terça-feira, 31 de janeiro de 2012
UM CENTENÁRIO
Completa hoje 100 anos a Infanta D. Adelaide de Bragança, neta de D. Miguel I. Vivendo na Áustria, durante a Segunda Guerra Mundial, trabalhou como enfermeira e assistente social durante os bombardeamentos e acolheu e escondeu várias pessoas perseguidas pela Gestapo, o que lhe valeu ser presa e condenada à morte. Uma intervenção de Salazar, junto das autoridades alemãs, invocando a nacionalidade portuguesa de D. Adelaide, levou à sua libertação e expulsão para a Suíça, onde residiu até à sua vinda para Portugal em 1949.
A sua discreta mas eficiente actividade social no nosso país tornou-a digna da admiração de todos quantos com ela conviveram no último meio-século. Criou a Fundação Nun'Álvares Pereira para apoio aos carenciados, tendo o seu estilo de vida sido caracterizado pela maior modéstia. Assinalando o centenário de D. Adelaide, o presidente da República agraciou-a com o grau de grande-oficial da Ordem do Mérito Civil, condecoração que lhe será entregue hoje num jantar, no Centro Cultural de Belém, pelo chanceler da Ordem, o embaixador Pinto da França.
YANNICK DJALÓ (V)
Segundo informa o PÚBLICO, Yannick Djaló, após as peripécias da sua ida falhada para o Nice, em Agosto, acaba de ser contratado pelo Benfica por quatro épocas e meia.
O avançado português, de 25 anos, natural da Guiné, é incontestavelmente um jogador de francos méritos, e por isso lhe desejamos os maiores êxitos no seu novo clube.
A TUNÍSIA, AQUI TÃO PERTO
Durante duas décadas viajei frequentemente para a Tunísia. Três a quatro vezes por ano. A primeira vez, como simples turista. Depois, a fim de estudar a história e a sociedade tunisina, proferir conferências (uma das quais a convite da ALECSO, a UNESCO da Liga Árabe), visitar lugares históricos, desfrutar da paisagem e do clima, banhar-me nas águas tépidas das praias mediterrânicas, e conviver com os amigos que, ano após ano, adquiri em tão hospitaleira terra. Por razões várias, não vou à Tunísia há cerca de cinco anos. Previra uma deslocação em Maio passado, mas as declarações intempestivas de um ex-ministro (já pós-revolução) que levaram a um novo decretar do estado de emergência e recolher obrigatório, obrigaram-me a cancelar a viagem.
As minhas estadas na Tunísia, e especialmente em Tunis, proporcionaram-me a oportunidade de adquirir livros sobre o país que não encontraria em qualquer outra parte do mundo. Tornei-me assim cliente habitual das livrarias da cidade, nomeadamente da Claire Fontaine, da Rue d'Alger, da Al-Kitab, da Avenue Habib Bourguiba e, em especial, da Diwan, em plena Medina, e cujo funcionário, Sofian, passou a procurar livros de história e de arte que ele sabia me interessariam, e que eu comprava aquando das minhas deslocações. O exemplar da imagem é uma dessas obras.
Muitos dos meus amigos passaram para França (para onde nunca tinham conseguido visto) no período agitado que se seguiu à revolução. Visitá-los-ei logo que possa. Mas estou curioso de voltar a Tunis, certo de que, apesar das modificações ocorridas, e de uma assembleia maioritariamente islâmica e cuja legislação se aguarda, possa aspirar ainda uma vez o cheiro do jasmim, contemplar os mosaicos do Bardo, tomar um chá em Sidi-Bou-Saïd, viajar no TGM, e percorrer ao cair da tarde a Avenida (Bourguiba, é claro) - lamentavelmente modificada ainda no tempo de Ben Ali, para imitar os Champs-Elysées -, mas que lhe retirou o carácter excepcional a que durante tantos anos me habituara.
A IMPLOSÃO DA CLASSE MÉDIA
Acabou de ser publicado o livro de Elísio Estanque A Classe Média: Ascensão e Declínio. Trata-se de uma obra de investigação, a que o PÚBLICO deu o devido relevo, e que se debruça, numa primeira parte, sobre os aspectos teóricos da matéria, e numa segunda parte, concretamente sobre Portugal.
Não sendo agora o momento de tecer considerações sobre este oportuníssimo livro, importa especialmente o que o autor escreve sobre a situação portuguesa, mormente numa altura em que já estamos a ser telegovernados de Bruxelas, ou de Berlim. Mas não se deve descurar a análise teórica da obra. Verifica-se desde há tempos um concertado ataque à classe média a nível mundial, que se insere numa estratégia conhecida, até porque muitos documentos estão publicados, por vezes disfarçadamente. Dirão alguns que esta apreciação se insere no que costumam designar por teorias da conspiração. Então esperem, e vejam.
Sabe-se que a classe média tem constituído desde a Revolução Francesa, grosso modo, o sustentáculo dos regimes democráticos. As medidas que contra ela são agora adoptadas, um pouco por toda a parte, vão provocar, impreterivelmente, a sua implosão. O que se seguirá depois? Os artífices desta confessada, embora inconfessável, estratégia, têm, como se sabe, como objectivo, derrubados que sejam os regimes (já só aparentemente) democráticos, a criação de um tipo novo de sociedade, em que a maioria esmagadora das populações fique sujeita a uma condição próxima da escravatura, enquanto uma minoria, possuidora da sabedoria e dos bens, se encarregará de dirigir o mundo. Nada disto é novidade. O progressivo desmantelamento do estado social é já um sinal claro das intenções ainda não totalmente reveladas.
Para tornar credível às massas a imposição de medidas excepcionais, clama-se que o dinheiro não chega, que são necessários sacrifícios, mais trabalho, menos rendimento, menos saúde e assistência social, que se abandonem os velhos que já não produzem, e por aí adiante. Mas nunca tão poucos ganharam tanto em tão pouco tempo.
Para ajudar a convencer os mais renitentes, encenou-se o hábito de reuniões semanais (ou até diárias) dos responsáveis mundiais, com a finalidade de provar que, apesar dos seus denodados esforços, as políticas de austeridade são imperativas e irreversíveis.
Porque insondáveis são os desígnios da Providência, não sei se os interessados nesta via, da qual os dirigentes políticos não são, por vezes, mais do que meros executantes, conseguirão atingir os seus objectivos. Mas não tenhamos dúvidas de que tudo farão para consegui-los.
segunda-feira, 30 de janeiro de 2012
UMA REFLEXÃO DO EXTERIOR
CIRCULA NA REDE UM ARTIGO ATRIBUÍDO A JACQUES AMAURY, SOCIÓLOGO E FILÓSOFO FRANCÊS, PROFESSOR NA UNIVERSIDADE DE ESTRASBURGO. Parece que nessa Universidade não existe algum professor com este nome, havendo um homónimo na Assembleia Nacional Francesa.
Todavia, importa menos a autenticidade da autoria do que a análise a que se procede no texto, que, na generalidade, qualquer português subscreverá sem dificuldade. Por isso entendemos publicá-lo:
"Portugal atravessa um dos momentos mais difíceis da sua história que terá que resolver com urgência, sob o perigo de deflagrar crescentes tensões e consequentes convulsões sociais.
Importa em primeiro lugar, averiguar as causas. Devem-se sobretudo à má aplicação dos dinheiros emprestados pela CE para o esforço de adesão e adaptação às exigências da união.
Foi o país onde mais a CE investiu "per capita" e o que menos proveito retirou. Não se actualizou, não melhorou as classes laborais, regrediu naqualidade da educação, vendeu ou privatizou mesmo actividades primordiais e património que poderiam hoje ser um sustentáculo.
Os dinheiros foram encaminhados para auto-estradas, estádios de futebol, constituição de centenas de instituições público-privadas, fundações e institutos, de duvidosa utilidade, auxílios financeiros a empresas que os reverteram em seu exclusivo benefício, pagamento a agricultores para deixarem os campos e aos pescadores para venderem as embarcações, apoios estrategicamente endereçados a elementos ou a próximos deles, nos principais partidos, elevados vencimentos nas classes superiores da administração pública, o tácito desinteresse da Justiça, frente à corrupção galopante e um desinteresse quase total das Finanças no que respeita à cobrança na riqueza, na Banca, na especulação, nos grandes negócios, desenvolvendo, em contrário, uma atenção especialmente persecutória junto dos pequenos comerciantes e população mais pobre.
A política lusa é um campo escorregadio onde os mais hábeis e corajosos penetram, já que os partidos cada vez mais desacreditados, funcionam essencialmente como agências de emprego que admitem os mais corruptos e incapazes, permitindo que com as alterações governativas permaneçam, transformando-se num enorme peso bruto e parasitário. Assim, a monstruosa Função Publica, ao lado da classe dos professores, assessoradas por sindicatos aguerridos, de umas Forças Armadas dispendiosas e caducas, tornaram-se não uma solução, mas um factor de peso nos problemas do país.
Não existe partido de centro já que as diferenças são apenas de retórica, entre o PS (Partido Socialista) e o PPD/PSD (Partido Popular /SocialDemocrata), de direita, agora mais conservador ainda, com a inclusão de um novo líder, que tem um suporte estratégico no PR e no tecido empresarial abastado. Mais à direita, o CDS (Partido Popular), com uma actividade assinalável, mas com telhados de vidro e linguagem publica, diametralmente oposta ao que os seus princípios recomendam e praticarão na primeira
oportunidade. À esquerda, o BE (Bloco de Esquerda), com tantos adeptos como o anterior, mas igualmente com uma linguagem difícil de se encaixar nas recomendações ao Governo, que manifesta um horror atávico à esquerda, tal como a população em geral, laboriosamente formatada para o mesmo receio. Mais à esquerda, o PC (Partido comunista) menosprezado pela comunicação social, que o coloca sempre como um perigo latente e uma extensão inspirada na União Soviética, oportunamente extinta, e portanto longe das realidades actuais.
Assim, não se encontrando forças capazes de alterar o status, parece que a democracia pré-fabricada não encontra novos instrumentos. Contudo, na génese deste beco sem aparente saída, está a impreparação, ou melhor, a ignorância de uma população deixada ao abandono, nesse fulcral edeterminante aspecto. Mal preparada nos bancos das escolas, no secundárioe nas faculdades, não tem capacidade de decisão, a não ser a que lhe éoferecida pelos órgãos de Comunicação. Ora é aqui que está o grande problema deste pequeno país; as TVs as Rádios e os Jornais, são na sua totalidade, pertença de privados ligados à alta finança, à industria e comercio, à banca e com infiltrações accionistas de vários países.
Ora, é bem de ver que com este caldo, não se pode cozinhar uma alimentação saudável, mas apenas os pratos que o "chefe" recomenda. Daí a estagnação que tem sido cómoda para a crescente distância entre ricos e pobres. A RTP, a estação que agora engloba a Rádio e TV oficiais, está dominada por elementos dos dois partidos principais, com notório assento dos sociais-democratas e populares, especialistas em silenciar posições esclarecedoras e calar quem levanta o mínimo problema ou dúvida. A selecção dos gestores, dos directores e dos principais jornalistas é feita exclusivamente por via partidária. Os jovens jornalistas, são condicionados pelos problemas já descritos e ainda pelos contratos a prazo determinantes para o posto de trabalho enquanto, o afastamento dos jornalistas seniores, a quem é mais difícil formatar o processo a pôr em prática, está a chegar ao fim. A deserção destes, foi notória.
Não há um único meio ao alcance das pessoas mais esclarecidas e por isso, "non gratas" pelo establishment, onde possam dar luz a novas ideias e à realidade do seu país, envolto no conveniente manto diáfano que apenas deixa ver os vendedores de ideias já feitas e as cenas recomendáveis para a manutenção da sensação de liberdade e da prática da apregoada democracia
Só uma comunicação não vendida e alienante, pode ajudar a população, a fugir da banca, o cancro endémico de que padece, a exigir uma justiça mais célere e justa, umas finanças atentas e cumpridoras, enfim, a ganhar consciência e lucidez sobre os seus desígnios. "
domingo, 29 de janeiro de 2012
PROXENETISMO ELEITORAL
Segundo se lê aqui, Angela Merkel apoiará a recandidatura de Nicolas Sarkozy à presidência da França. Não contente de impor primeiros-ministros à Grécia e à Itália, Merkel, essa obtusa luterana obcecada com o dinheiro (sem ofensa para os luteranos) decidiu dar o seu "voto" a um candidato de um país estrangeiro. E, quiçá, de participar na sua campanha eleitoral. Será que a chancelerina se julga já a verdadeira e legítima presidente da Europa?
