Nelson Mandela, primeiro presidente negro da África du Sul, herói da liberdade e da tolerância, uma das grandes figuras do século XX, morreu ontem à noite em Joanesburgo.
Transcreve-se notícia do jornal "i":
«Nelson
Mandela morreu pacificamente às 20h50, menos duas horas em Lisboa, na
sua casa em Joanesburgo, África doSul. Mandela tinha 95 anos,
completados a 18 Julho, na sua casa, para onde foi levado em Setembro,
após quase três meses de internamento hospitalar em Pretória devido a
uma grave infecção pulmonar. O antigo prisioneiro número 46 664 da ilha
prisão de Roben Island agonizou corajosamente durante meses no seu
leito de morte, antes de ficar finalmente livre para entrar na
eternidade. O anúncio da morte de Mandela foi feito pelo presidente
sul-africano Jacob Zuma, vestido com uma camisa preta, num depoimento
para a televisão estatal: “A nossa nação perdeu o seu filho mais
importante”.
Zuma dirigiu-se aos sul-africanos referindo que “Mandela uniu-nos e é unidos que nos devemos despedir dele”. Apesar deste apelo à unidade, o internamento de Mandela esteve envolto num circo mediático montado junto ao hospital onde o ex-chefe de Estado esteve internado em Pretória e a presença oportunista de inúmeras personalidades políticas que rodeavam o paciente manteve-se quase até ao fim e passou mesmo para dentro da própria casa, com os herdeiros a digladiarem-se numa guerra suja pela partilha dos seus bens.
Mandela já não se terá apercebido desta luta travada pelos descendentes do seu primeiro casamento, filhas e netos, e destes contra a sua última mulher, Graça Machel, o foco principal do ódio e ressentimento dos herdeiros de Mandela.
Duas de três filhas de Mandela, no total teve seis filhos de três casamentos, Makaziwe e Zenani, intentaram uma acção judicial contra um grupo de advogados nomeados pelo pai para dirigirem duas empresas cujo objectivo é acumular dinheiro para os seus herdeiros. De forma intencional, Mandela decidiu não permitir que a família exercesse o controlo destas e de outras empresas patrimoniais. No entanto, duas irmãs, apoiadas por outros membros da família, tentam por todos os meios, e contra os desejos expressos pelo pai, obter o controlo das referidas empresas.
As filhas do Prémio Nobel da Paz e primeiro presidente negro da História sul-africana recorreram aos tribunais pedindo acesso a uma parte da sua fortuna pessoal. Madiba havia-lhes negado tal direito em 2008, quando despediu um advogado que alegadamente facilitava o acesso das suas contas às filhas, substituindo-o na condução da fundação com o seu nome por dois homens de confiança, o advogado George Bizos e Tokyo Sexwale, actual membro do governo.
Enquanto os herdeiros aguardavam avidamente o momento das partilhas, durante algum tempo houve discussões públicas sobre a decisão de desligar os aparelhos vitais que mantinham vivo o pai da pátria. Desde logo, o governo quis capitalizar o efeito político Mandela e sempre temeu distúrbios após o seu desaparecimento.
Muitos sul-africanos defenderam logo que Madiba foi internado que tinha chegado a hora da nação se preparar para o deixar partir em paz, enquanto alguns membros da sua família eram fortemente criticados por se preocuparem exclusivamente com a partilha do seu património. “As pessoas estão profundamente perturbadas com a mesquinhez de alguns dos seus familiares”, denunciou, em certa altura, a professora Sarah Nutall ao jornal Today. “Ao contrário de Martin Luther King e de Gandhi, ele não foi assassinado. Deveríamos ter-lhe dado a oportunidade de morrer em paz”, sublinhou. Os políticos do CongressoNacional Africano (ANC) no poder sempre temeram que Mandela desaparecesse antes das eleições de 2014, com receio de que isso pudesse ter algum impacto negativo no resultado eleitoral. Mandela congregava tudo e todos. Muitos dos seus familiares e líderes de variadas procedências viviam praticamente à sombra do seu legado. Talvez isso fosse resultado do verdadeiro passe de mágica que realizou quando, em 1994, juntou no novo hino nacional duas músicas estruturalmente antagónicas: o hino nacional da África do Sul do apartheid, The Call (O apelo) e o do ANC, Nkosi Sikelel Africa, (Deus Abençoe África) para criar uma nova harmonia musical e racial.
O país do arco-íris, um conceito inventado pelo arcebispo Desmond Tutu, ainda é hoje uma miragem, numa certa África do Sul mergulhada na violência e na corrupção, mas é um sonho de Mandela e, como todos os sonhos, é passível de se realizar, desde que os homens o queiram.
