeiro, refugiando-se na Arábia Saudita.
Não cabe aqui traçar a biografia de Ben Ali, mas importa dizer que os primeiros tempos da sua presidência foram bem acolhidos pelos tunisinos, à excepção, evidentemente, dos islamistas, que foram progressivamente mantidos à distância do Poder.
Deve-se a Ben Ali o notável desenvolvimento económico e social do país, apesar das grandes brechas difíceis de colmatar num território subdesenvolvido. As iniciativas tomadas no campo da instrução, o estatuto das mulheres, a construção de infraestruturas, os investimentos estrangeiros e a promoção do turismo, que tornou a Tunísia um lugar de eleição para os europeus, são medidas que devem ser-lhe creditadas. Conseguiu também manter uma efectiva segurança no país, embora à custa de medidas repressivas, mas talvez não pudesse ser de outra forma, como o demonstraram os sangrentos atentados ocorridos após a sua partida.
Presidente de um regime formalmente democrático, Ben Ali manteve uma rígida censura da comunicação social e um controlo apertado das oposições políticas, mas elevou inegavelmente o nível de vida dos tunisinos. Com a sua queda a Tunísia regrediu muitos anos e, por isso, apesar de viverem agora em democracia, são muitos os tunisinos que lamentam a sua destituição. O nível de vida é agora inferior em todo o país e a taxa de desemprego elevada.
A sua trajectória política não foi linear, tendo sempre tentado procurar um equilíbrio entre as forças de esquerda, os islamistas mais moderados e outros opositores do regime. Os últimos anos do seu consulado foram especialmente muito contestados devido à interferência na governação da sua segunda esposa Leyla Trabelsi e da família desta, que se imiscuíram nos assuntos políticos e económicos, perante a passividade do presidente.
A Tunísia, pretensamente "laica" de Habib Bourguiba foi-se rendendo ao fundamentalismo islâmico dos Irmãos Muçulmanos, como se pode ver pela força actual do partido Ennahdha, ainda que a maioria da população, sobretudo a juventude, já muito familiarizada com os costumes ocidentais, nomeadamente pelo contacto com os turistas, rejeite os radicalismos morais e religiosos. Mas nem tudo são rosas (ou jasmins), já que à segunda volta das eleições presidenciais, a decorrer dentro de dias, concorrem dois candidatos conservadores, um dos quais já se pronunciou a favor de uma ortodoxia dos costumes.
Com a morte de Ben Ali desaparece o penúltimo líder deposto pela "Primavera Árabe".
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