A eleição de Angela Merkel para a chefia do governo alemão foi uma das maiores tragédias políticas europeias dos últimos anos, cujas consequências não se podem, ainda, avaliar na sua globalidade. Merkel, tal como Hitler, estabeleceu um percurso detalhado para a sua carreira, que se identifica com a dominação da Europa pela Alemanha nos próximos anos. E nada a fará desviar do seu caminho, salvo a retirada de confiança dos eleitores alemães, que já sofreram os horrores de duas guerras mundiais, ou algum acidente de percurso que pode sempre ocorrer com qualquer estadista. Necessita, por isso, de uma espécie de cão-de-guarda, papel primorosamente desempenhado por Nicolas Sarkozy. Daí, o seu interesse na reeleição deste indigno sucessor de De Gaulle e Mitterrand.
Importa, assim, que estejamos de olhos bem abertos, a fim de nos apercebermos dos sinais dos tempos.
PLUS C'EST GROS, MIEUX ÇA PASSE
Como previ neste blogue, a Síria encontra-se praticamente mergulhada numa guerra civil. Muitos ingénuos, alguns idiotas úteis e os tradicionais agentes das potências ocidentais, para melhor chegarem ao Irão e com o Iraque já domesticado, estão agora ferozmente empenhados na agitação na Síria.
Qualquer observador minimamente dotado sabe que o regime de Damasco era muito diferente dos regimes tunisino, egípcio ou líbio. A revolta na Tunísia começou, crê-se, com um acto espontâneo que desencadeou uma revolução. No Egipto houve a preocupação de imitar a Tunísia, embora as manifestações da praça At-Tahrir estivessem já programadas para uns meses mais tarde. Aconteceu o que sabemos mas não sabemos ainda o que vai acontecer. Na Líbia tratou-se de uma invasão descarada da NATO, em que os governantes ocidentais, perdida que foi a mais elementar decência, nem se preocuparam em disfarçar a intervenção militar. Resta que os partidários do defunto Qaddafi (certamente um homem pouco recomendável) já reconquistaram Bani Walid às forças do governo provisório e vão dar muito que fazer ao novo poder instalado em Tripoli.
Na Síria tudo é diferente. Não que o regime de Bachar Al-Assad não tenha um carácter ditatorial, mas certamente muito menos acentuado que o dos estados totalitários que são as monarquias do Golfo, com as quais o dito Mundo Ocidental obviamente não se preocupa. A Síria encontrava-se, antes do começo do levantamento "popular" num caminho de reformas políticas, suaves, com certeza, mas progressivas. E o país conhecia um acelerado desenvolvimento económico e um incessante afluxo de turistas, desejosos de visitar o território que foi berço das mais antigas civilizações mundiais.
Parece, contudo, que o Ocidente, com a complacência da Liga Árabe e o apoio do Conselho de Cooperação do Golfo se empenham em derrubar o actual regime sírio, o que constituirá uma catástrofe ainda maior do que a verificada no Iraque, aquando da sinistra invasão anglo-americana.
O emir Al-Thani, do Qatar, é uma marioneta na mão dos americanos, e até a sua televisão Al-Jazira passou a deformar os factos para melhor sustentar a propaganda dos órgãos de informação estrangeiros.
Gostaria de ver os "democratas" ocidentais organizarem uma acção militar contra os soberanos da Península Arábica. Talvez um dia, mas só quando lhes faltar o petróleo, pois de direitos humanos eles não cuidam.
É claro que têm morrido, desde o começo das hostilidades, vários milhares de sírios: civis, militares, desertores, manifestantes, terroristas tout court. Mas as notícias tendem sempre a favorecer o recém-criado Conselho da Oposição, que ninguém elegeu, ninguém chefia, e não tem nenhum programa para apresentar à população.
Têm sido postas a correr as notícias mais inverosímeis e contraditórias sobre os factos no terreno. As agências de desinformação trabalham activamente face a uma resistência que não esperavam encontrar. E os governos ocidentais lançam para o ar as maiores enormidades sobre o conflito, até porque já não lhes resta pingo de vergonha.
Como dizem os franceses: PLUS C'EST GROS, MIEUX ÇA PASSE.
NAZISMO E VIDA MUNDANA
O livro La vie mondaine sous le nazisme, de Fabrice d'Almeida, permite-nos uma visão bastante pormenorizada das sociabilidades durante o regime nazi. Têm sido produzidas milhares de obras sobre o nazismo e Hitler (entre as quais as biografias de referência do Führer, de Ian Kershaw, Joachim Fest e Alan Bullock), mas o livro de Fabrice d'Almeida, até porque escrito depois da abertura de muitos arquivos que os outros historiadores não puderam consultar, dá-nos uma visão percuciente e quase exaustiva da vida mundana durante o regime nacional-socialista.
Ao contrário do que muita gente pensa, e certos textos e filmes deixam entrever, Hitler não foi nem um tonto nem um desordeiro, antes cultivou um estilo de sedução que cativou a maioria dos alemães. Passada a primeira fase, assaz truculenta, das reuniões nas cervejarias e dos comícios inflamados, Adolf Hitler, a partir dos primeiros resultados eleitorais satisfatórios e especialmente depois de ter assumido o cargo de chanceler do Reich, passou a comportar-se, aliás como a maioria dos dirigentes nazis, de forma cavalheiresca e elegante, que só claudicou com os primeiros insucessos militares e a presumível doença física, e mental, que o terá atingido nos começos de 1943.
Esmerou-se o III Reich em manter as tradições do Império Alemão e do antepassado reino da Prússia, cujo soberano Frederico II constituía uma referência para Hitler. Aliás, o Führer tinha encarado, até cerca de 1932, a possibilidade da restauração da monarquia germânica, ideia que deixou obviamente tombar quando sonhou com a chefia do Estado alemão, que viria a obter muito rapidamente, por morte do presidente da República, o marechal Hindenburg, falecido em 1934. Todavia, isso não obstou a que a família Hohenzollern frequentasse o regime hitleriano, para cujas celebrações era sempre convidada. O príncipe imperial, Guilherme, era um frequentador dessas festividades e o seu irmão, o príncipe Augusto Guilherme, foi mesmo membro das SA.
Ao longo de dez anos, o regime não só criou uma alta sociedade nazi, como atraiu para a sua esfera as principais personalidades que, quer ainda no Império, quer depois na República de Weimar, constituíam a nata da sociedade alemã. A troco de convites para festas, espectáculos, banquetes, bailes, por meio de pequenos e oportunos presentes ou de convenientes subsídios à arte (oficial), cuidando de felicitar pelos nascimentos, aniversários, casamentos, todos quantos gozavam de prestígio no país, sem esquecer as condolências pelos óbitos verificados, o regime desenvolveu conscientemente uma estratégia de aliciamento do povo alemão, nomeadamente das elites e da juventude. O próprio Hitler passou a beijar a mão das damas e a usar fatos de cerimónia nas ocasiões apropriadas. A vida diplomática conheceu um fausto sem precedentes e instalou-se uma verdadeira vida de luxo, especialmente entre os dignitários do regime, que, obviamente (ou não) cresciam de dia para dia. De resto, um dos propósitos do Führer foi identificar a alta sociedade alemã com o próprio regime, o que, diga-se, conseguiu sem muito esforço. Poucos foram os opositores desta estratégia de sedução, e os que a ela se recusaram ceder foram ou ignorados ou eliminados. Talvez por isso, nesta frenética corrida para o abismo, foram ignoradas as perseguições aos judeus, quer porque os alemães se encontravam já inebriados pelo fascínio do nacional-socialismo, quer porque existia neles uma aversão aos judeus, que culpavam da derrota de 1918, do Tratado de Versalhes de 1919 (o diktat), do regime de Weimar. Associavam-nos aos bolcheviques (não era Marx judeu?) e acusavam-nos de deter a maior parte do poder económico e financeiro da Alemanha (o que, realmente, não andava longe da verdade).
Este idílio da sociedade alemã com os seus chefes durou até muito tarde. Não só as elites mas também as massas se tinham identificado com o regime como a pessoa de Hitler passara a ser objecto de veneração. Não esqueçamos que a saudação "Heil, Hitler" se tornara um cumprimento obrigatório.
Não queremos dizer, evidentemente, que todos os alemães fossem partidários do Führer. Ao longo da sua carreira, Hitler foi alvo de diversos atentados, alguns organizados, como é de regra, por potências estrangeiras, mas o mais espectacular, e que quase resultou, foi o do coronel Claus von Stauffenberg, em 1944. Nessa altura, as forças armadas alemãs estavam já convencidas da inevitabilidade da derrota e do desastre que tinha sido o próprio Hitler ter assumido o seu comando directo. Pretendiam os militares livrar-se dele e tenta obter uma paz honrosa; mas mesmo que Hitler tivesse sido eliminado, é de crer que, dadas as disposições dos Aliados, nomeadamente de Churchill, nessa altura fosse já tarde.
Fabrice d'Almeida, para o seu livro, consultou milhares de documentos originais, na maioria inéditos, o que nos permite não só a reconstituição da vida mundana naquele período, cuja excitação se prolongaria até 1943/44, como uma análise de muitos aspectos da vida na Alemanha, porventura ignorados por outros historiadores.
Deve, pois, ler-se com atenção, a fim de nos precavermos contra as seduções do poder em geral e de certos poderes em particular. Especialmente, quando o poder é exercido por um só homem, importa escrutinar com argúcia os seus propósitos recônditos e nunca ceder á tentação da adesão fácil, ainda que premiada, que mais tarde se poderá revelar fatal.
sábado, 28 de janeiro de 2012
OBAMA E A AMÉRICA
Obama face à l'Amérique (par Russell Banks)
Par Le Nouvel Observateur
A dix mois de l'élection présidentielle, le grand écrivain américain, figure de proue des progressistes, évalue le rapport des forces et les chances d'Obama.
"Pratiquement n'importe quel républicain un tant soit peu télégénique est susceptible de battre Obama en novembre prochain", nous explique ici l'écrivain progressiste Russell Banks, qui fut l'un des premiers à soutenir Barack Obama lors de sa première campagne présidentielle, à un moment où personne, en Europe, ne connaissait encore son nom. (© JIM WATSON/AFP)
Le Nouvel Observateur Vous avez compté parmi les premiers partisans d'Obama. Après trois ans à la présidence, son taux de popularité est beaucoup plus bas que celui de ses prédécesseurs au même stade de leur mandat. Est-ce injuste ou justifié?
Russell Banks Même si effectivement j'ai été très tôt - et je demeure - un partisan d'Obama, mon soutien s'est toujours accompagné de sérieuses réserves. Pour nous qui nous situons à gauche (et qui ne représentons plus que 20% à peine des électeurs), Obama était, en 2008, le meilleur candidat éligible que pouvait offrir le système actuel. Il était déjà flagrant qu'il n'était pas de gauche, encore moins révolutionnaire, et sans doute même pas progressiste, selon la vieille tradition du progressisme américain tel que l'ont incarné les Roosevelt (Theodore et Franklin), les Kennedy (John et Robert) et Lyndon Johnson.
A vrai dire, si Barack Obama avait été un authentique progressiste, même un progressiste blanc, il n'aurait sans doute pas battu ses adversaires aux primaires démocrates, et, dans tous les cas, il n'aurait jamais été élu président.
Les Américains dans leur ensemble sont devenus beaucoup plus conservateurs. Cela fait plus d'un demi-siècle que le centre politique dérive vers la droite, selon un processus d'abord lent qui s'est accéléré dans les années 1980, les années Reagan. On peut discuter sans fin des raisons de ce phénomène - qui n'est pas entièrement imputable aux magouilles des républicains conservateurs, à Fox News, ou à la rhétorique apocalyptique déployée par les prédicateurs évangéliques -, mais on peut assurément dire que nous sommes devenus un peuple plus craintif qu'autrefois; or une masse effrayée tend à s'armer et à se barricader contre toute chose et toute personne extérieures à la forteresse.
Obama a été élu au commandement du «Fort Amérique» parce qu'il avait promis de nous apporter le changement sans nous obliger à changer quoi que ce soit - de faire une distinction sans faire de différence - en offrant une image de compétence face à l'incompétence, et parce qu'il se présentait contre John McCain, un candidat qui pour trop de gens évoquait le vieil oncle revenu fêlé d'une guerre survenue bien avant leur naissance, et contre Sarah Palin, qui pour trop de gens évoquait l'ex-miss convaincue que la Bible a été directement dictée par Dieu en anglais.