Hoje, o novo dia na África do Sul será de dor e tristeza profunda marcado pela certeza absoluta da incapacidade de se conseguir encontrar uma referência nacional com a grandeza humana de Mandela. Para os sul-africanos, e para o mundo, resta o privilégio de se ter podido conhecer um ser humano excepcional.
Graça Machel, viúva pela segunda vez de um presidente da República, deve ter-se sentido a pessoa mais infeliz do mundo, com a perseguição que as filhas e um dos netos de Mandela sempre lhe moveram, chegando mesmo a questionar a legitimidade do seu casamento.
Winnie e Graça Machel. Duas mulheres marcantes na vida de Mandela
Sob o título “A vigília de amor de Graça”, o semanário “City Press” de Joanesburgo destacou na primeira página, na sua peça principal, o amor e dedicação de Graça Machel ao ex-presidente Nelson Mandela, que ontem morreu. À semelhança de outros artigos, publicados na imprensa sul-africana durante a prolongada doença, a peça fala não só do amor incondicional que Graça Machel tem dedicado a Madiba, mas também da dignidade pela qual a activista moçambicana tem pautado as suas acções desde que o marido ficou doente. Em contraste, a comunicação social, amigos e um número crescente de sul-africanos anónimos têm condenado em uníssono acções de membros da família de Mandela, que esgrimiram em tribunal argumentos sobre quem tem direito a ditar o local onde Madiba seria sepultado.
“A África do Sul tem para com Graça Machel uma tremenda dívida de gratidão pela alegria que ela deu à sua vida desde o seu casamento”, disse ao “City Press” o arcebispo Desmond Tutu. Nelson Mandela e Graça Machel casaram-se há 15 anos.
Ao contrário de Graça, mas reverenciada por milhões de pessoas nas cidades negras pobres e chamada de “Mãe da Nação”, Winnie foi uma das vozes que se insurgiu contra o poder. Defensora da prática do pneu a arder no pescoço dos adversários, disse um dia: “Com os nossos fósforos e pneus libertaremos este país”.
Também foi acusada de rapto e assassinato do activista Stompie Moekesti, de 14 anos, e membro do ANC. Alegações de violência envolvendo membros do Clube de Futebol Mandela United, que agiam como seu corpo de guarda e exército privado no Soweto, continuam recorrentes. Winnie desmente as acusações, mas as suspeitas sobre si persistem. Winnie diz frequentemente que o ANC falhou na resolução dos problemas da maioria negra e prevê um futuro negro se nada melhor for feito para os pobres.
“A vida de primeira-dama não me serviria”, disse Winnie. “E nem sei o que faria como dona de casa”, afirmou um dia. Hoje, Winnie faz parte da direcção política do ANC.»
Zuma dirigiu-se aos sul-africanos referindo que “Mandela uniu-nos e é unidos que nos devemos despedir dele”. Apesar deste apelo à unidade, o internamento de Mandela esteve envolto num circo mediático montado junto ao hospital onde o ex-chefe de Estado esteve internado em Pretória e a presença oportunista de inúmeras personalidades políticas que rodeavam o paciente manteve-se quase até ao fim e passou mesmo para dentro da própria casa, com os herdeiros a digladiarem-se numa guerra suja pela partilha dos seus bens.
Mandela já não se terá apercebido desta luta travada pelos descendentes do seu primeiro casamento, filhas e netos, e destes contra a sua última mulher, Graça Machel, o foco principal do ódio e ressentimento dos herdeiros de Mandela.
Duas de três filhas de Mandela, no total teve seis filhos de três casamentos, Makaziwe e Zenani, intentaram uma acção judicial contra um grupo de advogados nomeados pelo pai para dirigirem duas empresas cujo objectivo é acumular dinheiro para os seus herdeiros. De forma intencional, Mandela decidiu não permitir que a família exercesse o controlo destas e de outras empresas patrimoniais. No entanto, duas irmãs, apoiadas por outros membros da família, tentam por todos os meios, e contra os desejos expressos pelo pai, obter o controlo das referidas empresas.
As filhas do Prémio Nobel da Paz e primeiro presidente negro da História sul-africana recorreram aos tribunais pedindo acesso a uma parte da sua fortuna pessoal. Madiba havia-lhes negado tal direito em 2008, quando despediu um advogado que alegadamente facilitava o acesso das suas contas às filhas, substituindo-o na condução da fundação com o seu nome por dois homens de confiança, o advogado George Bizos e Tokyo Sexwale, actual membro do governo.
