terça-feira, 2 de abril de 2019

NAPOLEÃO II



Edmond Rostand (1868-1918) publicou em 1900 a peça L'Aiglon, escrita propositadamente para Sarah Bernhardt, que interpretou, em travesti, a personagem de Napoleão II. O filho de Napoleão Bonaparte, que, ao nascer, fora proclamado rei de Roma por seu pai, após a abdicação deste foi enviado para a Corte de Viena e feito duque de Reichstadt pelo avô, o imperador Francisco II do Santo Império Romano-Germânico (depois Francisco I, da Áustria).  A peça foi estreada em 15 de Março de 1900 e constituiu um extraordinário sucesso, embora não tão grande como Cyrano de Bergerac, representada em 1897 e publicada em 1898, cujo êxito estrondoso fez a glória, e a fortuna, do autor.


Dramaturgo, poeta e ensaísta, Edmond Rostand publicara e fizera representar, anteriormente às obras citadas, algumas peças, duas das quais com especial sucesso (Les Musardises e Samaritaine). Mais tarde, obteria ainda assinalável êxito com Chantecler. Além da grande Sarah Bernhardt, Rostand teve como intérpretes dos seus dramas os melhores actores franceses da época.

Logo após a estreia de Cyrano de Bergerac, foi-lhe atribuída a Legião de Honra, e depois da apresentação de L'Aiglon, foi eleito para a Academia Francesa (1901), tornando-se o mais jovem dos seus membros.

De saúde débil, Edmond Rostand passou alguns períodos da sua vida retirado das actividades literárias e mundanas, vindo a morrer prematuramente, com 50 anos, vitimado pela gripe espanhola. Casado com a poetisa Rosemonde Gérard, foi pai do poeta e dramaturgo Maurice Rostand (um dos mais notórios homossexuais da sua época), a quem nos referimos neste post, e do biólogo e académico Jean Rostand.


Napoleão II nasceu em 20 de Março de 1811, no Palácio das Tulherias, em Paris, filho de Napoleão Bonaparte e da imperatriz Maria Luísa (arquiduquesa de Áustria) e morreu em 22 de Julho de 1832, no Palácio de Schönbrunn, em Viena, vítima de tuberculose, ainda que na altura tenham circulado rumores de que fora envenenado. Reinou, teoricamente, como imperador dos Franceses (sob a regência de Joseph Fouché) após a abdicação de seu pai, de 22 de Junho a 7 de Julho de 1815. Com a restauração dos Bourbon em França, foi enviado com a mãe para a Áustria, onde viveu o resto dos seus dias, virtualmente prisioneiro de seu avô, o imperador Francisco II (I). Foi sepultado, como os membros da família Habsburg, na cripta da Igreja dos Capuchinhos, em Viena. O corpo foi devolvido à França por Adolf Hitler, sendo colocado sob a cúpula dos Invalides, junto ao de seu pai Napoleão Bonaparte, em 15 de Dezembro de 1940, precisamente cem anos depois da trasladação dos restos mortais do Imperador, numa altura em que o país se encontrava sob ocupação alemã.


A peça em verso de Edmond Rostand estende-se por seis longos actos (a representação foi sempre efectuada com cortes), e decorre entre 1830 e 1832, tende por cenário um palácio em Baden (nos arredores de Viena), o campo onde se travou a batalha de Wagram, e o Palácio de Schönbrunn. A estreia de L'Aiglon foi o grande acontecimento teatral de 1900. Teve lugar no Théâtre Sarah Bernhardt, o antigo Théâtre de la Ville, e a grande Sarah, uma das maiores actrizes francesas de sempre, interpretou, já com 56 anos, o papel de Franz (como o duque de Reichstadt era tratado em Viena). Peça romântica e nacionalista, mais poética do que dramática, numa tradição já cultivada por Victor Hugo, despertou os fervores patrióticos dos franceses, tanto mais que estava ainda presente a derrota, em 1870, de Napoleão III na batalha de Sedan.

Célebre berço do Rei de Roma, que fotografei em Viena, no Hofburg

A morte de Napoleão II, em 1832, provocou grande consternação em França, ainda que não comparável ao verdadeiro sismo emocional causado pela morte de Napoleão Bonaparte em Santa Helena, em 1821, provavelmente envenenado pelos ingleses.

1 comentário:

Anónimo disse...

Os ainda não leitores da peça apreciariam um breve resumo do enredo. Quanto ao sucesso,já sabemos que dentro de cada francês há sempre um "soft spot" para o Grande Aventureiro, mesmo os mais racionalistas e republicanistas ou legitimistas monárquicos como o Chateaubriand. Quanto à morte,as conspirações sempre abundaram. Mas o próprio Napoleão se referiu a cancro no estômago,tal como o que vitimou o seu pai.E foi autopsiado por um médico corso,tal o escrúpulo britânico,já antevendo as conspirações médio-orientais e outras afins...