Obama s'est révélé être un centriste, et c'est cela qui a exaspéré les survivants de la gauche américaine. Ils se sentent non seulement déçus mais piégés, trahis, manipulés par son identité raciale, sa rhétorique électorale et son physique télégénique. C'est absurde, bien sûr; ils ont été piégés par leur propre naïveté, manipulés par leurs propres préjugés sociaux et raciaux (un Noir éloquent, formé dans les meilleures universités, qui a fait du travail associatif de terrain à Chicago et écrit un superbe livre autobiographique sur son expérience métissée des Etats-Unis, doit forcément être progressiste).
A l'autre extrémité de l'éventail politique, on trouve les 20% d'électeurs qui méprisent Obama parce qu'il s'est révélé incarner leur pire cauchemar: un Noir éloquent, formé dans les meilleures universités, qui a fait du travail de terrain à Chicago et écrit tout seul un superbe livre! Et il aggrave son cas: il est mince, athlétique, aussi élégant en costume-cravate lors des sommets du G8 qu'en maillot de bain sur les plages d'Hawaii. Pour ces gens, il constitue un danger racial, et donc sexuel.
A leurs yeux, il n'est pas exclu que ce soit un musulman infiltré, et il n'est sans doute même pas né aux Etats-Unis (voir les propos de Newt Gingrich, l'un des actuels favoris des primaires républicaines qui affirme haut et fort que les Palestiniens n'existent pas [sic], et selon lesquels Obama aurait «une vision anticoloniale typiquement kenyane»). Pis encore: il se pourrait bien qu'il soit communiste.
Reste son impopularité massive auprès du reste des Etats-Unis, de la majorité silencieuse qui espérait que, quoique noir et instruit, il ne se révélerait pas un progressiste infiltré. Cela comprend la plupart des démocrates modérés qui ont voté pour lui, plus de nombreux républicains bon teint qui n'ont soutenu McCain qu'à contre-coeur et parce qu'ils ont toujours voté républicain, sans oublier les 20% d'électeurs qui se qualifient d'indépendants et qu'on pourrait baptiser «bisexuels», puisqu'ils votent à voile et à vapeur (un coup pour les républicains, un coup pour les démocrates - et ce sont souvent eux qui font pencher la balance).
Puisque Obama s'est effectivement révélé être ce que souhaitait cette majorité d'Américains, à savoir un centriste, et non un gauchiste infiltré, comment expliquer son impopularité globale auprès d'eux? Lorsque les choses tournent mal, que l'économie capitaliste s'effondre, que l'Etat paraît impuissant, que l'environnement se dégrade et que les infrastructures du pays se démantèlent, lorsque la corruption semble contaminer tous les aspects du fonctionnement politique, nous avons tendance à en rejeter la faute sur le président en exercice plutôt que sur l'histoire en marche. C'est plus commode que d'admettre que nous sommes entrés, en tant que nation, dans une phase de déclin irréversible, que nous ne goûterons pas un autre «siècle américain», et que nos enfants et petits-enfants ne vivront pas aussi bien que nos parents et grands-parents. Il nous faudrait dire adieu au double mythe de l'exception américaine et du prétendu rêve américain. Alors on préfère rejeter la faute sur le président.
Obama a-t-il laissé passer une occasion historique de réformer en profondeur ce système financier qui a causé tant de dégâts aux Etats-Unis et dans le monde?
Il aurait peut-être bien été en mesure de réformer le système financier américain, s'il n'avait pas choisi pour conseillers et membres de son cabinet des gens comme Timothy Geithner et Lawrence Summers, inféodés aux personnes et aux institutions directement responsables de la crise, et si le Congrès n'avait pas été sous la coupe du lobby de la finance.
De toute façon, l'économie américaine est aujourd'hui inextricablement liée à l'économie mondiale, et l'on ne saurait en réformer une partie sans réformer l'ensemble, ce qui ne risque pas d arriver, à moins d'un effondrement économique généralisé aux conséquences catastrophiques: dépression planétaire, inflation incontrôlable, afflux de réfugiés fuyant le sud pour le nord et l'est pour l'ouest, famines, émeutes, écroulement massif des infrastructures, coups d'Etat militaires et pis encore - une apocalypse économique qui ne nous laisserait d'autre choix que de repartir de zéro, en vivant de chasse et de pêche et en recourant au troc pour nous procurer à manger et un toit. Et qui aurait envie de ça, même au nom de la réforme?
L'économie américaine stagne, le chômage demeure très élevé et l'inégalité entre les plus riches et les plus pauvres n'a jamais été aussi criante. Quelle est votre analyse du mouvement Occupy Wall Street, dont le slogan «Nous sommes les 99%» souligne ce fossé social, et quelle influence peut-il avoir?
Je crois que les marchés bio hebdomadaires qui fleurissent partout aux Etats-Unis, particulièrement dans les zones rurales, ont plus de chances de mettre un terme à l'industrialisation de la chaîne alimentaire que le mouvement Occupy Wall Street n'en a d'influencer la politique économique de Washington. Je suis désolé de paraître si pessimiste, car j'admire le courage de ces manifestants prêts à braver les violences policières et les quolibets dont on les accable.
Cependant, leur idéologie dominante est fondamentalement anarchiste, ce qui les empêche de formuler des objectifs précis et un programme apte à séduire les millions d'Américains, dont ils affirment à juste titre dénoncer la souffrance, comme les millions d'autres qui ne soufrent pas. En outre, cette idéologie a tenu à l'écart du mouvement toute personne susceptible d'apparaître comme un leader, un Lech Walesa, un Václav Havel, un Martin Luther King, une figure charismatique qui saurait parler au plus grand nombre, et singulièrement aux pauvres et aux chômeurs, aux personnes âgées qui ne vivent que de l'aide sociale, à ceux qui n'ont pas d'assurance ou qui vont voir leur maison saisie, aux jeunes qui ne peuvent pas se payer d'études universitaires sans s'asservir aux banques, aux millions de personnes qui ont perdu dans la débâcle financière leurs économies soigneusement investies, et ainsi de suite.
Les tactiques et les stratégies du mouvement Occupy Wall Street me paraissent incohérentes et quelque peu complaisantes. Ses membres prétendent copier celles des manifestants du «printemps arabe»; mais dans ce dernier cas les objectifs étaient clairs et sans concession, l'adversaire, une dictature brutale et non une ploutocratie d'entreprise se posant en démocratie, et des martyrs, parfois par centaines, ont été prêts à donner leur vie pour faire avancer le mouvement.
Par ailleurs, dire «Nous sommes les 99% », c'est ne rien dire des différences de classe. Ne rien dire de la pauvreté et du chômage. Après tout, la plupart des Américains, au moins «les 60%», ne sont pas dans la misère ni au chômage. La plupart des Américains ne risquent pas de voir leur maison saisie par la banque. La plupart des Américains disposent d'une forme d'assurance-maladie. En revanche, une immense majorité d'Américains, peut-être même «les 99%», répugnent à s'infliger des impôts suffisants pour fournir une couverture médicale universelle, éradiquer la pauvreté, le chômage et le problème des sans-logis, et reconstruire les infrastructures. Le voilà, le problème: c'est un problème éthique qui ne saurait avoir de solution que politique.
La politique d'obstruction pratiquée par les républicains au Congrès vient d'empêcher Obama de négocier une réduction de la dette américaine. Le système politique américain, fondé sur l'équilibre des pouvoirs et des contrepouvoirs, paralyse-t-il la démocratie?
Le principe de l'équilibre des pouvoirs («checks and balances») constitue l'un des procédés constitutionnels visant à nous protéger de la tyrannie d'une minorité, et à empêcher l'un ou l'autre des trois pouvoirs - l'exécutif, le législatif et le judiciaire - d'imposer des décisions autonomes. En pratique, c'est généralement ce qui se passe. En fait, la paralysie qui frappe Washington est imputable avant tout à une neutralisation mutuelle, au sein du pouvoir législatif, entre le Sénat contrôlé par les démocrates et la Chambre des représentants contrôlée par les républicains; elle reflète moins un confit d'idéologies qu'un match nul invisible entre deux groupes d'intérêts financiers puissants: ceux qui ont financé les parlementaires républicains contre ceux qui ont financé les parlementaires démocrates.
Nous finançons avant tout nos élections à coups de donations versées par les riches, si bien que nos politiciens se retrouvent inféodés à ceux qui leur paient leur siège. (Il faut beaucoup d'argent pour convaincre une majorité d'Américains de voter contre leurs propres intérêts.) Voilà ce qui paralyse la démocratie américaine.
Pour avoir une quelconque chance d'être élu président, un candidat doit désormais récolter plus d'un milliard de dollars de fonds de campagne; il faut parfois 100 millions de dollars pour remporter un siège au Sénat, et presque autant pour être élu gouverneur, représentant, voire maire d'une grande ville comme New York.
Comment expliquez-vous que les primaires républicaines prennent l'allure d'un spectacle de carnaval? Les «tea parties» ont-elles fini par contaminer le Parti républicain tout entier?
Ce ne sont pas tant les tea parties qui ont transformé les primaires républicaines en une émission de télé-réalité permanente que tout le processus politique qui a été peu à peu absorbé par l'industrie du spectacle. Aujourd'hui, la plupart des Américains puisent leur «information» auprès des comiques de la chaîne Comedy Channel et de l'émission «Saturday Night Live», des blogueurs, de commentateurs tels que Rush Limbaugh (pour la droite) et Rachel Maddow (pour la gauche), et des simulacres de journalisme offerts par CNN et les trois grands réseaux télévisés nationaux, pour lesquels le procès du médecin de Michael Jackson a plus d'importance que le «printemps arabe» ou la guerre en Afghanistan.
Les candidats à la présidence sont perçus et évalués par le public comme des hommes et des femmes de spectacle. C'est ce que les médias exigent d'eux, comme ils l'exigent des sportifs. Peu importe que le candidat soit républicain ou démocrate, même si pour l'heure, en tant que candidat démocrate incontesté, Obama a échappé aux débats télévisés avec des bouffons du calibre de Michele Bachmann, Rick Perry Newt Gingrich et Herman Cain. Voilà pourquoi Newt Gingrich est actuellement l'un des favoris des primaires républicaines, avec Mitt Romney: Newt fait le spectacle, il est plus distrayant que Mitt. (Même leurs noms, Newt et Mitt, leur donnent l'air d'un duo comique: l'auguste et le clown blanc.)
Il y a quatre ans, Bush avait rendu les Etats-Unis odieux aux yeux du monde. Quoique interventionniste, la politique étrangère d'Obama a permis entre autres de soutenir pacifiquement les avancées démocratiques dans le monde arabe. Son bilan est-il selon vous positif? Et a-t-il redoré l'image des Etats-Unis dans le monde?
C'est avant tout l'absence de George W. Bush et de son éminence grise Dick Cheney qui a permis aux Etats-Unis d'améliorer leur image dans le monde, peut-être surtout d'ailleurs en Europe de l'Ouest. (Certes, il n'est pas négligeable qu'Obama soit notre premier président non blanc, ce qui a renforcé notre réputation de méritocratie multiraciale.) Obama aurait eu du mal à égaler l'impopularité de Bush à l'étranger; après lui, il ne pouvait qu'offrir une meilleure image des Etats-Unis. Obama, c'est avant tout le non-Bush. Peu importe qu'il ait largement poursuivi la politique étrangère belliciste de Bush (en particulier celle de son second mandat) en Irak, en Afghanistan, à Guantánamo, vis-à-vis de l'Iran et de la Corée du Nord, et j'en passe.
Obama a-t-il la moindre marge de manoeuvre politique à l'égard d'Israël quand on se souvient de l'accueil enthousiaste du Congrès fait au discours de Netanyahou en mai dernier, qui était en totale contradiction avec la politique du président américain?
Curieusement, Israël semble avoir disparu des radars d'Obama et de ceux du Congrès depuis cet automne. Seuls la droite religieuse et les juifs conservateurs continuent de faire une fixation sur Israël. C'est probablement en raison des gros soucis économiques, conjugués à une certaine usure de la politique étrangère à la suite d'une décennie d'engagement militaire en Irak, en Afghanistan et au Moyen-Orient, en général.
