quarta-feira, 27 de março de 2013

POMPEIA


Pompeia - Villa dos Mistérios


O British Museum inaugura amanhã, dia 28, conforme se noticia aqui, a exposição "Vida e Morte em Pompeia e Herculano", cidades sepultadas sob as cinzas do Vesúvio em 25 de Agosto do ano 79, menos de dois meses após Tito ser proclamado imperador de Roma.

A tragédia que se abateu sobre Pompeia, Herculano e Estabia, cujas ruínas permaneceram ocultas até às primeiras pesquisas no século XVII, permitiu de algum modo reconstituir a vida de uma cidade romana em plena actividade, já que os malogrados habitantes foram apanhados de surpresa (ou quase: tinham-se registado nos dias anteriores pequenas erupções e alguns abalos de terra) e permaneceram (eles, os seus animais, as suas casas, os objectos do quotidiano) "conservados" pela lava até aos nossos dias.

A partir das primeiras escavações, que ainda hoje duram, foram revelados ao mundo aspectos essenciais da vida normal das populações nas primeiras décadas do Império Romano.O caso de Pompeia apaixonou o mundo. O famoso escritor inglês Edward Bulwer-Lytton escreveu em 1834 um romance intitulado The Last Days of Pompeii, que teve uma projecção mundial e foi traduzido em inúmeras línguas.

Uma das curiosidades de Pompeia, cujos principais objectos recuperados se encontram no Museu Arqueológico de Nápoles, tem a ver com a descrição da vida sexual da época representada por pinturas e objectos que, sem margem para dúvidas, revelam uma intensa, e mais ou menos livre actividade sexual dos romanos, ainda não espartilhados pelos condicionalismos "morais" das religiões monoteístas.

Nada que não continuasse a verificar-se ao longo dos séculos, mas a coberto do manto espesso da hipocrisia. O próprio rei Francisco I das Duas Sicílias (Nápoles e Sicília), quando visitou no Museu Arqueológico de Nápoles, em 1819, as obras de arte eróticas provenientes das escavações, determinou que as mesmas fossem guardadas num gabinete secreto só acessível a "pessoas maduras e de moral respeitável". A "câmara do prazer" foi depois aberta, novamente fechada, outra vez reaberta e por fim lacrada, assim permanecendo mais de 100 anos. Só na década de 1960 se tornou novamente acessível, com reservas, e finalmente aberta ao público, em 2000, embora com restrições às pessoas de menor idade (a maior parte das quais sabendo, provavelmente,  mais de sexo do que os seus acompanhantes, mas há que sacrificar no altar do politicamente correcto, como, outrora, os romanos, sacrificavam, obviamente por outros motivos, nos altares dos deuses).

Um dos investigadores de Pompeia foi o célebre erudito alemão Johann Winckelmann, um dos pais da arqueologia moderna, que quando regressava a Itália, após uma estada em Viena, onde foi recebido pela imperatriz Maria Teresa, foi assassinado em Trieste, em 8 de Junho de 1768, por Francesco Arcangeli, um cozinheiro de 30 anos com quem estabelecera amizade e que recebera no seu quarto do hotel  Osteria Grande. O móbil do crime foram as medalhas que a imperatriz oferecera a Winckelmann.



A vida em Pompeia encontra-se pormenorizadamente descrita no livro Pompeii - The Life of a Roman Town, de Mary Beard, uma das melhores e mais correctas obras de divulgação sobre a matéria.

O ministério italiano para os Bens e as Actividades Culturais publicou também um elucidativo guia do local, cuja imagem da edição francesa se reproduz abaixo.


Para além desta exposição do British Museum e de outras que neste momento têm lugar, nomeadamente em Madrid e em Cleveland (EUA), nada como visitar a localidade e também o Museu Arqueológico de Nápoles.


3 comentários:

Zephyrus disse...

Existem indícios de que entre as tribos celtas que viviam na Europa Ocidental havia ainda mais liberdade sexual que em Roma. Essas tribos terão também vivido entre nós, pelo menos no Noroeste de Portugal, mas segundo alguns autores os celtas terão habitado quase todo o território nacional, com excepção do interior alentejano ou do oriente algarvio. Textos gregos e romanos de diferentes épocas (e autores distintos) afirmam que as mulheres celtas lutavam a par dos homens e escolhiam os seus parceiros. Os homens oferecer-se-iam para partilhar a cama com outros homens, e ficariam ofendidos quando a sua oferta era recusada. Segundo alguns autores modernos estas sociedades eram matriarcais, daí uma maior liberdade das mulheres e a ampla aceitação das relações entre pessoas do mesmo sexo.

Zephyrus disse...

Partilho:

http://vigilantcitizen.com/latestnews/world-war-z-official-movie-traile/

Anónimo disse...

Sem compulsar qualquer outra fonte de informação que não a minha memória de leituras,diria que Pompeia não foi conservada pela lava,mas pelas espessas poeiras que tambem resultam duma erupção vulcânica. A lava,julgo,teria destruido tudo,frescos,inscrições,estátuas,etc,dada a sua temperatura e corrosão. Suponho que os habitantes morreram sufocados e não queimados.
Quanto à liberdade sexual,convem não idealizar excessivamente o passado greco-romano. Foucault já tinha chamado a atenção para esse risco,e se no mundo romano havia certamente mais liberdade nessa área do que em sociedades ulteriores,a leitura dos epigramas de Juvenal e Marcial,por exemplo,dão-nos conta da ridicularização social de alguns costumes. Mas concordo que,mesmo não exagerando,se deu uma regressão nas mentalidades que ainda não foi ultrapassada,se é que alguma vez venha a sê-lo.