sexta-feira, 27 de maio de 2011

UM DIA HISTÓRICO


"Um dia histórico para a justiça internacional", foi assim que Ban-Ki-Moon, secretário-geral da ONU, classificou a prisão, ontem efectuada em Lazarevo, a nordeste de Belgrado, do general Ratko Mladic, antigo comandante dos sérvios da Bósnia, e há 16 anos procurado por crimes que terá provocado aquando da guerra na Bósnia.

Segundo informação do presidente sérvio Boris Tadic, o acusado será transferido dentro de dias para o Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia, em Haia, a fim de responder por genocídio e crimes contra a humanidade.

Várias personalidades internacionais de duvidosa reputação consideraram que a detenção de Mladic é um gesto histórico e que facilitará a entrada da Sérvia na União Europeia. Entre essas "personalidades" encontram-se os presidentes Barack Obama e Nicolas Sarkozy, o primeiro-ministro holandês Mark Rutte, o ministro dos Estrangeiros britânico William Hague, o presidente da Comissão Europeia Durão Barroso, a chefe da diplomacia europeia Catherine Ashton, o comissário para o Alargamento Europeu Stefan Füle e ainda os primeiro-ministros da Eslovénia e da Croácia, respectivamente Borut Pahor e Jadranka Kosor. Não notei, através da imprensa internacional, a satisfação da senhora Merkel, mas talvez se trate de uma questão de pudor.

A guerra que provocou a desintegração da antiga República da Jugoslávia ainda não foi devida e objectivamente estudada e talvez nunca o venha a ser. Houve certamente muitos crimes, como acontece geralmente em todas as guerras, e haverá criminosos de todos os lados do conflito. Haverá também criminosos políticos que instigaram à guerra por palavras e por obras, e esses nunca foram acusados e jamais serão julgados.

O general Ratko Mladic não será seguramente uma pessoa isenta de culpas, mas as guerras são sempre trágicas e a aplicação da justiça é feita sempre pelos vencedores, independentemente de considerações morais ou patrióticas. Vae victis, como exclamou há mais de dois mil anos o general gaulês Brennus, vencedor dos romanos.

Também não consta que o Tribunal Penal Internacional tenha alguma vez pedido a captura de dirigentes de vários países sobre os quais impendem gravíssimas acusações desde há décadas.

Não estou igualmente certo que a população sérvia se mostre impaciente pela adesão do seu país à União Europeia, uma instituição em vias de desagregação, que proporciona, sem dúvida, óptimos empregos para uns milhares de cidadãos privilegiados que se encontram principescamente instalados em Bruxelas, Estrasburgo e um pouco por todo o mundo, em representações diplomáticas.

É bem verdade que a política internacional está pelas ruas da amargura. Sugiro, por isso, a leitura do livro de Slavoj Zizek (um ex-jugoslavo), First as Tragedy, Then as Farce.

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