S'il bénéficie d'une victoire écrasante en novembre, Obama aura une grande marge de manoeuvre car la droite religieuse et les juifs conservateurs auront perdu; mais si sa victoire est courte, il n'aura presque aucune marge. S'il perd, bien sûr, nous reviendrons au temps béni biblique de George W. Bush. Le vrai risque pour Obama est celui de l'Iran. L'Iran peut tout changer à la politique des Etats-Unis vis-à-vis d'Israël. Une possibilité intéressante serait qu'Obama incite Hillary Clinton à concourir à la vice-présidence et qu'il nomme Joe Biden secrétaire d'Etat. Franchement, j'espère que c'est ce qu'il va faire. Si la Convention démocrate de l'été prochain désigne un ticket Obama-Clinton, souvenez-vous que vous l'aurez lu pour la première fois ici même!
Compte tenu de la médiocrité des candidats républicains actuellement déclarés, Obama ne sera-t-il pas réélu par défaut? Pensez-vous qu'un second mandat lui permettrait de s'affirmer davantage comme un homme de gauche?
La médiocrité d'un candidat l'a rarement dissuadé de se présenter à la présidence, et ne l'a presque jamais empêché d'être élu. Et grâce au poids écrasant des pseudo-débats télévisés, et à l'avalanche, tout au long de l'année électorale, de spots de campagne aussi agressifs que luxueux, c'est peut-être encore plus vrai aujourd'hui que par le passé, du temps où nous élisions des médiocres comme Ronald Reagan, Bush père, puis Bush fils.
A moins d'un redressement spectaculaire de l'économie qui se ferait sentir ailleurs qu'à Wall Street et dans les conseils d'administration des multinationales, et qui permettrait aux travailleurs des classes moyennes, aux personnes âgées et aux jeunes de ne plus craindre pour leur avenir immédiat, pratiquement n'importe quel républicain un tant soit peu télégénique est susceptible de battre Obama en novembre prochain. D'autant plus que la politique étrangère ne sera pas un enjeu de la campagne.
Une candidature conjointe de Romney à la présidence et de Gingrich à la vice-présidence - Mitt et Newt, l'irrésistible duo évoqué plus haut - cimenterait le Parti républicain: les centristes et les indépendants seraient ravis de soutenir Romney, tandis que l'aile droite du parti, les fidèles des tea parties, les fondamentalistes chrétiens et les illuminés de l'anti-étatisme leur emboîteraient le pas, en espérant que Romney meure dès le début de son mandat et que leur héros accède à la présidence. Ça s'est déjà produit. Heureusement, Romney a l'air en bonne santé. Et ne semble pas complètement fou. Même s'il est mormon. Et ne me demandez pas ce que je pense des mormons!
Russell Banks Même si effectivement j'ai été très tôt - et je demeure - un partisan d'Obama, mon soutien s'est toujours accompagné de sérieuses réserves. Pour nous qui nous situons à gauche (et qui ne représentons plus que 20% à peine des électeurs), Obama était, en 2008, le meilleur candidat éligible que pouvait offrir le système actuel. Il était déjà flagrant qu'il n'était pas de gauche, encore moins révolutionnaire, et sans doute même pas progressiste, selon la vieille tradition du progressisme américain tel que l'ont incarné les Roosevelt (Theodore et Franklin), les Kennedy (John et Robert) et Lyndon Johnson.
A vrai dire, si Barack Obama avait été un authentique progressiste, même un progressiste blanc, il n'aurait sans doute pas battu ses adversaires aux primaires démocrates, et, dans tous les cas, il n'aurait jamais été élu président.
Les Américains dans leur ensemble sont devenus beaucoup plus conservateurs. Cela fait plus d'un demi-siècle que le centre politique dérive vers la droite, selon un processus d'abord lent qui s'est accéléré dans les années 1980, les années Reagan. On peut discuter sans fin des raisons de ce phénomène - qui n'est pas entièrement imputable aux magouilles des républicains conservateurs, à Fox News, ou à la rhétorique apocalyptique déployée par les prédicateurs évangéliques -, mais on peut assurément dire que nous sommes devenus un peuple plus craintif qu'autrefois; or une masse effrayée tend à s'armer et à se barricader contre toute chose et toute personne extérieures à la forteresse.
Obama a été élu au commandement du «Fort Amérique» parce qu'il avait promis de nous apporter le changement sans nous obliger à changer quoi que ce soit - de faire une distinction sans faire de différence - en offrant une image de compétence face à l'incompétence, et parce qu'il se présentait contre John McCain, un candidat qui pour trop de gens évoquait le vieil oncle revenu fêlé d'une guerre survenue bien avant leur naissance, et contre Sarah Palin, qui pour trop de gens évoquait l'ex-miss convaincue que la Bible a été directement dictée par Dieu en anglais.
Obama s'est révélé être un centriste, et c'est cela qui a exaspéré les survivants de la gauche américaine. Ils se sentent non seulement déçus mais piégés, trahis, manipulés par son identité raciale, sa rhétorique électorale et son physique télégénique. C'est absurde, bien sûr; ils ont été piégés par leur propre naïveté, manipulés par leurs propres préjugés sociaux et raciaux (un Noir éloquent, formé dans les meilleures universités, qui a fait du travail associatif de terrain à Chicago et écrit un superbe livre autobiographique sur son expérience métissée des Etats-Unis, doit forcément être progressiste).
RUSSELL BANKS est l'auteur de nombreux romans dont «De beaux lendemains» et «Affliction», portés au cinéma par Atom Egoyan et par Paul Schrader; bientôt «American Darling» sera adapté par Martin Scorsese. Russell Banks a dernièrement publié «la Réserve» (Actes Sud), et son nouveau roman, «Lointain Souvenir de la peau», paraîtra le 7 mars chez Actes Sud. (©Ulf Andersen/Sipa) |
A l'autre extrémité de l'éventail politique, on trouve les 20% d'électeurs qui méprisent Obama parce qu'il s'est révélé incarner leur pire cauchemar: un Noir éloquent, formé dans les meilleures universités, qui a fait du travail de terrain à Chicago et écrit tout seul un superbe livre! Et il aggrave son cas: il est mince, athlétique, aussi élégant en costume-cravate lors des sommets du G8 qu'en maillot de bain sur les plages d'Hawaii. Pour ces gens, il constitue un danger racial, et donc sexuel.
A leurs yeux, il n'est pas exclu que ce soit un musulman infiltré, et il n'est sans doute même pas né aux Etats-Unis (voir les propos de Newt Gingrich, l'un des actuels favoris des primaires républicaines qui affirme haut et fort que les Palestiniens n'existent pas [sic], et selon lesquels Obama aurait «une vision anticoloniale typiquement kenyane»). Pis encore: il se pourrait bien qu'il soit communiste.
Reste son impopularité massive auprès du reste des Etats-Unis, de la majorité silencieuse qui espérait que, quoique noir et instruit, il ne se révélerait pas un progressiste infiltré. Cela comprend la plupart des démocrates modérés qui ont voté pour lui, plus de nombreux républicains bon teint qui n'ont soutenu McCain qu'à contre-coeur et parce qu'ils ont toujours voté républicain, sans oublier les 20% d'électeurs qui se qualifient d'indépendants et qu'on pourrait baptiser «bisexuels», puisqu'ils votent à voile et à vapeur (un coup pour les républicains, un coup pour les démocrates - et ce sont souvent eux qui font pencher la balance).
Puisque Obama s'est effectivement révélé être ce que souhaitait cette majorité d'Américains, à savoir un centriste, et non un gauchiste infiltré, comment expliquer son impopularité globale auprès d'eux? Lorsque les choses tournent mal, que l'économie capitaliste s'effondre, que l'Etat paraît impuissant, que l'environnement se dégrade et que les infrastructures du pays se démantèlent, lorsque la corruption semble contaminer tous les aspects du fonctionnement politique, nous avons tendance à en rejeter la faute sur le président en exercice plutôt que sur l'histoire en marche. C'est plus commode que d'admettre que nous sommes entrés, en tant que nation, dans une phase de déclin irréversible, que nous ne goûterons pas un autre «siècle américain», et que nos enfants et petits-enfants ne vivront pas aussi bien que nos parents et grands-parents. Il nous faudrait dire adieu au double mythe de l'exception américaine et du prétendu rêve américain. Alors on préfère rejeter la faute sur le président.
Obama a-t-il laissé passer une occasion historique de réformer en profondeur ce système financier qui a causé tant de dégâts aux Etats-Unis et dans le monde?
Il aurait peut-être bien été en mesure de réformer le système financier américain, s'il n'avait pas choisi pour conseillers et membres de son cabinet des gens comme Timothy Geithner et Lawrence Summers, inféodés aux personnes et aux institutions directement responsables de la crise, et si le Congrès n'avait pas été sous la coupe du lobby de la finance.
De toute façon, l'économie américaine est aujourd'hui inextricablement liée à l'économie mondiale, et l'on ne saurait en réformer une partie sans réformer l'ensemble, ce qui ne risque pas d arriver, à moins d'un effondrement économique généralisé aux conséquences catastrophiques: dépression planétaire, inflation incontrôlable, afflux de réfugiés fuyant le sud pour le nord et l'est pour l'ouest, famines, émeutes, écroulement massif des infrastructures, coups d'Etat militaires et pis encore - une apocalypse économique qui ne nous laisserait d'autre choix que de repartir de zéro, en vivant de chasse et de pêche et en recourant au troc pour nous procurer à manger et un toit. Et qui aurait envie de ça, même au nom de la réforme?
Des membres du mouvement Occupy Wall Street manifestent à Los Angeles, le 3 octobre 2011. (©FREDERIC J. BROWN/AFP) |
L'économie américaine stagne, le chômage demeure très élevé et l'inégalité entre les plus riches et les plus pauvres n'a jamais été aussi criante. Quelle est votre analyse du mouvement Occupy Wall Street, dont le slogan «Nous sommes les 99%» souligne ce fossé social, et quelle influence peut-il avoir?
Je crois que les marchés bio hebdomadaires qui fleurissent partout aux Etats-Unis, particulièrement dans les zones rurales, ont plus de chances de mettre un terme à l'industrialisation de la chaîne alimentaire que le mouvement Occupy Wall Street n'en a d'influencer la politique économique de Washington. Je suis désolé de paraître si pessimiste, car j'admire le courage de ces manifestants prêts à braver les violences policières et les quolibets dont on les accable.
Cependant, leur idéologie dominante est fondamentalement anarchiste, ce qui les empêche de formuler des objectifs précis et un programme apte à séduire les millions d'Américains, dont ils affirment à juste titre dénoncer la souffrance, comme les millions d'autres qui ne soufrent pas. En outre, cette idéologie a tenu à l'écart du mouvement toute personne susceptible d'apparaître comme un leader, un Lech Walesa, un Václav Havel, un Martin Luther King, une figure charismatique qui saurait parler au plus grand nombre, et singulièrement aux pauvres et aux chômeurs, aux personnes âgées qui ne vivent que de l'aide sociale, à ceux qui n'ont pas d'assurance ou qui vont voir leur maison saisie, aux jeunes qui ne peuvent pas se payer d'études universitaires sans s'asservir aux banques, aux millions de personnes qui ont perdu dans la débâcle financière leurs économies soigneusement investies, et ainsi de suite.
Les tactiques et les stratégies du mouvement Occupy Wall Street me paraissent incohérentes et quelque peu complaisantes. Ses membres prétendent copier celles des manifestants du «printemps arabe»; mais dans ce dernier cas les objectifs étaient clairs et sans concession, l'adversaire, une dictature brutale et non une ploutocratie d'entreprise se posant en démocratie, et des martyrs, parfois par centaines, ont été prêts à donner leur vie pour faire avancer le mouvement.
Par ailleurs, dire «Nous sommes les 99% », c'est ne rien dire des différences de classe. Ne rien dire de la pauvreté et du chômage. Après tout, la plupart des Américains, au moins «les 60%», ne sont pas dans la misère ni au chômage. La plupart des Américains ne risquent pas de voir leur maison saisie par la banque. La plupart des Américains disposent d'une forme d'assurance-maladie. En revanche, une immense majorité d'Américains, peut-être même «les 99%», répugnent à s'infliger des impôts suffisants pour fournir une couverture médicale universelle, éradiquer la pauvreté, le chômage et le problème des sans-logis, et reconstruire les infrastructures. Le voilà, le problème: c'est un problème éthique qui ne saurait avoir de solution que politique.
