segunda-feira, 12 de setembro de 2016

OS COMANDOS




A morte de dois instruendos do Curso de Comandos e a hospitalização de mais alguns originou acesa controvérsia nos últimos dias.

Creio que não só o Exército como o Governo e o presidente da República actuaram com empenho e rapidez dentro da esfera das suas competências respectivas. Isto é, inteirando-se do estado dos doentes, solidarizando-se com as famílias dos falecidos e ordenando um inquérito às causas do infausto acontecimento. Aliás, o Ministério Público decidiu, também ele, abrir um inquérito.

Estou certo de que todos lamentamos o facto, mas as desgraças que sucedem neste mundo não devem toldar-nos o juízo e suscitar-nos propostas insensatas. Por isso, a pretensão do Bloco de Esquerda de extinguir a especialidade de Comandos afigura-se imprudente, para não a classificar de oportunismo político, o que suponho não seja, já que este tipo de declarações serve mais para lhe retirar apoios do que a carrear-lhe simpatias.

Em primeiro lugar, qualquer avanço sobre a matéria só seria pertinente após a conclusão dos inquéritos em curso; em segundo lugar, porque, independentemente do resultado dos inquéritos, estes
não se destinam a avaliar da necessidade da existência de determinado tipo de força militar.

Não se extingue uma organização porque um dia aconteceu uma desgraça. Estudam-se as causas para tentar impedir a sua repetição no futuro. Não passaria pela cabeça de alguém extinguir a Polícia porque um seu agente morreu no exercício das suas funções.

Estimo que o resultado dos inquéritos aponte uma, ou algumas das seguintes causas:

1) Inaptidão dos mancebos em causa para aquele tipo de treino militar, o que levará á conclusão de que as avaliações médicas não foram rigorosas;

2) Treino excessivo para a capacidade geral dos instruendos, o que levará a repensar as exigências do curso;

3) Não adequação dos exercícios a uma situação meteorológica anormal, o que implicará que os instrutores estejam permanentemente atentos à possibilidade de ocorreram variações extraordinárias das condições climatéricas;

4) Perturbações de saúde perfeitamente aleatórias, embora, neste caso, seja legítimo interrogar-nos se não seria demasiada coincidência.

É conhecido que o treino de Comandos é, sempre foi, exigente tendo em vista as suas potenciais missões e que a entrada na especialidade depende da vontade dos próprios, tanto mais que hoje em dia, lamentavelmente, já nem sequer existe o SMO (Serviço Militar Obrigatório). Logo, a adesão a esta força é um acto voluntário que apenas depende da vontade do interessado.

O Regimento, cujas origens remontam a 1962, foi extinto em 1993 (sendo primeiro-ministro Aníbal Cavaco Silva) e ressurgiu em 2002, como Centro de Tropas Comandos, com adaptações às novas circunstâncias bélicas. Não aconselha o bom senso que, por precipitação ou irreflexão, se voltasse a eliminar esta força especial do Exército.

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