quarta-feira, 17 de abril de 2013

A ARTE DE IGNORAR OS POBRES




Os tempos difíceis que vivemos, em Portugal e no Mundo, suscitam-nos a leitura de um texto do economista John Kenneth Galbraith (1908-2006), publicado pela primeira vez no número de Novembro 1985, do "Harper's Magazine", e depois no número de Outubro 2005, de "Le Monde diplomatique". Seria posteriormente editado, em 2011, conforme a imagem.

Não obstante o tempo decorrido desde a sua redacção (quase 30 anos), não poderia ser mais actual. Como não perdeu actualidade a sátira de Jonathan Swift (1667-1745), aqui com o título Du bon usage du cannibalisme.

Não se esqueceu o autor de lembrar a expressão de Milton Friedman «as pessoas devem ser livres de escolher», ignorando que os pobres não têm capacidade de escolha, pois em opções como a educação ou a saúde dependem do que se considerou chamar o Estado-Providência, que também os protege na velhice, e que se encontra em desmantelamento progressivo, com o argumento de que é insustentável.  Talvez o seja quando são aplicadas políticas económicas ultra-liberais, permitidas em grande parte pela desregulamentação do sistema financeiro internacional, que teve como protagonistas Ronald Reagan e Margaret Thatcher. Dizia esta que "a sociedade não existe, o que existe são pessoas, famílias", não com o intuito de aprofundar um conceito sociológico (que hoje se discute) mas para melhor atingir os seus objectivos políticos. Em circunstâncias normais (que não são as actuais, em que a especulação capitalista se sobrepõe ao valor do trabalho), sabe-se que nem mesmo o factor demográfico invalida a manutenção do Estado-Providência, ainda que este deva ser adaptado ao momento actual, corrigido dos seus desperdícios e gerido da forma mais eficaz.

Porque foi hoje o dia do funeral dessa chefe do governo britânico, que se tornou célebre pela sua fúria privatizadora, de que os ingleses ainda hoje sofrem as consequências (a pobreza duplicou no Reino Unido desde a data da sua nomeação, 1979, até à data da sua saída, 1990)  e continuarão a sofrer, importava registar aqui o pequeno "manifesto" do insuspeito economista, cujo texto poderia ser subscrito por muito boa gente devidamente credenciada na matéria.

2 comentários:

Anónimo disse...

Um grande escritor prematuramente desaparecido.

Anónimo disse...

Comentário enviado por lapso para este post. Referia-se ao post anterior.