La politique d'obstruction pratiquée par les républicains au Congrès vient d'empêcher Obama de négocier une réduction de la dette américaine. Le système politique américain, fondé sur l'équilibre des pouvoirs et des contrepouvoirs, paralyse-t-il la démocratie?
Le principe de l'équilibre des pouvoirs («checks and balances») constitue l'un des procédés constitutionnels visant à nous protéger de la tyrannie d'une minorité, et à empêcher l'un ou l'autre des trois pouvoirs - l'exécutif, le législatif et le judiciaire - d'imposer des décisions autonomes. En pratique, c'est généralement ce qui se passe. En fait, la paralysie qui frappe Washington est imputable avant tout à une neutralisation mutuelle, au sein du pouvoir législatif, entre le Sénat contrôlé par les démocrates et la Chambre des représentants contrôlée par les républicains; elle reflète moins un confit d'idéologies qu'un match nul invisible entre deux groupes d'intérêts financiers puissants: ceux qui ont financé les parlementaires républicains contre ceux qui ont financé les parlementaires démocrates.
Nous finançons avant tout nos élections à coups de donations versées par les riches, si bien que nos politiciens se retrouvent inféodés à ceux qui leur paient leur siège. (Il faut beaucoup d'argent pour convaincre une majorité d'Américains de voter contre leurs propres intérêts.) Voilà ce qui paralyse la démocratie américaine.
Pour avoir une quelconque chance d'être élu président, un candidat doit désormais récolter plus d'un milliard de dollars de fonds de campagne; il faut parfois 100 millions de dollars pour remporter un siège au Sénat, et presque autant pour être élu gouverneur, représentant, voire maire d'une grande ville comme New York.
Mitt Romney et Newt Gingrich, lors d'un débat présidentiel à Des Moines (Iowa), le 10 décembre 2011. (©JIM WATSON/AFP) |
Comment expliquez-vous que les primaires républicaines prennent l'allure d'un spectacle de carnaval? Les «tea parties» ont-elles fini par contaminer le Parti républicain tout entier?
Ce ne sont pas tant les tea parties qui ont transformé les primaires républicaines en une émission de télé-réalité permanente que tout le processus politique qui a été peu à peu absorbé par l'industrie du spectacle. Aujourd'hui, la plupart des Américains puisent leur «information» auprès des comiques de la chaîne Comedy Channel et de l'émission «Saturday Night Live», des blogueurs, de commentateurs tels que Rush Limbaugh (pour la droite) et Rachel Maddow (pour la gauche), et des simulacres de journalisme offerts par CNN et les trois grands réseaux télévisés nationaux, pour lesquels le procès du médecin de Michael Jackson a plus d'importance que le «printemps arabe» ou la guerre en Afghanistan.
Les candidats à la présidence sont perçus et évalués par le public comme des hommes et des femmes de spectacle. C'est ce que les médias exigent d'eux, comme ils l'exigent des sportifs. Peu importe que le candidat soit républicain ou démocrate, même si pour l'heure, en tant que candidat démocrate incontesté, Obama a échappé aux débats télévisés avec des bouffons du calibre de Michele Bachmann, Rick Perry Newt Gingrich et Herman Cain. Voilà pourquoi Newt Gingrich est actuellement l'un des favoris des primaires républicaines, avec Mitt Romney: Newt fait le spectacle, il est plus distrayant que Mitt. (Même leurs noms, Newt et Mitt, leur donnent l'air d'un duo comique: l'auguste et le clown blanc.)
Il y a quatre ans, Bush avait rendu les Etats-Unis odieux aux yeux du monde. Quoique interventionniste, la politique étrangère d'Obama a permis entre autres de soutenir pacifiquement les avancées démocratiques dans le monde arabe. Son bilan est-il selon vous positif? Et a-t-il redoré l'image des Etats-Unis dans le monde?
C'est avant tout l'absence de George W. Bush et de son éminence grise Dick Cheney qui a permis aux Etats-Unis d'améliorer leur image dans le monde, peut-être surtout d'ailleurs en Europe de l'Ouest. (Certes, il n'est pas négligeable qu'Obama soit notre premier président non blanc, ce qui a renforcé notre réputation de méritocratie multiraciale.) Obama aurait eu du mal à égaler l'impopularité de Bush à l'étranger; après lui, il ne pouvait qu'offrir une meilleure image des Etats-Unis. Obama, c'est avant tout le non-Bush. Peu importe qu'il ait largement poursuivi la politique étrangère belliciste de Bush (en particulier celle de son second mandat) en Irak, en Afghanistan, à Guantánamo, vis-à-vis de l'Iran et de la Corée du Nord, et j'en passe.
Obama a-t-il la moindre marge de manoeuvre politique à l'égard d'Israël quand on se souvient de l'accueil enthousiaste du Congrès fait au discours de Netanyahou en mai dernier, qui était en totale contradiction avec la politique du président américain?
Curieusement, Israël semble avoir disparu des radars d'Obama et de ceux du Congrès depuis cet automne. Seuls la droite religieuse et les juifs conservateurs continuent de faire une fixation sur Israël. C'est probablement en raison des gros soucis économiques, conjugués à une certaine usure de la politique étrangère à la suite d'une décennie d'engagement militaire en Irak, en Afghanistan et au Moyen-Orient, en général.
S'il bénéficie d'une victoire écrasante en novembre, Obama aura une grande marge de manoeuvre car la droite religieuse et les juifs conservateurs auront perdu; mais si sa victoire est courte, il n'aura presque aucune marge. S'il perd, bien sûr, nous reviendrons au temps béni biblique de George W. Bush. Le vrai risque pour Obama est celui de l'Iran. L'Iran peut tout changer à la politique des Etats-Unis vis-à-vis d'Israël. Une possibilité intéressante serait qu'Obama incite Hillary Clinton à concourir à la vice-présidence et qu'il nomme Joe Biden secrétaire d'Etat. Franchement, j'espère que c'est ce qu'il va faire. Si la Convention démocrate de l'été prochain désigne un ticket Obama-Clinton, souvenez-vous que vous l'aurez lu pour la première fois ici même!
Compte tenu de la médiocrité des candidats républicains actuellement déclarés, Obama ne sera-t-il pas réélu par défaut? Pensez-vous qu'un second mandat lui permettrait de s'affirmer davantage comme un homme de gauche?
La médiocrité d'un candidat l'a rarement dissuadé de se présenter à la présidence, et ne l'a presque jamais empêché d'être élu. Et grâce au poids écrasant des pseudo-débats télévisés, et à l'avalanche, tout au long de l'année électorale, de spots de campagne aussi agressifs que luxueux, c'est peut-être encore plus vrai aujourd'hui que par le passé, du temps où nous élisions des médiocres comme Ronald Reagan, Bush père, puis Bush fils.
A moins d'un redressement spectaculaire de l'économie qui se ferait sentir ailleurs qu'à Wall Street et dans les conseils d'administration des multinationales, et qui permettrait aux travailleurs des classes moyennes, aux personnes âgées et aux jeunes de ne plus craindre pour leur avenir immédiat, pratiquement n'importe quel républicain un tant soit peu télégénique est susceptible de battre Obama en novembre prochain. D'autant plus que la politique étrangère ne sera pas un enjeu de la campagne.
Une candidature conjointe de Romney à la présidence et de Gingrich à la vice-présidence - Mitt et Newt, l'irrésistible duo évoqué plus haut - cimenterait le Parti républicain: les centristes et les indépendants seraient ravis de soutenir Romney, tandis que l'aile droite du parti, les fidèles des tea parties, les fondamentalistes chrétiens et les illuminés de l'anti-étatisme leur emboîteraient le pas, en espérant que Romney meure dès le début de son mandat et que leur héros accède à la présidence. Ça s'est déjà produit. Heureusement, Romney a l'air en bonne santé. Et ne semble pas complètement fou. Même s'il est mormon. Et ne me demandez pas ce que je pense des mormons!
Propos recueillis par François Armanet et Gilles Anquetil
Source: "Le Nouvel Observateur" du 5 janvier 2012.O PROTECTORADO GREGO
Segundo informa o PÙBLICO, a Alemanha, acompanhada de alguns outros países, pretenderá estabelecer um controlo permanente sobre o orçamento da Grécia, o que transferiria para a União Europeia a soberania grega nessa matéria. O governo grego declarou já que rejeita a nomeação de um comissário europeu (alemão?) para administrar as finanças gregas.
É um facto que os países começaram a ceder "voluntariamente" parcelas da sua soberania à União Europeia, tratado após tratado. Não consta, após um breve período de euforia, et pour cause, que tenham melhorado a situação das suas populações. Porém, existem limites. Ao contrário dos Estados Unidos da América, que puderam, por razões que não vêm aqui para o caso, estabelecer um estado, os países da Europa, com civilizações bimilenares, não são susceptíveis de se fundir num amalgamado heterogéneo de culturas diferentes. Da letra dos tratados á realidade dos povos vai uma distância que só espíritos menos esclarecidos ou dotados de sinistros propósitos foram capazes de ignorar.
A Europa é grande na sua diversidade, e para lá de algumas harmonizações no plano económico deverá permanecer distinta nos seus mais profundos usos e costumes. A União Europeia, ao estado a que chegou, é uma aberração jurídica e um desastre humanitário.
Parece que foram as instituições financeiras internacionais que facilitaram a entrada da Grécia no euro, possivelmente com o propósito oculto de virem agora cobrar "a cem por um". Importa que a Grécia equilibre as suas contas, mas com condições decentes. Até porque muitos outros estados da União se encontram, basta consultar as estatísticas, em circunstâncias nada invejáveis.
É sabido que a criação das comunidades europeias primeiro e da União (política) depois tinha em vista evitar novas confrontações no Velho Continente. Esforços inúteis. Ao pretender estabelecer um protectorado na Grécia (financeiro agora, com outras características mais tarde) a Alemanha só evoca fantasmas ainda não longínquos. Foi com a criação do protectorado da Boémia e da Morávia que começou a Segunda Guerra Mundial.
sexta-feira, 27 de janeiro de 2012
A ESCOLA DA TOLERÂNCIA
L'Alliance school, école "gay friendly"
Aux Etats-Unis, une école de la tolérance accueille des enfants jusque-là brimés pour leurs préférences sexuelles. Reportage.
Quand Sandra Griffin, professeur d'informatique, est entrée pour la première fois dans l'école, elle a failli prendre ses jambes à son cou : "J'ai vu des filles habillées comme des garçons, des garçons maquillés, d'autres qui portaient des talons... Je me suis dit : Oh, mon Dieu ! C'est quoi, cette histoire ? Tout cela allait tellement contre mes valeurs", se souvient cette Afro-Américaine pratiquante. C'était il y a trois mois. Aujourd'hui, elle ne veut plus en partir. Elle apprécie "la gentillesse, le respect, l'écoute qui règnent entre les élèves. Ils m'ont ouvert l'esprit et, de mon côté, j'essaie de les aider autant que je peux", dit-elle. Bienvenue à l'Alliance School, le seul établissement public clairement gay friendly des Etats-Unis, et sans doute du monde.
Installée au coeur d'un ghetto noir de Milwaukee (Wisconsin), cette école, qui a bénéficié au départ d'un petit coup de pouce de la Fondation Bill Gates, est un établissement public qui accueille 165 enfants, de 11 ans à 19 ans, venus de quartiers pauvres pour la plupart. Un peu plus de la moitié des élèves se disent gays, bisexuels, transgenres ou "pansexuels", c'est-à-dire qu'ils refusent de se laisser enfermer dans un sexe défini. Les autres sont ou se sentent différents pour une raison ou pour une autre : trop gros, trop petits, trop timides, trop bizarres... Le plus souvent, ce sont les parents, qui ne supportent plus de voir leurs enfants malheureux, qui les ont inscrits ici : "J'aurais voulu qu'une école comme celle-ci existe à mon époque", insiste Samuel, père de deux fillettes de 12 et 13 ans. L'une est petite pour son âge, l'autre est en surpoids. " Elles ne voulaient plus aller à l'école. Maintenant, elles me réveillent pour ne pas être en retard."
Tina Owen, la fondatrice et directrice, accepte tous ces ados, quels que soient leur look, leur identité sexuelle et leur passé. A une seule condition : "Qu'ils soient prêts à respecter les autres" Prévue au départ pour accueillir les enfants à partir de 15 ans, l'école a fini par ouvrir, il y a deux ans à la demande de parents, des classes dès l'équivalent de la sixième. Des gamins de 11 ans ont-ils une conscience si claire de leurs préférences sexuelles ? "Non, assure Tina, et d'ailleurs, on ne leur pose pas la question. Mais s'ils arrivent chez nous, c'est souvent parce qu'ils se sentent mal ailleurs."