Enquanto os herdeiros aguardavam avidamente o momento das partilhas, durante algum tempo houve discussões públicas sobre a decisão de desligar os aparelhos vitais que mantinham vivo o pai da pátria. Desde logo, o governo quis capitalizar o efeito político Mandela e sempre temeu distúrbios após o seu desaparecimento.
Muitos sul-africanos defenderam logo que Madiba foi internado que tinha chegado a hora da nação se preparar para o deixar partir em paz, enquanto alguns membros da sua família eram fortemente criticados por se preocuparem exclusivamente com a partilha do seu património. “As pessoas estão profundamente perturbadas com a mesquinhez de alguns dos seus familiares”, denunciou, em certa altura, a professora Sarah Nutall ao jornal Today. “Ao contrário de Martin Luther King e de Gandhi, ele não foi assassinado. Deveríamos ter-lhe dado a oportunidade de morrer em paz”, sublinhou. Os políticos do CongressoNacional Africano (ANC) no poder sempre temeram que Mandela desaparecesse antes das eleições de 2014, com receio de que isso pudesse ter algum impacto negativo no resultado eleitoral. Mandela congregava tudo e todos. Muitos dos seus familiares e líderes de variadas procedências viviam praticamente à sombra do seu legado. Talvez isso fosse resultado do verdadeiro passe de mágica que realizou quando, em 1994, juntou no novo hino nacional duas músicas estruturalmente antagónicas: o hino nacional da África do Sul do apartheid, The Call (O apelo) e o do ANC, Nkosi Sikelel Africa, (Deus Abençoe África) para criar uma nova harmonia musical e racial.
O país do arco-íris, um conceito inventado pelo arcebispo Desmond Tutu, ainda é hoje uma miragem, numa certa África do Sul mergulhada na violência e na corrupção, mas é um sonho de Mandela e, como todos os sonhos, é passível de se realizar, desde que os homens o queiram.
Hoje, o novo dia na África do Sul será de dor e tristeza profunda marcado pela certeza absoluta da incapacidade de se conseguir encontrar uma referência nacional com a grandeza humana de Mandela. Para os sul-africanos, e para o mundo, resta o privilégio de se ter podido conhecer um ser humano excepcional.
Graça Machel, viúva pela segunda vez de um presidente da República, deve ter-se sentido a pessoa mais infeliz do mundo, com a perseguição que as filhas e um dos netos de Mandela sempre lhe moveram, chegando mesmo a questionar a legitimidade do seu casamento.
Winnie e Graça Machel. Duas mulheres marcantes na vida de Mandela
Sob o título “A vigília de amor de Graça”, o semanário “City Press” de Joanesburgo destacou na primeira página, na sua peça principal, o amor e dedicação de Graça Machel ao ex-presidente Nelson Mandela, que ontem morreu. À semelhança de outros artigos, publicados na imprensa sul-africana durante a prolongada doença, a peça fala não só do amor incondicional que Graça Machel tem dedicado a Madiba, mas também da dignidade pela qual a activista moçambicana tem pautado as suas acções desde que o marido ficou doente. Em contraste, a comunicação social, amigos e um número crescente de sul-africanos anónimos têm condenado em uníssono acções de membros da família de Mandela, que esgrimiram em tribunal argumentos sobre quem tem direito a ditar o local onde Madiba seria sepultado.
“A África do Sul tem para com Graça Machel uma tremenda dívida de gratidão pela alegria que ela deu à sua vida desde o seu casamento”, disse ao “City Press” o arcebispo Desmond Tutu. Nelson Mandela e Graça Machel casaram-se há 15 anos.
Ao contrário de Graça, mas reverenciada por milhões de pessoas nas cidades negras pobres e chamada de “Mãe da Nação”, Winnie foi uma das vozes que se insurgiu contra o poder. Defensora da prática do pneu a arder no pescoço dos adversários, disse um dia: “Com os nossos fósforos e pneus libertaremos este país”.
Também foi acusada de rapto e assassinato do activista Stompie Moekesti, de 14 anos, e membro do ANC. Alegações de violência envolvendo membros do Clube de Futebol Mandela United, que agiam como seu corpo de guarda e exército privado no Soweto, continuam recorrentes. Winnie desmente as acusações, mas as suspeitas sobre si persistem. Winnie diz frequentemente que o ANC falhou na resolução dos problemas da maioria negra e prevê um futuro negro se nada melhor for feito para os pobres.
“A vida de primeira-dama não me serviria”, disse Winnie. “E nem sei o que faria como dona de casa”, afirmou um dia. Hoje, Winnie faz parte da direcção política do ANC.»
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