quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

OS PORTUGUESES E A DEMOCRACIA


Segundo titula o PÚBLICO, de acordo com um estudo efectuado a partir de um inquérito realizado em Julho passado, apenas 56% dos portugueses acredita que a democracia é o melhor sistema de governação. Não me causa o menor espanto. Aliás, a incessantemente crescente abstenção nos actos eleitorais é disso uma prova.

Teoricamente, não ponho em dúvida que a forma mais adequada para dirigir um país seja a democrática, com todas as imperfeições que ocorrem nos actos humanos. Há todavia, um limite para a incompetência, para a asneira, para a corrupção, para o crime. E as democracias contemporâneas não se têm comportado bem a esse respeito. Quero crer que a avidez material dos nossos dias, porventura maior do que em qualquer outras épocas da história, em que ainda se prezavam alguns valores do espírito, terá contribuído para o estado a que se chegou.

Em Portugal, os 38 anos de democracia permitiram, é certo, avanços no bem-estar das pessoas, mas de forma muito desigual. E os "pecados" que referimos acima foram-se avolumando, até chegarmos à situação actual. Somos agora confrontados, em nome de uma crise que não é, como todos sabemos, apenas portuguesa, com a imposição de um retrocesso dos chamados direitos adquiridos, processado de forma arbitrária e violenta. Existem obviamente culpados, nos vários sectores políticos, do esbanjamento ou apropriação indevida do rendimento nacional. Mas, em quase quatro décadas, não houve, praticamente, julgamento ou condenação dos prevaricadores. O regime tem navegado sobre uma impunidade generalizada dos detentores do poder político, e económico, ao mesmo tempo que penaliza o pequeno delinquente. Pode enganar-se uma pessoa durante muito tempo, pode enganar-se muita gente durante algum tempo; mas não pode enganar-se toda a gente durante o tempo todo. As pessoas não são, como muitos políticos as consideram, eternamente estúpidas. Por isso, a continuar a trilhar-se o caminho destes anos pretéritos, acho que o regime poderá não subsistir. Assim, não há democracia que resista.

Acrescentaria, para terminar, aos vícios que enumerei, uma coisa que se torna já insuportável aos cidadãos. O não cumprimento das promessas eleitorais. Sistematicamente, os líderes partidários mentem ao povo para conquistar os seus votos. E depois, fazem exactamente o contrário do que prometeram. E não podem ser removidos antes do fim do mandato legislativo, A menos, é claro, que haja uma revolução que ponha termo ao ciclo democrático.

Toda a gente, a começar pela chamada classe política, que nada ignora do que escrevi, deveria meditar honestamente sobre o tema.

1 comentário:

Anónimo disse...

Como se conclui pela sondagem a democracia entre nós anda muito por baixo.

é que esta democracia, como muitas outras europeias, mais parece uma ditadura disfarçada de democracia. Eleições periódicas não chegam pois não se podem remover os aldrabões antes do prazo.

Vamos de mal a pior