"Ici, j'ai trouvé une famille"
Comme Annaisabel (1), 16 ans, une métisse un peu forte, admise il y a trois ans. Dans son ancien établissement, chaque journée de classe était un enfer. Moqueries, humiliations, mise à l'écart... "Je ne savais pas que j'étais lesbienne, dit-elle. Mais je savais que j'étais seule au monde." Annaisabel ne voulait plus aller à l'école, se cachait dans des vêtements trop larges, songeait au suicide. "Ici, j'ai trouvé une famille qui m'a aidée à reprendre ma vie en main", certifie-t-elle, convaincue que "sans l'Alliance, aujourd'hui, [elle] serait sans doute morte". Nombreux sont ceux qui reconnaissent que cette école les a sauvés. Tatiana, joueuse de basket hors pair et très bonne élève, a subi des mois de brimades à cause de son look de garçon manqué. Elle a fini blessée, à l'hôpital. "Tout le monde savait, personne ne m'a protégée", déplore-t-elle.Tina Owen a créé cette école avec un objectif très simple : "Je voulais un lieu où ces enfants puissent étudier en sécurité" Elle se souvient, quand elle était professeur, d'adolescents discriminés, y compris par des collègues parce qu'ils étaient gays. Elle les a vus quitter l'établissement, se marginaliser. Comme Tony, qui a déserté son lycée pendant deux ans, et envisage aujourd'hui de devenir architecte. Ou Ladaria, 15 ans, qui avait cessé de parler. A l'Alliance School, elle s'est épanouie : "J'ai appris qu'on pouvait faire confiance aux adultes." Tina Owen se rappelle aussi qu'elle avait été réprimandée, enfant, pour avoir évoqué, dans une rédaction, un douloureux secret de famille. C'était " inapproprié ". L'enseignant l'a sommée de ne plus jamais en parler. "Je me suis promis de créer un jour un lieu où les enfants pourraient se confier, et où il y aurait toujours quelqu'un pour les écouter."
Cercles de parole
A l'Alliance School, la plupart des classes commencent par des "cercles de parole". C'est ainsi qu'Otis, 16 ans, a raconté pour la première fois son histoire. Rejeté par sa mère parce qu'il était gay, violé par un beau-père, cet ado de 16 ans qui rêve de devenir styliste, et vit aujourd'hui dans un foyer, s'est senti libéré. "Il y a eu beaucoup d'émotion, de larmes et de soutien ", note-t-il. Lui aussi dit que l'école "a sauvé sa vie, en le remettant sur de bons rails".Toutes les histoires de ces enfants ne sont pas forcément aussi sombres que celle d'Otis. "C'est la première fois que je n'ai pas besoin de me protéger des autres", glisse de Gee-Gee, frêle adolescente sans famille. Robbie, arrivé à l'Alliance à 13 ans, n'a jamais été harcelé. Sa personnalité, son humour et sa carrure l'ont protégé. Mais ses six frères et soeurs ne lui parlent plus depuis qu'ils savent qu'il est transgenre. "Ici, je me sens chez moi", explique ce grand Black qui est un peu l'âme de l'école. Chris, lui, a attendu d'y être pour faire son coming out. "On apprend à être nous-mêmes et à en être fers." A 14 ans, Michael et Joseph, jumeaux, ont enchaîné les écoles sans succès. L'un se dit bi, l'autre non, qu'importe ! "Qu'on soit blanc ou noir, gothique ou punk, gay ou straight, on forme une équipe", observe Michael, crête colorée et yeux maquillés noir charbon. "On a trouvé notre place", ajoute son frère.
Critiques au nom de la morale
Tina Owen sait que cette "école pour gays ", comme on l'appelle abusivement, et qui est plutôt l'école de la tolérance, inspirée de "Libres Enfants de Summerhill", cette expérience libertaire en vogue dans les années 1970, suscite bien des controverses. Parmi les opposants, certains protestent, au nom de la morale ou de raisons fiscales, contre cette utilisation de l'agent public qu'ils jugent abusive. D'autres s'interrogent. Plutôt que d'isoler ces enfants, ne vaudrait-il pas mieux enseigner le respect de l'autre dans les lycées ? A Chicago, un projet similaire s'est heurté à de nombreuses résistances de la part des autorités religieuses, mais aussi d'une partie de la communauté gay. Celle-ci a considéré que la création de ce type d'établissement légitimait l'homophobie qui règne dans les écoles publiques. Tina Owen connaît tous ces arguments. "Certains pensent que s'ils sont parvenus à surmonter une situation difficile, d'autres le peuvent aussi. L'adversité est peut-être formatrice. Mais toutes les études prouvent le contraire : un environnement sûr permet aux élèves de mieux réussir."Harcèlement préoccupant dans les lycées publics
Or la place des adolescents gays dans les lycées publics est préoccupante. Neuf d'entre eux sur dix qui se définissent comme LGTB (2) disent avoir été harcelés, d'après une enquête menée aux Etats-Unis en 2009. L'an passé, près d'une dizaine de jeunes gays se sont suicidés. Même s'il n'y a pas une aggravation du phénomène, "les réseaux sociaux l'ont rendu plus violent et plus rapide", constate Tina Owen. Depuis quelques années, les brimades sont devenues un véritable enjeu de société qui mobilise de nombreuses personnalités, de Lady Gaga à Barack Obama.L'Alliance School apporte à ce problème une réponse radicale au nom d'un principe de base : "Un enfant qui est accepté et reconnu pour ce qu'il est sera un adulte plus fort", insiste Mari Scicero, l'assistante sociale de l'école. Pourtant, la directrice le reconnaît, tout n'est pas rose à l'Alliance. Malgré la bonne ambiance, l'atmosphère très libertaire et l'émotion palpable dans l'école, la cohabitation n'est pas toujours simple. James, 15 ans, est convaincu qu'il y subsiste un fond d'homophobie : "Il y a trop d'enfants pour qui c'est juste l'école de la dernière chance. Ils n'ont rien à y faire. " Michael, qui veut devenir militaire, dit, lui, qu'il " déteste cette école" qui donne selon lui " une mauvaise image des Noirs". Tina Owen sourit : "Quand ce garçon est arrivé, c'était une boule de nerfs. On ne pouvait rien lui dire, les portes claquaient. Ca reste un écorché vif mais il a fait d'énormes progrès. Aujourd'hui, il aide beaucoup les autres. Il lui reste sans doute encore à s'accepter."
Axée sur le développement personnel
Toutefois, cette école, où les enfants sont extrêmement libres, n'est pas faite pour n'importe quel élève et enseignant. Grâce à son statut de charter school, qui autorise une certaine flexibilité, elle peut recruter son équipe, à condition que ses résultats soient meilleurs que ceux des écoles publiques du quartier. Bon an mal an, la mission est remplie. "Le niveau ne cesse de s'améliorer", observe Mari Scicero. On est moins dans la performance scolaire que dans le développement de la personnalité.Depuis l'ouverture, les effectifs ne cessent de grimper. Chaque jour, de nouvelles demandes d'inscription affluent. Il y a quinze jours, alors que le conseil scolaire du district décidait la fermeture de plusieurs petites écoles faute de budget, l'Alliance a décroché le renouvellement de son agrément pour les trois prochaines années. Elle vient d'obtenir un prix accordé à l'unanimité par les églises de Milwaukee, toutes religions confondues, au nom de la tolérance. Tina Owen rayonne : "Rien ne pouvait me rendre plus fière."
De notre correspondante à Chicago - Natacha Tatu
(Article publié dans "le Nouvel Observateur" du 5 janvier 2012)
quinta-feira, 26 de janeiro de 2012
ADEUS, LISBOA
Informa a comunicação social que encerrarão, dentro de dias, a Livraria Portugal (na Rua do Carmo), velha de 70 anos, e a Ourivesaria Aliança (na Rua Garrett), quase a completar 80 anos.
A pouco e pouco, o Chiado, que foi o centro chique de Lisboa, vai-se desmoronando, aliás como toda a Baixa pombalina. A abertura arbitrária de grandes superfícies comerciais, fruto de um provincianismo parolo e de uma inconfessável concupiscência, dera o primeiro golpe no comércio do centro da cidade. Depois, o incêndio do Chiado, em 1988, devido a causas naturais, ou a fogo posto (o que nunca foi devidamente esclarecido) foi mais uma importante contribuição para a decadência da zona, até pelo tempo que levou a proceder-se à reconstrução dos imóveis destruídos ou danificados. Também a reconstituição dos edifícios, devido à traça gélida de Siza Vieira (oportunísticamente convidado por Nuno Abecasis para o efeito) em nada ajudou à recuperação do local. Não se pretenderia a reconstituição original mas as linhas de Siza têm, em minha opinião (e apesar dos prémios recebidos, o que nada me impressiona) o dom de afugentar as pessoas.
Deve acrescentar-se aqui o que foi a actuação da Câmara Municipal de Lisboa desde 1974: um horror. Salvo alguns aspectos pontuais a merecerem aplauso, o conjunto de decisões sobre a cidade tem sido um verdadeiro pesadelo. Não conheço capital europeia (e conheço-as quase todas) que fosse tão descaracterizada nas últimas décadas como Lisboa. A cidade está irreconhecível mas devo confessar que temo sempre que fique ainda pior.
O encerramento dos estabelecimentos que referi acima, a juntar a todos os que fecharam por causa do incêndio ou por causas outras (a Alfaiataria Piccadilly, na Rua Garrett, encerrou portas a alguns meses, sendo substituída por uma casa de comidas) não foi compensada pela abertura de outros estabelecimentos condignos, nem poderia realmente sê-lo pois lhes faltaria a tradição que só se adquire com o tempo.
Receio que começe a altura de entoar pelo centro de Lisboa o "Requiescat in pace".
terça-feira, 24 de janeiro de 2012
CAVACO SILVA
As recentes declarações de Cavaco Silva sobre as suas pensões de reforma provocaram uma onda de indignação no país. O que mais terá irritado os portugueses, creio, não terão sido tanto as lamentações de que o dinheiro não lhe chega para pagar as despesas do quotidiano (apesar de, nas funções de presidente da República, dispor de regalias que o dispensam praticamente de suportar encargos de renda, água, electricidade, gás, alimentação, transportes, telefones, internet, televisão, e nem sei quantas mais coisas) mas o ter mencionado com ênfase a pensão da Caixa Geral de Aposentações (€ 1.300), mas declarando ignorar a pensão de reformado bancário, que deverá atingir os € 8.700, já que ambas as pensões totalizam cerca de € 10.000. Esta premeditada ocultação, já que se dispusera a falar sobre a matéria, é realmente insuportável, quer porque se trata de uma afirmação pública do chefe do Estado, quer porque Cavaco Silva tem insistido, no decurso da sua longa carreira política, em considerar-se uma referência moral, acima do comum da maioria dos portugueses.
Enquanto primeiro-ministro, ao longo de dez anos, e beneficiando dos dinheiros comunitários, Cavaco Silva governou o país com um certo à vontade financeiro, não se importando, todavia, de permitir ou mesmo incentivar a destruição do tecido económico nacional (que agora tanta falta nos faz), a fim de satisfazer as disposições comunitárias que atribuíam aos países da Europa Central, maxime França e Alemanha, as competências europeias em matéria económica, que neste momento se revelam um esbulho e um desastre.
As suas qualidades, ditas excepcionais, de governante, tão incensado no seu tempo, começam a revelar-se, com o efeito de distanciação, menos preclaras do que à época. E a sua permanência em Belém não goza, desde o início, do estado de graça de que desfrutou na chefia do Governo. Tem havido já demasiados equívocos. Limito-me aos mais comentados: o estatuto dos Açores, a polémica das escutas (que nunca se chegou a compreender o conteúdo), as liaisons dangereuses com os seus homens de confiança (dois estão presos; um, a quem nomeara conselheiro de Estado, parece que está oculto, etc.). Sem querer alargar-me nas contradições do seu percurso apenas mais um exemplo: o ter afirmado ainda há dias que o Orçamento do Estado não respeitava a equidade fiscal e depois tê-lo promulgado sem sequer ouvir o Tribunal Constitucional.
