sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

CINQUENTENÁRIO DE CÉLINE


Uma polémica agita a França. Frédéric Mitterrand, ministro da Cultura, deverá apresentar hoje publicamente o catálogo do Haut Comité pour les Célébrations Nationales, para o ano de 2011, que inclui, entre outras, a comemoração do cinquentenário da morte do escritor Louis-Ferdinand Céline (27/5/1894-1/7/1961). Serge Klarsfeld, presidente da Association des fils et filles de déportés juifs de France (FFDJF), manifestou a sua indignação por Céline estar incluído na lista das celebrações nacionais para o corrente ano e ameaçou recorrer ao presidente Sarkozy se a iniciativa se mantiver.

No seu blogue "La république des livres", o jornalista Pierre Assouline fornece-nos uma panorâmica do caso. É verdade que Céline, médico, escritor e jornalista, foi um destacado anti-semita, tendo publicado obras virulentas contra os judeus, como Bagatelles pour un massacre ou Les beaux draps. Mas também é verdade que é um dos maiores escritores franceses do século passado, como afirmam insuspeitas vozes citadas por Assouline. O seu livro Voyage au bout de la nuit é uma obra-prima da literatura o que terá justificado a sua inclusão na lista dos comemoráveis. E, ao contrário de outros escritores franceses do tempo de Vichy, Céline não colaborou com o regime nazi, embora tenha sido  julgado à revelia e condenado (e depois amnistiado) a um ano de prisão e à indignidade nacional. Tendo fugido com Pétain para Sigmaringen, após a queda do regime, viajou a seguir para a Dinamarca e regressou a França em 1951. Depois do seu retorno, escreveu ainda três livros.

Aguardemos os próximos episódios deste folhetim tipicamente gaulês.

Adenda: O ministro francês da Cultura cedeu perante a pressão de vários sectores de opinião que se indignaram com a inclusão de Céline na lista nacional de celebrações anuais, ordenando a retirada do nome do escritor. Philippe Sollers, que considera Céline e Proust os dois maiores escritores franceses do século XX, manifestou-se contra esta decisão, que considera ilegítima e deslocada. Entende Sollers que estamos perante um caso de grande insensatez, que só poderá contribuir para aumentar a popularidade de Céline.

3 comentários:

Anónimo disse...

Um grande escritor, Céline, fosse anti-semita ou não. Também Ezra Pound se entusiasmou pelo fascismo italiano e é uma referência incontornável.

Xico disse...

E Pirandello que até ganhou o Nobel? Não era ele apoiante do fascismo italiano?

Anónimo disse...

Então e escritores comunistas??? também não podem ser celebrados? ou a ditadura comunista é boa???