June Anderson, no Metropolitan
Terá sido Verdi um precursor do Diálogo de Civilizações? Na sua ópera I Lombardi alla Prima Crociata, o génio de Bussetto verbera o ataque dos Cruzadas contra os muçulmanos, pondo na boca de Giselda estas palavras: "Não, não! Derramar sobre a terra o sangue dos homens não pode significar servir a causa justa do Senhor! É uma torpe loucura e não um sentimento piedoso que vos desperta para o ouro dos muçulmanos! Não é essa a palavra do Céu. Não, não, Deus não o quer!" (Acto II, Cena 3).
A primeira Cruzada fora convocada em 1095 pelo papa Urbano II para combater os "infiéis", o que na gíria da época, e até recentemente, significava os muçulmanos, que se tinham apossado de Jerusalém, anteriormente pertença do Império Bizantino. Como é evidente, os Cruzados movimentaram-se mais por razões materiais do que religiosas, mas as Cruzadas (que foram nove) cavaram um fosso nas relações entre cristãos e muçulmanos, que ainda hoje perdura, apesar de esforços realizados por ambas as partes nos últimos anos.
É curioso notar que Verdi, e o seu libretista Temistocle Solera, se empenharam em denunciar as atrocidades cristãs, não inferiores às islâmicas, embora a ópera termine com a "conversão" e morte de Oronte, um muçulmano, para não chocar demasiado os piedosos (ou não tanto) espectadores da época, que assistiram à estreia em Milão, em 1843. A música evoca em alguns momentos os acordes do Nabucco, apresentado no ano anterior.
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