Desta vez, os portugueses francamente não gostaram. Porque, como costuma dizer o dulcamariano prof. Marcelo, pode enganar-se uma pessoa durante todo o tempo, pode enganar-se muitas pessoas durante algum tempo, mas não se pode enganar toda a gente durante o tempo todo. Assim, o assunto preenche a imprensa, a rádio (nos fóruns matinais de hoje ouviram-se os mais violentos protestos), a televisão (Pedro Marques Lopes foi contundente, ao contrário do que é hábito), as redes sociais, os cartazes e, até, uma petição na rede pedindo a resignação de Cavaco Silva que conta, neste momento, com cerca de 30.000 assinaturas. Além da manifestação de hoje à tarde, frente ao Palácio de Belém, onde foi pedido a todos os participantes uma moeda para ajudar Cavaco Silva.
Pelas mais variadas razões, não creio que Cavaco Silva vá resignar, o que não constituiria qualquer desonra. O escritor Manuel Teixeira Gomes, uma figura intelectualmente muito superior a Cavaco Silva, também resignou do cargo nos idos anos 20. Mas Cavaco está demasiado agarrado ao poder vigente para sair nesta altura.
Estou certo de que muitos dos que nele votaram para este segundo mandato se encontram desiludidos, embora não se prefigurassem então alternativas suficientemente credíveis, por força de uma lacuna da nossa lei eleitoral. E, sendo a sua eleição obviamente legítima, é bom não esquecer o número recorde de abstenções, que ultrapassaram os 50%, o que significa que mais de metade dos cidadãos com capacidade eleitoral tenha achado que os candidatos em presença não lhes ofereciam as garantias mínimas para a chefia do Estado.
Estamos, pois, com um problema de representação nacional, que convém não escamotear, pois tal exercício só poderá contribuir, inequivocamente, para agravar a actual situação.
A fragilidade da presidência da República era neste momento o menos desejável, face a um governo "mais papista do que o papa", que - cego, surdo e mudo -, se empenha em prosseguir uma política, espero que não sinceramente (tal levantaria a maior inquietação sobre a saúde mental dos seus autores), que nos conduzirá à catástrofe, como dentro de pouco tempo se poderá concluir.
Eu sei que há compromissos internacionais, e não são apenas económicos e financeiros, mas políticos (globalização a quanto obrigas). Mas também creio que, nos meandros dos compromissos nacionais e internacionais, surgirão inevitavelmente muitas vozes de protesto. Para citar os versos inspirados de um poeta que não soube ser político: "Há sempre alguém que resiste! Há sempre alguém que diz não!".
segunda-feira, 23 de janeiro de 2012
P.S.P.
O ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, exonerou hoje o comandante-nacional da P.S.P., Guilherme Guedes da Silva, e substitui-o por Paulo Jorge Valente Gomes.
Não foram indicados os motivos para a substituição mas, atendendo ao cargo, é de esperar e salutar que o ministro justifique se este procedimento decorre da falta de confiança pessoal no exonerado ou se existem razões operacionais ou outras que o determinem. Também pode ser que se trate apenas de confiança política, mas nesse caso Miguel Macedo obviamente nada dirá.
O CERCO AO IRÂO
Segundo o PÚBLICO, a União Europeia aprovou formalmente um embargo petrolífero gradual ao Irão. Foram ainda tomadas medidas contra o banco central iraniano com o objectivo, dizem, de congelar o programa nuclear iraniano. Aumenta assim o cerco ao governo de Teerão.
Como a memória dos europeus é fraca e a dos americanos inexistente, todos devem ignorar que o Irão é o herdeiro de uma das mais brilhantes civilizações da humanidade e que, ao longo dos séculos, produziu arte e saber que se podem classificar de notáveis. Como tem havido na Europa, nas últimas décadas (já nem falo dos EUA), a deliberada intenção de, no ensino oficial, se esconder a história universal, reservando-se a informação apenas para alguns cursos universitários, não admira esta profunda ignorância.
Apesar de todas as vicissitudes dos últimos tempos, continua o Irão a ser uma nação poderosa, que não se deixará intimidar pelos porta-aviões americanos no estreito de Ormuz. Porque razão alguns países da Ásia dispõem sem problemas da bomba nuclear (Israel, Paquistão, China, Índia) e outras não podem fabricá-la? Na verdade, há umas nações mais iguais de que outras. Também não se compreende, em termos jurídicos, porque há-de ser a União Europeia (e não, com maioria de razão a ONU) a impor sanções ao Irão. Lá chegará a vez da NATO, não tenhamos dúvidas.
Confesso que preferia que o Irão fosse uma república não islâmica. Sou avesso a todos os estados confessionais. Entendo que a religião é um assunto do foro privado. E também preferia que, mesmo islâmica, a república do Irão, fosse menos severa em matéria de costumes, o que só tem contribuído para uma insatisfação dos mais jovens, e não só. Ainda que, na realidade, haja alguma distância entre o que está legalmente estabelecido na lei e o que se pratica.
Mas é bom não ter dúvidas que, em caso de ataque ocidental, e apesar da discordância de muitos em relação ao regime dos ayatollahs e afins, os iranianos se unirão num bloco indefectível para defender o seu país.
Sabemos todos que a estratégia do Mundo Ocidental é eliminar agora a Síria, o Irão, o Paquistão e começar o cerco à Rússia e à China. Mas é possível que os cálculos saiam errados.
domingo, 22 de janeiro de 2012
VIOLÊNCIA NA NIGÉRIA
Prossegue na Nigéria a violência dos últimos dias. Os confrontos, desencadeados pelo grupo islamista radical Boko Haram, visam sobretudo a população cristã e o número de mortos eleva-se já a cerca de 200, além de centenas de feridos. Os habitantes deste vastíssimo país são do ponto de vista religioso: 50% de muçulmanos; 40% de cristãos, 10% de outras religiões. Durante muitos anos, mesmo depois da independência daquela colónia britânica, registou-se uma coabitação que podemos classificar de pacífica entre as duas grandes confissões religiosas. Acontece desde há algum tempo que a situação se modificou, passando a verificar-se sistemáticos ataques de muçulmanos radicais contra cristãos. O Boko Haram pretende transformar agora a Nigéria num estado islâmico.
Curiosamente, as confrontações violentas entre muçulmanos e cristãos nas últimas décadas e a realização de acções consideradas terroristas e levadas a cabo por muçulmanos acentuaram-se depois da publicação do livro de Samuel Huntington The Clash of Civilizations (1996), obra patrocinada pela Smith Richardson Foundation. A partir de então tudo se tem deteriorado progressivamente no mundo árabo-islâmico. Simples coincidência? Não sei.
sexta-feira, 20 de janeiro de 2012
VASCO GRAÇA MOURA
Segundo informa o PÚBLICO, Vasco Graça Moura (VGM) foi nomeado presidente da Fundação Centro Cultural de Belém, em substituição de António Mega Ferreira, que terminara o mandato.
A designação de VGM poderá ser interpretada como mais uma escolha partidária (ainda que independente, as suas posições identificam-se normalmente com as do PSD) do actual Governo. Todavia, é inequívoco que, ao contrário de outras nomeações polémicas, VGM é, de facto, uma personalidade de indiscutíveis méritos culturais, com notável curriculum, quer como escritor, quer no exercício de funções públicas ligadas à esfera cultural.
Personalidade polémica (com o que devemos congratular-nos), algumas das suas posições têm pecado por algum radicalismo (como a violenta controvérsia com Manuel Maria Carrilho). Mas reconheço, também, que no desempenho de funções administrativas não consta que tenha interferido com a acção dos seus colaboradores que perfilham outras ideologias. O que significa o seu entendimento quanto ao espaço de liberdade intelectual.
Aguarda-se, por isso, que no exercício do seu novo cargo possa restituir ao CCB o prestígio dos primeiros tempos, ultimamente em franco declínio.
quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
OS PORTUGUESES E A DEMOCRACIA
Segundo titula o PÚBLICO, de acordo com um estudo efectuado a partir de um inquérito realizado em Julho passado, apenas 56% dos portugueses acredita que a democracia é o melhor sistema de governação. Não me causa o menor espanto. Aliás, a incessantemente crescente abstenção nos actos eleitorais é disso uma prova.
Teoricamente, não ponho em dúvida que a forma mais adequada para dirigir um país seja a democrática, com todas as imperfeições que ocorrem nos actos humanos. Há todavia, um limite para a incompetência, para a asneira, para a corrupção, para o crime. E as democracias contemporâneas não se têm comportado bem a esse respeito. Quero crer que a avidez material dos nossos dias, porventura maior do que em qualquer outras épocas da história, em que ainda se prezavam alguns valores do espírito, terá contribuído para o estado a que se chegou.
Em Portugal, os 38 anos de democracia permitiram, é certo, avanços no bem-estar das pessoas, mas de forma muito desigual. E os "pecados" que referimos acima foram-se avolumando, até chegarmos à situação actual. Somos agora confrontados, em nome de uma crise que não é, como todos sabemos, apenas portuguesa, com a imposição de um retrocesso dos chamados direitos adquiridos, processado de forma arbitrária e violenta. Existem obviamente culpados, nos vários sectores políticos, do esbanjamento ou apropriação indevida do rendimento nacional. Mas, em quase quatro décadas, não houve, praticamente, julgamento ou condenação dos prevaricadores. O regime tem navegado sobre uma impunidade generalizada dos detentores do poder político, e económico, ao mesmo tempo que penaliza o pequeno delinquente. Pode enganar-se uma pessoa durante muito tempo, pode enganar-se muita gente durante algum tempo; mas não pode enganar-se toda a gente durante o tempo todo. As pessoas não são, como muitos políticos as consideram, eternamente estúpidas. Por isso, a continuar a trilhar-se o caminho destes anos pretéritos, acho que o regime poderá não subsistir. Assim, não há democracia que resista.
Acrescentaria, para terminar, aos vícios que enumerei, uma coisa que se torna já insuportável aos cidadãos. O não cumprimento das promessas eleitorais. Sistematicamente, os líderes partidários mentem ao povo para conquistar os seus votos. E depois, fazem exactamente o contrário do que prometeram. E não podem ser removidos antes do fim do mandato legislativo, A menos, é claro, que haja uma revolução que ponha termo ao ciclo democrático.
Toda a gente, a começar pela chamada classe política, que nada ignora do que escrevi, deveria meditar honestamente sobre o tema.
NELSON ÉVORA (II)
Sou um admirador confesso de Nelson Évora, um dos desportistas portugueses mais dotados. Por isso, lamento profundamente a lesão sofrida pelo campeão olímpico, que o impedirá de participar nos Jogos Olímpicos de Londres, no próximo ano.
Segundo regista o PÚBLICO, o atleta afirmou: «Sou campeão olímpico e, aos 27 anos, sinto ter ainda muito por que competir pela frente». Não duvidamos.
Já nos referimos a Nelson Évora aqui e aqui. Desejamos a rápida recuperação do membro inferior direito (a que já fora operado há dois anos) deste desportista de tão elevada craveira e estamos certos que continuará a deslumbrar-nos com as suas prestações.
quarta-feira, 18 de janeiro de 2012
PAUSA PARA REFLEXÃO
O tema de Fausto é uma das questões centrais da cultura ocidental. Desde Marlowe, que pela primeira vez lhe deu forma dramática, a Goethe, que o imortalizou no seu poema e a Gounod, que sobre ele compôs uma notável ópera, tem sido objecto das mais diversas abordagens teatrais, poéticas, filosóficas, musicais, etc.
Neste vídeo (incompleto), a cena final do Faust, de Gounod, em Macerata (Itália) em 2010, com o romeno Teodor Ilincai, em Faust, o russo Alexander Vinogradov, em Mephisto e a italiana Carmela Remigio, em Marguerite. Direcção musical de Jean-Luc Tingaud; encenação de Pier Luigi Pizzi.
terça-feira, 17 de janeiro de 2012
A ROMÉNIA AGITA-SE
Várias cidades romenas foram palco nos últimos dias de violentas manifestações contra a política de austeridade imposta pelo governo, em consonância com medidas semelhantes que vêm sendo adoptadas um pouco por toda a Europa.
A situação atingiu maior gravidade, ontem, em Bucareste, onde os incidentes nos confrontos com a polícia provocaram mais de 70 feridos, tendo os manifestantes incendiado quiosques e caixotes de lixo e partido os vidros de alguns edifícios. A causa próxima para esta explosão de violência deveu-se à demissão do subsecretário da Saúde, Raed Arafat, um respeitadíssimo médico natural de Damasco, de origem sírio-palestiniana, que emigrou para a Roménia aos 14 anos. Em 1981, Arafat criou o SMURD, um serviço médico de urgência que se mostrou da maior utilidade para os romenos, além de outras iniciativas sociais no campo da saúde.
Há alguns dias, Arafat fora obrigado a demitir-se por ter entrado em conflito com o presidente da República, Traian Basescu e o primeiro-ministro Emil Boc, que pretendiam privatizar parcialmente os serviços de saúde do país. A eclosão da violência levou à recondução de Arafat no cargo, com a promessa do governo de reanalisar a situação. Sendo o nível de vida na Roménia em geral modesto, em 2010 os salários foram cortados em 25%, as pensões congeladas e milhares de funcionários demitidos da administração pública, o que justifica amplamente o descontentamento da população com mais esta tentativa de redução dos serviços de saúde.
Ao contrário do que muita gente pensa, é a Roménia um país com uma história bimilenar. Conhecido como Dácia no tempo do Império Romano, acabaria o país por adoptar a denominação de Romania (em romeno), o que denuncia bem a sua ligação a Roma. Ocupado e dividido ao longo dos séculos, herdou contributos de outras civilizações, que enriqueceram o seu tecido cultural. Não é em vão que desde há muito tempo Bucareste é considerada a Paris do leste europeu.
Está a Roménia, como a maior parte dos países da Europa, a ser vítima da imposição de políticas largamente restritivas no campo social, decorrentes das notações das agências de rating e das exigências dos "mercados", essa entidade de que agora se fala todos os dias. Bem como do Fundo Monetário Internacional, do Banco Central Europeu e de outras instâncias que convergem na estratégia do empobrecimento das populações europeias com o pretexto de que se endividaram excessivamente. Quando recuamos no tempo e confrontamos as contas dos diversos países da Europa nos últimos anos constatamos que não é verdade a maior parte das coisas que agora se escrevem. Existe sim uma agenda da alta finança internacional, conjugando interesses inconfessáveis (mas que já não iludem os povos), cuja estratégia passa exactamente pela destruição do que constituiu o acquis do estado social nas últimas décadas.
Deve ter-se também em atenção que esta ofensiva na frente social é acompanhada de uma ofensiva na frente militar. Torna-se hoje claro que as revoluções nos países árabes, que inicialmente pareceram justificar-se plenamente como uma revolta contra as ditaduras existentes, foram fomentadas pelo governo sombra mundial com o propósito da invasão da Líbia, da agitação na Síria (onde esperam a queda do regime e a instalação da guerra civil) - tudo isto na sequência da invasão do Afeganistão e do Iraque - a fim de os arautos da democracia ocidental poderem atingir o Irão. É claro que muita gente considerará que isto é teoria da conspiração. Por isso, importa começar a distinguir as teorias da conspiração das verdadeiras conspirações. É fácil. Basta acompanhar o desenrolar dos acontecimentos e verificar que grande parte das previsões se concretiza. Assim tem acontecido nas últimas décadas.
domingo, 15 de janeiro de 2012
AINDA A MAÇONARIA
Motivos de saúde têm-me impedido de prosseguir a actividade regular deste blogue nos últimos dias. Tentei, contudo, manter-me a par, no essencial, do que vai acontecendo no país e pelo mundo.
Um dos assuntos que continua a dominar a cena nacional é a polémica relativa à Maçonaria: quanto ao proclamado secretismo, quanto aos presumíveis negócios de alguns membros, quanto à falta de transparência das suas actividades. Não é assunto novo. Trata-se de um tema recorrente, utilizado especialmente quando se pretende desviar atenções dos problemas que verdadeiramente nos afectam. Mas rende sempre alguns dividendos, mormente em termos de comunicação social.
Não vou aqui repetir coisas de todos sabidas e que, segundo li ou ouvi, foram já objecto do apropriado comentário de vários responsáveis das obediências maçónicas. Mas sempre importa relembrar um ou outro pormenor, até porque, tanto quanto sei, a ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz (PTC), numa intervenção infeliz, terá admitido a necessidade de estabelecer legislação com o fim de obrigar os cidadãos que desempenhem cargos políticos, ou eventualmente outras funções públicas, a revelar a sua pertença a associações secretas, visando obviamente a Maçonaria. A História repete-se. Como Marx escreveu n'O 18 de Brumário de Luís Bonaparte, citando Hegel e completando-o, os grandes acontecimentos tendem a verificar-se uma segunda vez: da primeira vez sucedem como tragédia, da segunda, como farsa.
Talvez PTC ignore, ou se tenha esquecido, que já em 1935, e com o exacto fim de atingir a Maçonaria, o deputado à Assembleia Nacional José Cabral apresentara um projecto de lei, que viria a ser seguidamente adoptado, com o fim de extinguir as sociedades secretas. O que lhe valeu a conhecida resposta de Fernando Pessoa. Triunfou, contudo, a vontade de Salazar, que apadrinhara o diploma, que foi aprovado num parlamento presidido por um maçon, o prof. José Alberto dos Reis, e promulgado por um presidente da República igualmente maçon, o general Óscar Carmona. É curioso que, apesar da perseguição à Ordem Maçónica, sempre Salazar teve maçons junto de si, com eles convivendo proximamente. Por exemplo, o prof. Bissaya Barreto, catedrático de Coimbra, que vinha almoçar semanalmente a Lisboa com o presidente do Conselho, ou o conselheiro Albino dos Reis, que durante o Estado Novo foi ministro do Interior e presidiu à Assembleia Nacional e ao Supremo Tribunal Administrativo. Para apenas citar dois casos evidentes. Aqui está um tema que deveria merecer a atenção dos interessados, já que tantos têm sido os livros publicados sobre Salazar nas últimas décadas.
Não acredito (nem ela o disse) que PTC pretenda extinguir agora a Maçonaria Portuguesa. Nem o poderia fazer. A Maçonaria sobreviveu ao regime de Salazar e reorganizou-se depois da revolução de 1974. Tem sobrevivido, em Portugal e no estrangeiro, a todas as perseguições ao longo da história. Mas a ideia de obrigar os cidadãos a revelarem se são ou não maçons (pois é a Maçonaria que está aqui em causa) para poderem desempenhar certas funções não só é inconstitucional como evoca aquela outra disposição (obviamente caducada em 1974) que obrigava os candidatos a funcionários públicos a solenemente declararem não serem comunistas.
Dispõe a Constituição da República Portuguesa que "ninguém pode ser perguntado por qualquer autoridade acerca das suas convicções ou prática religiosa, salvo para recolha de dados estatísticos não individualmente identificáveis, nem ser prejudicado por se recusar a responder". Não sendo a Maçonaria uma religião no sentido estrito do termo, ela releva de convicções espirituais idênticas, que são do domínio do foro íntimo, e a eventualidade de ser aprovada uma lei com o fim de obrigar os maçons no exercício de certos cargos a declarar-se como tal implicaria uma revisão constitucional. Mais. Essa hipotética disposição colidiria com os textos e a jurisprudência europeia sobre os direitos humanos. Portanto, impensável em regime democrático.
Acrescente-se, para que conste, que todos os maçons são livres de se assumirem como tal, por sua exclusiva vontade.
Um dos cavalos de batalha contra a maçonaria é o seu secretismo. Perguntam-se muitos comentadores, nos jornais, na rádio, na televisão, porque há necessidade de sociedades secretas em democracia. Já ouvi esta questão vezes sem fim na boca de Pacheco Pereira (PP). E lamento. Até porque se muita gente que comenta o tema é analfabeta na matéria, e não se lhes pode exigir o que não sabem, é suposto que PP é um homem culto e bem informado. A Maçonaria não é uma sociedade secreta, é uma associação discreta. Todos os seus rituais estão publicados desde há muitos anos e podem encontrar-se nas livrarias ou através da internet. Os seus espaços são abertos a não maçons. A única coisa que é secreta é o que se passa em loja, durante uma sessão. Tão simples como isso. E o que ocorre em loja é do domínio do espiritual. Os princípios da maçonaria são sobejamente conhecidos: dedica-se ao aperfeiçoamento espiritual dos seus membros, à prática da solidariedade entre maçons e também com os não maçons, defende ideais de liberdade de pensamento, de fraternidade (os seus membros consideram-se irmãos), de igualdade (há maçons de todas as categorias sociais), de tolerância. A maçonaria é, segundo os seus textos fundadores, as Constituições de Anderson, de 1723, uma sociedade iniciática que reúne homens (hoje também mulheres) livres e de bons costumes.
As sessões maçónicas realizam-se sob os auspícios do Grande Arquitecto do Universo, que será Deus, para as maçonarias anglo-americanas, ou um Ser Supremo, para as maçonarias da Europa continental. Por isso, cabem na maçonaria pessoas de todas as religiões, pessoas crentes sem religião, e ainda agnósticos ou ateus; e de todas as etnias.
Porque haveriam organizações deste tipo de deixar de ter lugar em democracia? Não parece que os partidos políticos satisfaçam tal tipo de exigências.
Acusa-se a democracia de praticar o favoritismo entre os seus membros, de pretender apossar-se do poder político e também do poder económico, de tentar controlar o mundo. Tornou-se, aliás, costume, incluir a maçonaria entre os grupos ou pessoas individuais que aspiram ao exercício do governo mundial. Pura teoria da conspiração.
Como recentemente Manuel Maria Carrilho perguntava num texto, a propósito da recente polémica em Portugal, e da alegada pertença de três líderes parlamentares à maçonaria, será que os maçons estão a instrumentalizar o poder político, ou é o poder políitico que tenta servir-se dos maçons para atingir os seus fins?
É óbvio que a Maçonaria Universal e a Maçonaria Portuguesa, aquela que de momento nos interessa, não são instituições perfeitas. Compostas por homens, sofrem de todas as imperfeições do género humano. A Igreja Católica, fundada por Jesus Cristo (que é Deus, segundo a respectiva doutrina), mas igualmente composta de homens, arrasta no seu historial bimilenar um cortejo de horrores que ofusca os momentos luminosos do seu percurso ao longo dos séculos. Com a pequena diferença de que na Igreja Católica certas práticas foram justificadas por teorias então vigentes. Nunca texto algum maçónico estabeleceu algo de que pudesse mais tarde envergonhar-se. Também na maçonaria se procura a Luz e possivelmente nem todos conseguem alcançá-la. Essa luz que o maçon Goethe, no seu leito de morte pedia: "Mehr licht " (mais luz), e que alguns têm dificuldade em ver.
Não sendo possível alongar-me demasiado, direi que o próprio da Maçonaria é a qualidade e não a quantidade dos seus membros. Parece que nas últimas décadas entrou para a Maçonaria gente que nunca deveria ter sido iniciada nos "mistérios maçónicos". Uns terão entrado por desconhecimento dos verdadeiros princípios da Ordem; outros, porventura, com a esperança de encontrar algum apoio fraterno em situações difíceis; outros, de certo uma minoria, com o propósito de consubstanciarem projectos de poder pessoal. Significa isto que a triagem dos candidatos não foi devidamente realizada. E deveria tê-lo sido. Porque é sempre possível aos maçons, fora das sessões rituais (das quais é sempre lavrada acta) encontrarem-se em espaço "profano" e tratarem de "negócios". Quem poderá impedir tal facto? Não se reúnem em jantares políticos, gente do desporto, intelectuais ou jornalistas, ou simples e pacatas famílias?
Referimos acima maçonarias anglo-americanas e europeias continentais. Note-se que Maçonaria é só uma. Devido a diferentes contextos e diversos percursos, temos hoje as maçonarias ditas regulares (e deístas) que são as inglesas, as suas filhas americanas e as suas projecções nos outros países, e as ditas irregulares, que se espalham por toda a Europa Continental e se projectam igualmente nos outros países.
Em Portugal, a mais antiga obediência (1802) é o Grande Oriente Lusitano (GOL), do qual se afastaram alguns membros para criar em 1991 a Grande Loja Regular de Portugal (GLRP). Em 1996, uma cisão nesta obediência viria a originar a criação da Grande Loja Legal de Portugal (GLLP). Os factos, porque relativamente recentes, são conhecidos. Existem outras obediências:a Grande Loja Feminina de Portugal (GLFP), as ramificações do Grande Oriente Ibérico (espanhol) e do Direito Humano (francês) e ainda outras representações de menor projecção.
Porque a matéria é vasta, fiquemos por aqui.
Espero que nunca alguém se lembre de perguntar a quaisquer titulares de funções públicas se são cavaleiros da Ordem de Malta ou do Santo Sepulcro.
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